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As dores dos gigantes do tênis

Com exceção de Federer, o mais veterano, as figuras do circuito masculino enfrentam a temporada entre médicos. “Estou bem, senão não estaria aqui”, diz Nadal em Melbourne

Nadal, durante treinamento em Melbourne, esta semana.
Nadal, durante treinamento em Melbourne, esta semana.Michael Dodge (Getty)
Alejandro Ciriza
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Joelhos, cotovelos, quadris, costas... Praticamente toda a superfície do corpo. Há poucas áreas sortudas da anatomia dos tenistas que estão livres ou que tenham se livrado nos últimos tempos de uma lesão ou de alguma dor física. Atualmente, as estrelas do circuito masculino convivem diariamente com a enfermaria, entre bandagens, tratamentos e bisturis. Não há exceção: Rafael Nadal, Novak Djokovic, Andy Murray, Stan Wawrinka... Ou melhor, há Roger Federer, o mais veterano, consciente de que a longevidade de sua carreira esportiva passar por cuidar milimetricamente de seu repouso e da prevenção de todo e qualquer mal, ainda que isso signifique transformar seu calendário em um conta-gotas.

Aproxima-se o primeiro grande torneio da temporada, o Australia Open, e no prólogo se fala em termos de loteria. Ninguém sabe em que ponto chegarão Nadal, que machucou o joelho direito na reta final da última temporada, ou o sérvio Djokovic, cujo cotovelo o tirou de combate por 200 dias. Sabe-se que Wawrinka não vai aterrissar em sua melhor forma, derrubado há seis meses e que há pouco tempo reconheceu que a última intervenção cirúrgica em seu joelho esquerdo o fez pensar em se aposentar. E há a certeza de que Andy Murray não vai participar, torturado por seu quadril a ponto de passar pela sala de cirurgias mesmo quando queria evitá-la a todo custo.

Quase todas as estrelas sofreram um ou outro contratempo mais ou menos grave, e isso faz da abertura do ano uma grande incógnita. Há dúvidas e muitas interrogações no ar, deixando a sensação de que qualquer coisa pode acontecer em Melbourne. “Estou bem, senão não estaria aqui. Minha ideia é continuar treinando nos próximos dias para estar pronto”, disse Nadal, de 31 anos, depois de jogar sua primeira partida (não oficial) em dois meses, na quarta-feira. O espanhol reapareceu na reabertura do estádio de Kooyong e perdeu (6-4 e 7-5) contra o francês Richard Gasquet, que não tinha conseguido vencê-lo nas 15 partidas precedentes.

“Foi um bom teste e isso é o mais importante”, concedeu Nadal, que nas duas últimas temporadas sofreu com lesões no punho (2016) e no joelho (2017). Esta última atrapalhou sua forma física e o fez perder os primeiros torneios da temporada, por mais que sua equipe tente desvincular uma coisa da outra. “O ano passado foi longo, portanto comecei minha preparação mais tarde do que de costume”, argumentou o ganhador de 16 grand slams. Na quarta-feira, volta a pista para disputar outro amistoso com o objetivo de continuar se aclimatando e aspirar ao título que perdeu um ano atrás para Federer, que, aos 36 anos, paradoxalmente, transmite melhores vibrações nesta arrancada.

O enigma de Novak e as dificuldades de Wawrinka

Wawrinika rebate a bola em ‘backhand’ durante treino em Melbourne.
Wawrinika rebate a bola em ‘backhand’ durante treino em Melbourne.Michael Dodge (Getty)

Em contraste, Djokovic é atualmente um enigma. O sérvio, de 30 anos, teve de parar em julho por causa de uma lesão persistente no cotovelo e surge bem distante dessa versão torturante de dois anos atrás. Cansado da dor e do próprio tênis, optou por fazer uma parada e mimar a articulação. Os indícios eram positivos, mas horas antes de reaparecer em Abu Dhabi, há duas semanas, anunciou sua baixa: “Minha equipe médica me recomendou não arriscar”, explicou. “Gostei dos treinamentos, mas tenho de aceitar minha situação e continuar com a terapia”, acrescentou Nole, agora 14.º do mundo.

O caso de Wawrinka (32), triplo campeão do Grand Slam, também é sintomático das complicações de saúde que sofrem cada vez com mais frequência os integrantes de uma geração dourada do tênis. O suíço atravessou seis meses de dificuldades e no caminho se separou do técnico que o conduziu para a glória, Magnus Norman. “Cheguei a pensar em me aposentar, mas sigo em frente. Houve momentos em que não podia nem caminhar. Pensei que talvez não fosse poder sair disto”, revelou no mês passado em uma entrevista concedida a Le Matin Dimanche.

Nos últimos dias, sorri, porque sua realidade era tão dura que agora saboreia o regresso às quadras. “O primordial, agora, é jogar uma partida e comprovar como me sinto”, dizia na quarta-feira. Seis meses antes, o suíço lesou a cartilagem de seu joelho esquerdo e depois de uma cirurgia se apoiou em Pierre Paganini, seu preparador físico, para ficar em forma e voltar às quadras. Um cenário em que não figurará o japonês Kei Nishikori (pulso), porque a segunda linha de fogo também recebeu o impacto das contusões nos últimos tempos. David Ferrer (cotovelo e tendão de Aquiles), Milos Raonic (pulso), Jo-Wilfred Tsonga (joelho), Tomas Berdych (costas), Nick Kyrgios (quadris)…

Somente Federer, nesse sofisticado programa de jogo que traçou na campanha anterior, resistiu ao infortúnio. O gentleman da raquete teve poucos contratempos ultimamente: tão somente uma dor nas costas o obrigou a renunciar a Cincinnati, em agosto, e o prejudicou em Nova York. O resto do exercício, intacto. “Tenho de me cuidar, já sou idoso”, brinca o suíço. “Espero que os lesionados se recuperem logo”, desejou nas datas recentes o gigante dos gigantes. O campeão de maior idade, mas também o mais saudável.

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