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Preconceitos nos levam a excluir quem não se encaixa em nosso esquema mental. Empresas buscam combatê-los ensinando funcionários a eliminar vieses nas decisões
Os paulistanos lhe inspiram mais confiança que os cariocas, ou vice-versa? Você preferiria dar emprego a uma pessoa magra em vez de a um obeso? Tem certeza das respostas? Convenhamos: somos subjetivos. Podemos nos encher de mil e uma justificativas, mas, na verdade, na maior parte das vezes nos guiamos por critérios inconscientes. Esses vieses nos levam a tomar decisões sem fundamento – como considerar que os homens são mais qualificados que as mulheres para os cargos de direção, ou rejeitar alguém por sua condição sexual –, o que acaba sendo bastante perigoso para o indivíduo em particular, e para a sociedade em geral. Os preconceitos nos levam a excluir outras pessoas pelo simples fato de serem diferentes, de não se encaixarem em nossos esquemas. A psicologia científica ressalta a importância de entender as divergências entre o que a pessoa diz e o que ela realmente pensa, e nos últimos anos pesquisadores e empresas vêm promovendo projetos de sensibilização para valorizar as diferenças.
Um dos pioneiros foi o Project Implicit, uma iniciativa desenvolvida por psicólogos de universidades prestigiosas, como a norte-americana Harvard, que conta com um dos mais curiosos testes sobre os vieses. Permite averiguar, em menos de 10 minutos, se temos certas preferências com relação a sexo, raça, origem nacional, peso e idade – aliás, o teste é grátis e está disponível em português. O Project Implicit nasceu com um objetivo ambicioso: “Reduzir qualquer discriminação”, diz o pesquisador Gabriel Dorantes, responsável pelo setor hispânico desse laboratório de ideias.
Os preconceitos têm uma origem biológica. Nossos ancestrais precisavam reagir rapidamente ao perigo do desconhecido
Os preconceitos têm uma origem biológica: precisamos de rapidez para reagir ao perigo. Nossos ancestrais tinham que fazer isso velozmente e sem tempo de reflexão. Seu pensamento poderia ser resumido da seguinte forma: predador = perigo = corra. Embora hoje em dia não convivamos com animais selvagens, o mecanismo de associação rápida continua sendo ativado perante esse medo do desconhecido, que nos leva a marginalizarmos o outro por seu aspecto diferente. Além disso, os vieses são maiores quanto maior for o nosso desconhecimento e, em vez de nos apressarmos em generalizar, devemos estar conscientes de que só chegamos a conhecer uma parte mínima da realidade. Se nossa mente fosse um computador, poderíamos dizer que o inconsciente é capaz de processar a informação que capta através dos sentidos a uma velocidade de 11 milhões de bits por segundo. Entretanto, sua capacidade consciente só processa 40 bits por segundo, o que significa que perde 99,9% da informação que recebe.
Os pensamentos arbitrários também interferem no trabalho, tanto na hora de decidir quem promover como qual produto lançar no mercado. Para ajudar os seus funcionários a entenderem e administrarem os preconceitos, o Google lançou em 2013 uma formação interna para toda a equipe a fim de “ajudá-la a refletir sobre seus vieses e convencê-la sobre a riqueza que a diversidade e a heterogeneidade oferecem”, afirma Javier Martín, diretor regional de Recursos Humanos da companhia de Mountain View. A Vodafone da Espanha é outro exemplo. Há alguns meses, os chefes frequentam cursos para aprenderem a evitar essas preferências e, consequentemente, tomarem decisões mais coerentes.
Definitivamente, os preconceitos podem nos pregar peças, porque nos impedem de valorizar a diferença. Mas, na medida em que saibamos reconhecê-los e desenvolvamos atitudes mais empáticas, poderemos amortizar seus efeitos. É possível e vale a pena, por justiça, por respeito e por crescimento pessoal.
Pilar Jericó é empresária especialista em recursos humanos e análise do talento.
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