_
_
_
_

A ‘síndrome do imperador’, quando seu filho é um tirano

Dedicar pouco tempo a sua atenção e conceder caprichos são a garantia para a “síndrome do imperador”

Gorka Olmo

O número de casos só aumenta. Em idades cada vez menores: se chama “síndrome do imperador”, e define as crianças e adolescentes que abusam de seus pais sem a menor consciência. A mãe costuma ser a primeira e principal vítima do pequeno tirano, que depois estenderá os maus-tratos a outros membros da família, a não ser que isso seja tratado, como explica o psicólogo José Antonio Ramadán. Causou alvoroço a sentença emitida no ano passado pelo Tribunal Penal número 2 de La Coruña que absolveu uma mãe acusada por seu próprio filho de 11 anos de maus-tratos por uma bofetada. Mas quais são as causas desse mal que transforma a vida familiar em um inferno?

De acordo com os especialistas, existem diferentes fatores que podem coroar um imperador em casa:

Mais informações
Seis passos para conseguir educar nossos filhos na igualdade
Dramas de pais de primeira viagem: ‘Meu bebê não liga pra mim’
Quão solitária pode ser a maternidade no século XXI

Pouca dedicação dos pais. O problema tem sua origem muitas vezes em progenitores ausentes que, para diminuir seu sentimento de culpa pelo tempo que não passam com a criança, lhe concedem todos os caprichos. Com isso transmitem à criança a mensagem de que, apesar de sua solidão afetiva, é o centro do universo e os adultos estão ali para satisfazer todas as suas exigências.

Falta de limites. Derivada frequentemente da primeira causa, se os pais não dedicam tempo suficiente à criança delegando a terceiros, também não terão tempo para educar seu filho em normas de conduta, de modo que o rei da casa sentirá que tem total impunidade. O psicólogo Javier Urra afirma que nenhuma criança nasce sendo um tirano, mas que existem pais que não agem como adultos educadores, já que “fazem todo o tipo de concessões para não ter problemas e no final o que causam é um problema”. O juiz de menores Emilio Calatayud, muito conhecido por suas sentenças educadoras a jovens conflitivos, resumiu assim essa complicada situação em uma entrevista publicada no EL PAÍS em 2006: “Demos a eles muitos direitos, mas não lhes confiamos deveres. Perdemos o princípio da autoridade. Quisemos ser amigos de nossos filhos!”.

Ser filho único. Não ter irmãos não leva necessariamente a se transformar em um mini-ditador se os pais são conscientes de sua função educativa, mas pode contribuir para que a criança se sinta um monarca solitário. É muito interessante analisar os efeitos que a política chinesa de um só filho teve na psicologia de toda uma geração. Em um artigo para o jornal britânico The Independent, o jornalista Steve Connor fala de um “exército chinês de pequenos imperadores”, fruto da superproteção do único rebento por parte de pais e avós, que querem dar-lhe os luxos e privilégios que a eles foram negados. Isso, somado ao aumento da renda per capita das famílias, multiplicou os “pequenos tiranos” até limites imprevistos. Connor afirma que as crianças chinesas atuais são “menos altruístas e confiantes, mais tímidas, menos competitivas, mais pessimistas e menos atenciosas com os demais”.

Gorka Olmo

Com exceção dos transtornos psiquiátricos, a síndrome do imperador é produto de uma disfunção educativa que pode ser corrigida. O psicólogo Vicente Garrido, autor do livro Os Filhos Tiranos, propõe três caminhos de atuação:

Fomentar o desenvolvimento da inteligência emocional e a consciência. Para isso, os pais devem ajudar seus filhos a reconhecer suas emoções e as dos demais, incidindo na empatia e convidando-os a praticar ações altruístas para que vejam seu efeito nos demais.

Ensiná-las a cultivar habilidades não violentas. Em uma casa em que os adultos gritam e ameaçam, dificilmente conseguiremos que as crianças se comuniquem de maneira sossegada. Os progenitores devem dar o exemplo e praticar com elas o diálogo respeitoso e a escuta.

Muitas vezes os pais hesitam por medo de que a bronca nos seus filhos seja exagerada. A solução passa por fixar limites

Colocar barreiras claras. Os pais não devem tolerar a violência e a mentira. Essas são linhas vermelhas que a criança deve saber que não pode cruzar, por mais estratégias que use para nos testar.

A pedagoga Montse Domènech declara sobre isso: “Os limites conferem segurança às crianças, que sentem-se perdidas se não existem pautas de conduta em casa. Os pais precisam tomar a autoridade e não ceder nas tentativas da criança de conseguir o que quer”. Domènech, autora de numerosos livros sobre crianças e adolescentes, afiram que muitas vezes os pais hesitam por medo de que a bronca seja exagerada. A solução, segundo ela, passa por explicar os limites e reforçar os aspectos positivos da criança. A clareza nessas barreiras, o reforço positivo e, principalmente, dedicar-lhes nosso tempo lhes dará a segurança para desenvolverem-se como pessoas autônomas e felizes.

A chegada do ‘poderoso chefinho’

— O estúdio de animação DreamWorks lançou no ano passado o filme O Poderoso Chefinho. A história narra como um garoto de sete anos é destronado por seu irmão mais novo, o novo rei da casa. Tim Templeton goza o fato de ser o centro da atenção de seus pais até a chegada do bebê, que se dedicará a impor sua lei.

— Esse filme mostra muito bem como se sente uma criança diante da chegada de um irmão. O mais velho pode acreditar que lhe roubaram o amor e o tempo dos progenitores. Perde parte da autonomia conseguida e se “torna mais novo” para tentar chamar a atenção, mesmo sendo através da repreensão.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_