_
_
_
_

Com o produtor de ‘Narcos’ e mais de cem personagens: assim Netflix contará a Lava Jato

José Padilha, criador de ‘Narcos’, dirige ‘O Mecanismo’, série inspirada na maior operação contra a corrupção da história do Brasil

Cena de 'O Processo'
Cena de 'O Processo'
María Martín

Os porões dos gabinetes de políticos, empresários e lobistas brasileiros são a nova aposta da Netflix, que lança no 23 de março O Mecanismo. A nova série do brasileiro José Padilha, diretor de Narcos, bebe do turbulento noticiário brasileiro, mas reflete a sede de poder e dinheiro em quase qualquer país do mundo.

Mais informações
‘La Casa de Papel’, a série espanhola na Netflix que conquistou Neymar e os foliões brasileiros
‘The Crown’, ventos de mudança dentro e fora de Buckingham
David Fincher: “Não é necessário contratar estrelas, podemos criar algumas novas”

O Mecanismo se inspira na Operação Lava Jato, a investida policial e judicial contra a maior trama de corrupção do Brasil cujos tentáculos chegaram a, pelo menos, 12 países. O roteiro, nas mãos de Elena Soarez, narra a luta hercúlea de dois policiais federais para desmascarar um enorme esquema de corrupção que comprava, com malas de dinheiro, desde leis até partidos políticos inteiros. Mas a série irá além da Lava Jato. “A corrupção é uma característica inerente ao ser humano, pode ser vista no mundo inteiro”, alertam os criadores. A série terá um presidente, um ex-presidente, deputados, policiais, promotores e lobistas, mas a intenção é desfigurá-los. “Não serão reconhecíveis. É como se a história ocorresse em um país longínquo de outra galáxia”, diz Marcos Prado, um dos três diretores que trabalham junto com Padilha.

Nessa trama policial há especial interesse em retratar a obsessão. A dos que exercem o poder e querem ainda mais, e a dos próprios investigadores por resolver o caso. O Mecanismo tem mais de cem personagens, porém um trio domina a história. Ruffo (Selton Mello) encarna um policial federal – real, mas desconhecido do público – que foi expulso da corporação e vive obcecado com sua luta. “É um anti-herói na mesma linha de Don Draper (Mad Men), Toni Soprano (The Sopranos) e Walter White (Breaking Bad)”, diz Mello. Sua pupila Verena (Carol Abras), criada em um mundo de homens, é o aceno feminista da série: não só é uma investigadora obstinada lidando com sérios problemas pessoais, como também é a responsável pela operação. “Nestes tempos me parece fundamental ter uma mulher liderando”, diz Abras.

O principal alvo dos dois policiais é Ibrahim (Enrique Díaz), um facilitador, atraído pelo poder do dinheiro, que se movimenta perfeitamente nos porões do sistema. Ibrahim vê com total naturalidade o mecanismo de corrupção de que participa, enquanto mantém uma vida familiar exemplar. Será seu carismático personagem, pai e marido amoroso, que explicará o mecanismo e fará o espectador questionar a inversão de valores de uma sociedade corrupta. “A sociedade vive nesse tipo de acordo, a atitude de meu personagem é terrível, mas ele viveu a vida toda nesse sistema”, diz o ator.

A aposta de Padilha, a quem a Netflix, depois do sucesso de Narcos, pediu uma série sobre o Brasil, é polêmica. A Operação Lava Jato desperta paixões entre os defensores de limpar a sujeira da política brasileira, os que a acusam de promover perseguições e abusos policiais e judiciais e os que, diretamente, querem enterrá-la antes que chegue a seus gabinetes. “Estamos cansados dessa batalha monocromática. Dramaturgicamente falando, a complexidade dos personagens é mais interessante que repetir as notícias. Não se trata de medo de se comprometer com a história, Padilha nunca teve medo de gerar polêmica”, defende o diretor Marcos Prado. “Não precisamos de um ponto de vista, mas de uma história que nos provoque e nos faça pensar além de entreter”, completa Diaz.

A trama real em que se sustenta a série também é um desafio para qualquer roteirista. A operação ainda não acabou e desde seu início, em março de 2014, os brasileiros se acostumaram a novidades quase diárias que deixam o roteiro da série norte-americana House of Cards parecendo uma brincadeira de criança: no marco da Operação Lava Jato houve até um acidente de avião que matou o juiz do Supremo Tribunal Federal que examinava as denúncias contra alguns dos mais famosos suspeitos de corrupção. “O foco da série é o começo da operação, não abordamos toda a sua amplitude, então não existiu esse problema de roteiro. Nossa história termina em 2014, o que abre o caminho para novas temporadas”, diz Felipe Prado, outro dos diretores.

Por enquanto, ninguém se aventura a confirmar se haverá uma segunda temporada. Dependerá do sucesso dos oito primeiros episódios, que poderão ser vistos em 190 países. O mecanismo que a Lava Jato persegue é imprevisível. Tanto na ficção como na vida real.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_