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Após meses de insultos, Trump se diz aberto a negociar com a Coreia do Norte

Washington propõe um diálogo “no tempo adequado e sob as circunstâncias corretas”. Aceno acontece após a reunião histórica entre Seul e Pyongyang, a primeira em dois anos

J. M. AHRENS

Após a fúria, chegou a calma. A Casa Branca deu um passo rumo à distensão com a Coreia do Norte e se mostrou disposta a abrir negociações com seu arqui-inimigo nuclear “no tempo adequado e sob as circunstâncias corretas”. A oferta, anunciada nesta quarta-feira, 10 de janeiro, num telefonema do presidente Donald Trump ao seu homólogo sul-coreano, Moon Jae-in, reforça a aproximação iniciada entre Seul e Pyongyang e que os Estados Unidos considera que seja fruto de suas pressões.

O presidente norte-americano, Donald Trump, hoje no Conselho de Ministros celebrado na Casa Branca.
O presidente norte-americano, Donald Trump, hoje no Conselho de Ministros celebrado na Casa Branca.Ron Sachs (EFE)

Tudo é frágil. Os falcões militares e o presidente norte-americano mantêm seu objetivo intacto: a Coreia do Norte deve abandonar o programa nuclear e balístico. Para alcançar essa meta, estão dispostos a continuar fechando o cerco e, caso se sintam ameaçados, Trump chegou a afirmar que não hesitaria em destruir seu inimigo. Pyongyang tem se mostrado firme em todos os momentos. Apesar das sanções e condenações internacionais, declarou ser um Estado nuclear no início do ano e recordou que “todo o território dos EUA está ao alcance” de sua bomba atômica.

Nesse contexto, a tensão parecia destinada a uma nova escalada, mas o regime norte-coreano buscou uma válvula de escape e se ofereceu para sentar e negociar com o Sul. O sinal de abertura foi rapidamente aceitou pelo vizinho. E as conversas começaram a dar resultado. Na primeira jornada realizada esta semana, Pyongyang anunciou que, em fevereiro, participaria dos Jogos Olímpicos de Inverno no Sul. Também se mostrou disposta a abrir um diálogo militar para “resolver as tensões atuais” entre ambos os países.

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Visto no microscópio, esse movimento representa, mais do que um grande avanço, um respiro numa área saturada pela ameaça nuclear. Os sul-coreanos terão assegurada uma Olimpíada sem sobressaltos; já os vizinhos do Norte alteram uma dinâmica que os havia levado ao mais absoluto isolamento. Mas o grande problema, o armamento norte-coreano, fica sem resolver. A abertura de uma negociação direta entre Pyongyang e Washington parece, segundo alguns especialistas, a única via para solucionar a questão.

É um caminho que Washington nunca rejeitou. A expressão mais clara disso veio em dezembro através do secretário de Estado, Rex Tillerson. Apenas duas semanas depois do maior teste balístico norte-coreano, o chefe da diplomacia dos EUA ofereceu “um diálogo direto e sem condições prévias”. A proposta era excepcional. Abandonava a tradicional exigência de que a Coreia do Norte abrisse mão do arsenal nuclear e só pedia um “período de calma” para iniciar o diálogo.

“Não é realista dizer que eles só podem conversar se vierem à mesa prontos para prescindir de seu programa. Investiram muito nele [...]. Estamos dispostos a falar com a Coreia do Norte no momento que desejarem. Encontremos e falemos sobre o tempo, se for necessário, ou sobre se a mesa deve ser redonda ou quadrada, e depois comecemos a elaborar um mapa”, disse Tillerson numa conferência no think tank Atlantic Council.

Mas o diálogo, como é habitual no Governo Trump, logo ficou em segundo plano. Além do desdém manifestado pela Casa Branca, que se apressou em dizer que aquele não era o momento para conversas, vieram os longos discursos do Líder Supremo, Kim Jong-um, e os tuítes de Trump. O cenário de distensão se transformou em outro, de conflito. “Kim Jong-un disse que o botão nuclear está em sua mesa o tempo todo. Alguém pode dizer a esse regime depauperado e faminto que eu também tenho um botão, mas que o meu é muito maior e mais poderoso que o dele, e que funciona?”, disse o presidente no Twitter.

Passada a turbulência, e ante o bom começo de negociações entre as duas Coreias, Washington retomou a proposta do diálogo. Qualquer passo, segundo os especialistas, deve ser acompanhado por uma interrupção dos testes nucleares e balísticos, bem como de algum indicador de que há disposição para o diálogo. A Coreia do Norte ainda não respondeu. A bola, desta vez, está em seu campo.

Moon atribui o “mérito” a Trump

O presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, respaldou ontem Donald Trump. Numa declaração destinada a satisfazer o ego do mandatário norte-americano, Moon ressaltou que grande parte do mérito pelas conversas entre Seul e Pyongyang cabe ao republicano.

Para a Casa Branca, o diálogo entre as duas nações é fruto da política de pressões e sanções implementada pelo presidente logo após assumir. Um cerco hoje integrado pela China e que tem cortado as fontes de recursos da Coreia do Norte até deixá-la à beira da asfixia.

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