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Polêmica foto do Papa Francisco com uma indígena mapuche

Tirada no ano passado, a foto ressuscitou agora sob o signo da polêmica na véspera da viagem de Francisco ao Chile

Juan Arias
Visita de índios mapuches ao Vaticano em fevereiro de 2017
Visita de índios mapuches ao Vaticano em fevereiro de 2017L´Osservatore Romano

A fotografia foi tirada no Vaticano. Nela, o Papa Francisco aparece com uma indígena mapuche que, com seus trajes coloridos, parece estar praticando algum rito espiritual. Francisco inclina sua cabeça para que a indígena possa tocar seu rosto. Alguns quiseram ver uma forma de bênção ao Papa, embora parece que a indígena está tentando transmitir o espírito de seus deuses ancestrais ao Papa. A foto foi vista pelas pessoas comuns como um gesto de simpatia do Papa Francisco a todos os indígenas da Terra. Outros, no entanto, incluindo políticos e grupos católicos conservadores, criticaram o fato, visto como um sacrilégio. Afirmam que é a primeira vez que um Papa permite ser abençoado por uma seguidora de ritos pagãos. E chamaram a mapuche de “bruxa”.

Os conservadores afirmaram que não foi uma surpresa preparada para Francisco como tantas vezes ocorre durante as audiências na Praça de São Pedro, nas quais o Papa de repente se encontra com uma criança nos braços, colocada por uma mãe para que seja abençoado. Alegam que o pontífice, ao inclinar a cabeça na direção da mapuche para que ela possa tocar seu rosto, está conscientemente aceitando o rito que será realizado. E é ela quem abençoa o Papa e não o contrário.

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Em minhas muitas viagens ao redor do mundo com Paulo VI e João Paulo II vi cenas nas quais grupos de feiticeiros indígenas realizavam alguns de seus ritos pagãos na presença do Papa. Mas é verdade que é a primeira vez que um Papa permitiu que fosse feito um desses ritos nele com uma compostura séria e piedosa. A foto, que foi tirada no ano passado, ressuscitou agora sob o signo da polêmica na véspera da viagem de Francisco ao Chile, de 15 a 18 próximos. Nesta viagem, o Papa irá abordar o espinhoso problema das comunidades mapuches que, no Chile e na Argentina, são muito ativas na defesa de seus direitos e de suas terras cobiçadas pelas multinacionais.

Os mapuches são cerca de um milhão no Chile e cerca de cem mil na Argentina e esperam que Francisco aproveite a viagem para apoiar sua luta. Meses atrás ele disse a uma delegação de índios mapuche: “Não vamos permitir que os governos tomem a terra dos índios sob o pretexto de estabelecer novas tecnologias”. E acrescentou: “Eles devem seguir suas próprias tradições e sua cultura com olhar voltado para o progresso e com especial atenção pela Mãe Terra”.

Os indígenas com os quais Francisco vai se encontrar no Chile se sentem discriminados pelos governos, racial e socialmente, e não deixarão de expressar seus sentimentos para o Papa. Trata-se, curiosamente, do único grupo de nativos da América que derrotou militarmente os conquistadores espanhóis no século XVI usando táticas inéditas de guerrilha com as quais conseguiram resistir por 300 anos. Eles não se sentem chilenos nem argentinos, apenas nativos, e pretendem continuar assim. Não querem ser reconhecidos como araucários, nome que tinha sido dado pelos espanhóis, mas como mapuches.

Em vista da viagem que o Papa Francisco planejava fazer ao Chile, não há dúvidas de que ter aceitado aquele ritual da índia mapuche que parecia querer transferir o espírito de seus deuses foi mais do que um gesto de simpatia. O Papa argentino, apesar de sua simplicidade franciscana, continua sendo jesuíta e, como tal, um intelectual que sabe medir suas ações e adaptá-las aos tempos de hoje. É bem possível que, abaixando a cabeça para a mapuche para que ela pudesse tocar seu rosto, além de um gesto de carinho para a indígena, o Papa Francisco estava enviando uma mensagem, não só religiosa, mas também política e social, para o outro lado do Atlântico. Vamos descobrir em breve.

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