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Jared Leto: o homem que vive em uma base militar da Guerra Fria

A estrela mais inclassificável de Hollywood nos recebe em seu bunker de Laurel Canyon. Tem 46 anos, nenhuma ruga e alma de visionário

Jared Leto posa em exclusiva para ICON - EL PAÍS
Jared Leto posa em exclusiva para ICON - EL PAÍSMichael Schwartz/Zoe Costello

Tem 46 anos, que não é ser um velho, mas o aspecto de Jared Leto vai além do que se entende por se manter jovem. De perto não tem um fio de cabelo branco, uma ruga. Aqui há um toque faustiano que nos escapa. “Realmente, se trata de fazer o que todos nós sabemos. Comer frutas e verduras, não tocar em junkie food e dormir bem. Eu me mantenho muito ativo, não bebo, não fumo e não uso drogas”. A resposta não satisfaz. A juventude de Leto chama tanto a atenção que isso, por mais que o diga comendo cajus, não pode ser tudo. Mas, enfim, existem outras coisas mais importantes para se falar.

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Por exemplo, que seu grupo, 30 Seconds to Mars (30STM), tem novo disco. Sobre o último documentário que ele dirigiu, sobre sua interpretação hipnótica em Blade Runner 2049, da apresentação que acaba de fazer com o artista chinês Ai Weiwei. Leto se empenhou em fazer com que ninguém o enquadrasse, e conseguiu. Seu personagem público é alguém “criativo”, assim, em geral, que se transforma em músico, ator, guru tecnológico e motivador profissional conforme a conversa evolui.

Comecemos pela música. Se isso for entendido no bom sentido, a 30STM é uma banda que soa como se estivesse constantemente defendendo a vigência daqueles grandiosos U2, o que não é nada mal como ambição. O grupo de Jared Leto e seu irmão Shannon é uma banda de estádios, sem complexos. Estádios e hinos rock.

Jared vai completar 20 anos com o grupo e atuando no cinema ao mesmo tempo, ainda que com longos parênteses. É difícil lembrar de alguém que tenha mantido essas duas disciplinas com sucesso durante tanto tempo. Talvez Frank Sinatra. Voltamos para quando ele tinha 10 ou 12 anos, descobrindo a música que o marcará para sempre. O que escutava? “Rock clássico”, responde. “Led Zeppelin, Doors, Who, Pink Floyd... Meu irmão gostava muito de heavy metal”. Depois, veio o U2, “uma grande inspiração”.

Em sua casa, Leto está de chinelos e meia. Jared mora, trabalha e recebe visitas em uma antiga base militar em Laurel Canyon (Califórnia), abandonada após a Guerra Fria. Se essa frase o intrigou o suficiente, faça uma busca. A história do lugar é ainda mais alucinante do que parece.

Já está há um quarto de século no mundo da interpretação, sempre mantendo essa imagem de outsider de Hollywood. Alguém que ainda não acredita, até mesmo com um Oscar em casa por seu papel de transexual em Clube de Compras Dallas. Dessa posição – com um pé dentro do sistema e a cabeça totalmente fora – diz que o cinema “é um lugar muito mais interessante do que era. É mais barato e fácil criar e distribuir”.

A entrevista ocorre no dia seguinte ao Globo de Ouro. Leto diz que não viu a cerimônia em que toda Hollywood vestida a rigor respaldou pela primeira vez o movimento contra o assédio sexual, algo que há pouquíssimo tempo era considerado inapropriado se feito em excesso. Ele, que se lembrou da Ucrânia, Venezuela e das vítimas da AIDS quando ganhou o Oscar, parece muito favorável ao barulho. “Cada vez que você entra no palco e está diante de uma câmera é uma oportunidade. Pode usar esse tempo como quiser. Pode falar de sua música, de uma causa social e de política”. Ele chama o que está acontecendo agora de “evolução”.

O Jared Leto ator que fala de música e o músico que fala de cinema se transformaram em outra coisa. Agora é, de acordo com as notícias, um esperto investidor no Vale do Silício que se movimenta bem entre os cérebros que todos os dias pensam no futuro. “As mudanças que veremos no próximos 50 a 100 anos superarão as dos últimos 10.000. Também acho que vamos ficar para trás”, continua. “Quando a primeira pessoa instalar um chip em seu cérebro e for capaz de pensar e tomar decisões mais depressa do que a que está ao lado, quem você irá contratar? Quem se dará melhor na Bolsa? Não se sabe se será uma tecnologia física, nanotecnologia e biotecnologia. Em breve os chips, os hardwares, as estruturas, não serão físicos tal como os vemos. Talvez sejam feitos de materiais orgânicos e façam parte de você. Iremos olhar como somos agora e nos parecerá que éramos símios”.

É esse espírito que o faz queimar etapas como artista. Documentários, cinema, música. Transmite a sensação de que aplica em seu trabalho a mentalidade de um alpinista: equipe, concentração, paciência, uma mão após a outra até chegar ao final.

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