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A independência festiva de Neymar no Brasil, uma dor de cabeça para o PSG

Dentro do clube acredita-se que o jogador, que se recusou a voltar para Paris, está preparando o terreno para negociar sua saída. A cláusula de liberação entra em vigor em 1º de setembro

Neymar, durante um ato publicitário, no Brasil. Em vídeo, o jogador fala sobre sua volta.Vídeo: NELSON ALMEIDA (AFP) / REUTERS-QUALITY
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O principal objetivo da visita que a cúpula do Paris Saint-Germain fez a Neymar em 13 de março nunca se cumpriu. O presidente Nasser Al-Khelaifi, acompanhado do diretor esportivo Antero Henrique e do diretor de comunicação Jean-Martial Ribes, visitou o jogador em sua mansão em Mangaratiba para persuadi-lo a acabar com os boatos de que estaria fora do clube na próxima temporada, por isso era conveniente, disseram-lhe, retornar a Paris para completar a recuperação da fratura do quinto metatarso do pé direito. O “não” de Neymar foi categórico. Como se não quisesse criar falsas expectativas em seus interlocutores, contam um alto funcionário e um assessor do clube francês. O efeito em seus visitantes foi devastador.

Al-Khelaifi voltou da viagem com um forte sentimento de derrota. Desde então, Neymar, 26 anos, não só não pisou em Paris, como também não parou de publicar nas redes sociais fotos e mensagens desafiadoras, gabando-se de sua autonomia festiva e da indiferença geral para a empresa que lhe paga mais de 40 milhões de euros (160 milhões de reais) líquidos por ano.

A comemoração do título da Ligue 1, no último domingo, não dissipou a atmosfera de preocupação que pesa sobre a sede do clube em Boulogne. “A única coisa que falta é Neymar comunicar que quer sair”, diz uma pessoa vinculada ao PSG há décadas, especialista na indústria do futebol e certo de que pode interpretar claramente os sinais enviados pela estrela. Essa mesma fonte observa que, se Neymar quiser jogar em outro time na próxima temporada, deve deixar o PSG antes de 1º de setembro, data de encerramento do mercado de verão. Para isso, deverá negociar com a família Al-Thani, governantes do Catar, proprietários do PSG e, por extensão, dos direitos federativos de todo o quadro de funcionários.

Até 1º de setembro, Neymar só pode quebrar seu contrato com o consentimento do PSG. A partir dessa data, segundo fontes do clube, as condições estão relaxadas. Os advogados de Neymar e do PSG selaram um acordo por meio do qual a relação poderia ser resolvida com mais facilidade na medida em que o futebolista não obtivesse os resultados desportivos perseguidos. Tanto coletivos quanto individuais. Na prática, essa fórmula teria um efeito semelhante ao produzido na Espanha pelas chamadas cláusulas de rescisão. Mas PSG e Ligue 1 oficialmente negam que haja uma cláusula de rescisão, porque é uma figura legal expressamente proibida no futebol francês. CEO Ligue 1, Didier Quillot disse a este jornal que não existe tal cláusula, pelo menos no contrato que o PSG registrou na sede.

"Na França, não há possibilidade de introduzir cláusulas de rescisão nos contratos dos jogadores de futebol", diz Quillot; "No contrato entre Neymar e o PSG registrado na Liga não há nenhuma cláusula que permita a rescisão unilateral da ligação, caso o clube e o jogador assinem um contrato particular para atingir esse objetivo, também seria um contrato ilegal ".

Ganhar a Liga dos Campeões, ganhar a Bola de Ouro, ganhar o título de melhor jogador do ano da FIFA, ou ficar nas primeiras posições dessas competições são objetivos que encareceriam a saída de Neymar do PSG a partir de 1º de setembro. O montante da cláusula, de qualquer maneira, não será inferior a 300 milhões de euros. Foi o que se estipulou por desejo expresso do pai e dos advogados do jogador, que só concordou em assinar o acordo de transferência do Barça para o PSG em agosto passado, contanto que lhe garantissem um projeto esportivo vencedor. A Ligue 1 não era o tipo de troféu que consideravam exatamente estimulante.

Al-Khelaifi, que no verão de 2017 descartou a contratação de Cristiano Ronaldo em favor de Neymar, veio para o Brasil como quem arrisca o cargo. Quando transmitiu ao jogador seu desejo de visitá-lo, a resposta do anfitrião, longe de refletir o esperado entusiasmo, foi seca. Abnegado, o dirigente não se intimidou. Viajou e, uma vez lá, fez tudo o que podia para convencer Neymar de que seria melhor voltar. Fontes do clube disseram que o fundo soberano do Catar injetou “uma fortuna” no Instituto Projeto Neymar Junior, a fundação social sediada em Praia Grande que abriga 2.500 crianças carentes em idade escolar.

A publicação do vídeo em que aparece dançando em uma perna durante o famoso aniversário de sua irmã, foi o mais explícito de uma série de sinais que não param de alarmar os funcionários da instituição parisiense. No domingo passado, dia em que o PSG comemorou o título depois de vencer o Monaco (7-1), Neymar publicou imagens em que aparece jogando poker online. Terminada a partida, na segunda-feira, postou uma mensagem para seus companheiros: “Parabéns rapaziada!!!! ALLEZ PARIS”. A emenda morna não impediu a onda de críticas. O campeão mundial Christophe Dugarry, diretor do Team Duga, um dos programas mais populares do futebol francês, na Radio Montecarlo, saiu à frente: “Neymar cuspiu no clube; seria melhor devolvê-lo ao Barça “.

Nesta quarta-feira, quando o PSG disputou a semifinal da Copa, o brasileiro respondeu com mais um vídeo no Instagram. A gravação mostra Neymar durante uma peculiar sessão de pôquer e fisioterapia, enquanto, em uma tela de televisão distante, se vê o jogo do PSG contra o Caen.

O jogador de maior destaque do Brasil afirmou que espera receber alta em 17 de maio, quatro dias antes do início da concentração de seu time para a Copa do Mundo na Rússia. Não terá tempo de participar da última partida do PSG na temporada, a última data da Ligue 1, marcada para 19 de maio em Caen.

Neymar reclamou do clima sombrio e úmido da capital francesa. “Disseram a ele que na primavera o clima muda, a temperatura sobe e Paris se torna a melhor cidade do mundo”, contam fontes do clube como exemplo dos extremos a que chegou a delegação presidida por Al-Khelaifi em Mangaratiba na tentativa de convencer o rapaz.

“Ele voltará daqui a duas ou três semanas”, disse Unai Emery, seu treinador, em 30 de março.

Como não comparecerá nesta segunda-feira, estará fora do prazo.

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