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Próxima Centauri: explosão luminosa sacode o exoplaneta mais próximo da Terra

Anã vermelha multiplicou seu brilho por 70 e ficou visível para nós a olho nu

Nuño Domínguez
Uma fulguração do Sol captada em abril de 2016
Uma fulguração do Sol captada em abril de 2016NASA
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Há pouco menos de dois anos foi anunciada a descoberta de Próxima b, um planeta do tamanho da Terra situado a uma distância da sua estrela que lhe permitiria abrigar água em estado líquido. Era o exoplaneta mais próximo, a uma distância de 4,5 anos luz. Depois da descoberta foram anunciadas as primeiras missões interestelares da história – uma delas planejada pela NASA –, que teriam Próxima como destino.

Agora, um estudo feito por astrônomos dos EUA e da Espanha revela que em março de 2016 essa estrela emitiu uma potente explosão luminosa que multiplicou seu brilho em quase 70 vezes. As anãs vermelhas como Próxima Centauri são muito tênues para serem vistas a olho nu no céu noturno, mas esta superfulguração foi tão poderosa que o astro se tornou visível no Hemisfério Sul da Terra “durante alguns segundos”, segundo Octavi Fors, pesquisador do Instituto de Ciências do Cosmos de Barcelona e coautor do estudo, publicado no site arvix.org, da Universidade Cornell.

Esse lampejo foi o mais potente já captado nessa estrela e o primeiro visível do nosso planeta sem a ajuda de instrumentos ópticos. Durou 20 minutos e foi captado pelo telescópio Evryscope, no Chile. Desde então, esse instrumento já observou outras 23 fulgurações. Baseando-se nesses eventos, os autores do estudo calculam que Próxima Centauri emite cinco superfulgurações por ano, com o impacto que isso representa para o seu exoplaneta, que está 20 vezes mais perto da estrela que a Terra do Sol.

O instrumento usado só pode medir a luz emitida por esses eventos, mas é provável que estes sejam acompanhados por ejeções de massa da estrela similares às observadas no Sol, embora mais potentes. Essas explosões geram uma intensa radiação ultravioleta e um bombardeio de prótons que inicia uma cadeia de reações fotoquímicas que podem acabar varrendo compostos essenciais para a vida da atmosfera do planeta.

O estudo calcula que as fulgurações de Próxima Centauri são tão frequentes e intensas a ponto de destruírem 90% de todo o ozônio da atmosfera do planeta em apenas cinco anos e eliminá-lo por completo em poucas centenas de milhares de anos, um tempo relativamente curto quando se leva em conta que o planeta provavelmente se formou há bilhões de anos. Na Terra, a presença desse gás é essencial para bloquear a radiação ultravioleta do Sol, especialmente a do tipo C, tão letal para bactérias, vírus e outros micróbios que é usada para esterilizar material médico.

“Este estudo ressalta como sabemos pouco sobre o sistema planetário mais próximo do nosso.”

Em fevereiro deste ano, outra equipe detectou uma superfulguração em Próxima Centauri 10 vezes mais intensa do que qualquer uma já observada no Sol. Esse comportamento tão violento das anãs vermelhas obriga a redefinir o que é a zona habitável de um exoplaneta, pois, apesar de estar à distância apropriada de um astro, as emanações das anãs vermelhas podem fazer com que o oxigênio, o hidrogênio e outros compostos essenciais para formar água e sustentar vida sejam eliminados da atmosfera através de processos similares aos observados em Próxima Centauri.

A radiação ultravioleta na superfície de Próxima b é 100 vezes maior do que a suportável pela maioria dos micróbios terrestres, aponta o estudo recém-publicado. “Em Próxima b, a vida tal como a conhecemos na Terra não poderia ter se desenvolvido, pois os níveis de radiação ultravioleta são muito altos devido à falta de ozônio. Os seres multicelulares, incluindo os vertebrados, sofreriam muitos danos no DNA e queimaduras para sobreviver na superfície”, analisa Fors. “Por isso observamos que a habitabilidade desse planeta é bastante restrita, ao menos na superfície, mas não podemos fechar totalmente a porta, pois a vida é muito regulável”, acrescenta Fors. Mas há um dado que motiva esperança: a Deinococcus radiodurans, a bactéria mais resistente à radiação ultravioleta da Terra, poderia sobreviver a superfulguração de Próxima Centauri, segundo o trabalho.

“Este estudo é fascinante porque ressalta como sabemos pouco sobre o sistema planetário mais próximo do nosso”, opina Meredith MacGregor, astrônoma da Instituição Carnegie para a Ciência (EUA) e coautora do estudo sobre a labareda de Próxima Centauri captada neste ano. “Como Próxima b não parece transitar em frente à sua estrela, ainda não sabemos se contém água, atmosfera ou campo magnético, elementos que poderiam proteger a superfície dos perigos da radiação de altas energias. Os novos telescópios gigantes que estão sendo construídos, como o Magallanes e o E-ELT, poderiam obter imagens diretas do planeta, e o Telescópio Espacial James Webb pode nos dizer antes se Próxima b tem uma atmosfera. Embora os prognósticos de que haja vida sejam bastante obscuros, Próxima b continua sendo o sistema planetário mais próximo, então se realmente queremos tornar realidade uma viagem interestelar este continua sendo o destino mais realista”, acrescenta MacGregor.

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