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Protestos na Nicarágua contra Ortega terminam com quatro mortos

Duas vítimas fatais são estudantes e uma é policial, segundo o Governo

Carlos S. Maldonado
Manifestantes se protegem durante os protestos na Universidade Agrária de Manágua.
Manifestantes se protegem durante os protestos na Universidade Agrária de Manágua.OSWALDO RIVAS (REUTERS)

Ao menos quatro pessoas morreram, entre elas um policial e dois estudantes, durante o terceiro dia de protestos em Manágua contra as reformas da previdência social impostas por decreto pelo presidente Daniel Ortega. As manifestações foram combatidas nas ruas pela polícia do país e por forças irregulares de civis. Há dezenas de feridos. Enquanto isso, o Governo censurou três canais de televisão enquanto Ortega continua sem se pronunciar depois de três dias de duríssimos protestos em todo o país.

Ortega endureceu a repressão contra centenas de manifestantes que se opõem à mudança no sistema de pensões (a contribuição dos empregadores e dos trabalhadores aumentou e foi criada uma contribuição de 5% para os aposentados). O Governo - liderado pela vice-presidenta e esposa de Ortega, Rosario Murillo - convocou seus simpatizantes para se manifestarem na capital em uma demonstração de força.

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Manágua era uma cidade sitiada pela Polícia Nacional e pelas hostes da Frente Sandinista. Várias lojas fecharam suas portas e as empresas interromperam o trabalho, enquanto novas manifestações eram anunciadas em Granada - a 45 quilômetros de Manágua -, Estelí - localizada no norte do país e famoso bastião do sandinismo - e outras cidades na região central da Nicarágua.

O policial morto foi identificado como Jilton Rafael Manzanares, de 38 anos, vítima de um tiro de escopeta nas proximidades da Universidade Politécnica da Nicarágua (Upoli) segundo detalhou a porta-voz da Polícia Nacional, Vilma González, em uma entrevista coletiva. No mesmo campus morreram dois jovens, um identificado como Darwin Urbina pelos meios de comunicação oficiais, e outro cuja identidade ainda é desconhecida, de acordo com informações preliminares. A quarta vítima fatal foi identificada como Richard Edmundo Pavón Bermúdez, um estudante do ensino médio que foi assassinado no município de Tipitapa, vizinho de Manágua, segundo a Polícia Nacional.

Na quinta-feira Ortega decidiu censurar as duas principais emissoras de televisão independentes no país, tirando-as do ar, bem como um canal da Conferência Episcopal da Nicarágua. Diante da censura oficial, os nicaraguenses foram às redes sociais para obter informações e convocar manifestações.

O presidente Ortega não se manifestou sobre os graves distúrbios que afetam o país. Foi sua esposa, a vice-presidenta Rosario Murillo, que enfrentou a crise. Murillo qualificou os manifestantes de “minúsculos grupos que promovem o ódio” e “medíocres”, desejando-lhes um “castigo divino”. As imagens divulgadas pelas redes sociais, no entanto, mostraram milhares de nicaraguenses protestando nas principais cidades do país.

Em Granada, uma cidade colonial localizada a 45 quilômetros de Manágua, os manifestantes baixaram a bandeira vermelha e preta da Frente Sandinista da Praça de Armas, em um ato carregado de simbolismo nesse país onde Ortega governou durante onze anos praticamente sem oposição e com controle total do Estado.

Na noite de quinta-feira centenas de moradores da capital saíram de suas casas batendo panelas em protesto contra o Governo, enquanto em Matagalpa, no norte do país, dezenas de pessoas ocuparam a praça central da cidade. As manifestações também aconteceram em Esteli, bastião do sandinismo, e em Masaya, onde no bairro de Monimbó, simbólico por sua resistência à ditadura de Somoza, barricadas foram erguidas.

As principais câmaras empresariais do país repudiaram a repressão contra a população e a censura aos meios de comunicação independentes. A Câmara Mineira da Nicarágua exigiu do Governo por meio de um comunicado que “garanta o direito dos cidadãos de expressar pública e livremente suas opiniões”, enquanto advertiu que as reformas impostas à Previdência Social “colocam em risco a estabilidade da nação”.

Por sua vez, o Instituto Nicaraguense de Desenvolvimento (INDE), que reúne importantes organismos do setor privado, exigiu respeito “ao direito à livre mobilização e irrestrita liberdade de expressão”. O Conselho Superior da Empresa Privada, a principal câmara empresarial do país, pediu “diálogo” ao Governo e exigiu respeito à “plena liberdade de informação”.

O setor privado marcou distância das reformas impostas por Ortega ao Sistema de Previdência Social, que desencadearam o descontentamento popular. Na quinta-feira mantinha-se a convocação de novas manifestações e nesta sexta-feira são esperados protestos na região do Caribe, onde milhares de camponeses se opõem ao Governo de Ortega depois da entrega da concessão ao empresário chinês Wang Jing para a construção um Canal Interoceânico, um projeto que está paralisado e é visto como ameaça a milhares de famílias da região. O presidente, no entanto, permanece em silêncio diante de um país mobilizado.

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