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Merkel e Schulz estabelecem uma nova grande coalizão para evitar outras eleições na Alemanha

Democratas-cristãos e socialistas chegam a um acordo 110 dias depois das eleições e de uma intensa noite de negociações

Ana Carbajosa
Integrantes dos dois partidos, durante a negociação do acordo, na noite de 11 de janeiro.
Integrantes dos dois partidos, durante a negociação do acordo, na noite de 11 de janeiro.TOBIAS SCHWARZ (AFP)
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Foi necessário um esforço final de 24 horas de negociação a portas fechadas entre os dois grandes partidos alemães para chegar a um princípio de acordo que assenta as bases para estabelecer nas próximas semanas uma futura repetição da grande coalizão como a que governava a Alemanha até agora. Por volta das oito e meia da manhã chegavam as primeiras notícias na imprensa alemã informando que se tinha chegado a um consenso em relação a um documento de 28 páginas.

Com este acordo exemplar, a União Democrata Cristã da chanceler Angela Merkel (CDU) e a socialdemocracia de Martin Schulz (SPD) aspiram a fechar uma data para o fim da crise política em vigor na Alemanha, com um Governo em atividade há 110 dias. O pacto alcançado pelos negociadores constitui o esqueleto do programa do futuro Governo alemão que coloca o fortalecimento da Europa em seu centro e estabelece-o como prioridade do “novo tempo político”.

A Europa espera impaciente há meses que Berlim defina seu Executivo e coloque-o em funcionamento, mas terá de esperar ainda várias semanas — provavelmente até a Semana Santa — para que os partidos redijam o detalhamento do pacto e sobretudo para que os militantes do partido socialdemocrata deem seu aval a um acordo do qual receiam.

O preâmbulo do texto anuncia a intenção de formar “um Governo estável” que represente “um novo começo para a Europa” e que “fortaleça a coesão social e supere a distância existente”. O futuro da União Europeia aparece como primeiro e principal assunto no texto publicado esta manhã, assim como exigia Schulz. Os partidos se comprometem a reforçar a Zona do Euro em cooperação com a França e a transformar o mecanismo de resgate europeu em um tipo de fundo monetário europeu sob o controle do parlamento. Além disso, declaram-se dispostos a incrementar a contribuição para o orçamento europeu. “Estamos preparados para realizar novas contribuições da Alemanha ao orçamento europeu”, diz o texto. Esta é a primeira resposta efetiva, detalha o presidente francês, Emmanuel Macron, disposto a “refundar a Europa” ao lado da chanceler alemã.

O texto também indica que não haverá alta de impostos para as grandes fortunas como exigia o SPD. Os partidos pactuaram também que um limite máximo de 180.000 a 200.000 refugiados anuais, como queria o bloco conservador liderado por Merkel. A reunificação familiar das pessoas com a chamada proteção subsidiária se limitaria mais adiante a 1.000 ao mês, apesar de no momento permanecer suspensa como até agora. As aspirações socialdemocratas de que haja educação gratuita desde a educação infantil e de que Berlim possa participar das políticas educacionais também estão refletidas no documento.

As negociações transcorreram com a desconfiança da extrema direita, que comemorava a possibilidade de um prolongado desgoverno alemão, o que demonstraria a incapacidade dos políticos tradicionais.

Apesar de Merkel ter ganhado as eleições alemãs em setembro passado, não conseguiu maioria suficiente para formar Governo. E apesar de nas últimas semanas a chanceler ter tentado formar o Executivo com os liberal-democratas e os Verdes — a chamada coalizão Jamaica —, essa tentativa não chegou a bom porto. A chanceler ressuscitou então a ideia de uma nova grande coalizão com os socialdemocratas, como a que governou a Alemanha durante oito dos últimos 12 anos. As alternativas eram muito poucas além dessa: manter-se em um governo de minoria, rechaçado até agora pela chanceler, ou novas eleições.

Depois do pleito de setembro, o SPD anunciou que optava por manter-se na oposição, depois do duro desgaste como sócio minoritário de Merkel na legislatura anterior. O partido sofreu o pior resultado da história. Mas a extraordinária pressão interna e europeia para evitar novas eleições e a instabilidade de um governo minoritário contribuíram para convencer o partido a explorar a possibilidade de uma nova grande coalizão.

Agora restam pela frente cerca de três meses a mais de negociações que devem culminar em um contrato que determine as linhas mestras do programa de Governo do próximo Governo alemão. Mas, antes, as direções dos partidos terão que dar seu beneplácito e no caso do partido socialdemocrata há um trâmite extra, que parece cabeludo: o resultado das negociações de coalizão deve ser aprovado por todos os militantes.

Não é segredo que um setor amplo das bases do partido rejeita um novo acordo com o bloco conservador de Merkel. Acreditam que seu catastrófico resultado eleitoral de setembro passado tem a ver em boa medida com o desgaste de poder de uma chanceler que tem uma capacidade extraordinária de invisibilizar seus parceiros de Governo. Acreditam também que se os eleitores castigaram nas urnas os dois grandes partidos é porque a fórmula de grande coalizão perdeu a atração e, portanto, não tem sentido embarcar em uma nova. E, por último, sustentam que uma nova aliança entre os dois grandes partidos históricos da Alemanha beneficiaria sobretudo uma extrema direita disposta a tirar partido de tudo que cheire a establishment e consenso sem estridências.

No seio da CDU e também da CSU receia-se também que o pacto custe muito caro aos cidadãos, devido às exigências de gastos sociais e investimentos propostas pelos socialdemocratas.

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