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Wawrinka conquista o Aberto da Austrália

O suíço se impõe por 3-6, 2-6, 6-3 e 3-6 a Rafael Nadal, muito fragilizado fisicamente pelas dores nas costas Wawrinka conquista seu primeiro Grand Slam após um torneio fantástico no que eliminou também a Djokovic

Juan José Mateo
Wawrinka levanta o troféu. Atrás dele, Nadal.
Wawrinka levanta o troféu. Atrás dele, Nadal.SAEED KHAN (AFP)

À beira das lágrimas e lesionado nas costas, Rafael Nadal perde (6-3, 6-2, 3-6 e 6-3) o final do Aberto da Austrália contra Stanislas Wawrinka, desde segunda-feira o número três do mundo. Durante o treinamento da manhã, o número um começa a tocar as costas depois de se exercitar no saque. Embora isso pareça que não o afeta no início do duelo, que monopoliza seu contrário com um arranque estupendo, ele se vê impedido a partir do segundo set. O espanhol chama ao fisioterapeuta. Ele leva o seu tempo no vestiário e o público o recebe de volta à quadra entre vaias. Em breve volta a ser tratado, desta vez já sobre o cimento, e com o serviço acorrentado pela dor: Wawrinka começa a fazer saques que baixam até o lento abismo dos 123 km/h. Só o ataque de nervos do suíço permite ao espanhol a vencer uma parcial. Inevitavelmente, o espanhol diz adeus ao sonho de se igualar aos 14 Grand Slam do norte-americano Pete Sampras e se aproximar dos 17 de Federer.

O início do suíço é estupendo. Pleno de vigor e precisão, Wawrinka ataca o drive de Nadal e não se deixa levar os contragolpes. Armado com um braço poderoso e com um torso hercúleo, Wawrinka domina a bola alta do drive do espanhol para o botar a correr. É um Wawrinka estupendo, atrevido e sem demonstra de que pese o palco, diante do que parece no início um Nadal de corpo inteiro.

Nadal, atendido pelo fisioterapeuta.
Nadal, atendido pelo fisioterapeuta.GREG WOOD (AFP)

Quando a batalha se resolve em igualdade de condições é o aspirante quem governa. O número um, de novo com um curativo cobrindo uma ferida na mão esquerda, logo começa a ver como se lhe escurece o panorama. No pulso do jogo de fundo, o suíço o segura. Ele não se dobra ante sua força como muitos outros de seus oponentes. No saque, Nadal não encontra escudo, e isso permite a seu adversário a pressionar. Assim, Wawrinka, pesca o primeiro break diante de um número um congestionado: Nadal dispara uma dupla falta, atira um mau passe e assina um erro não forçado.

Aliviado por esse tanque de oxigênio, ao debutante não lhe pesa a responsabilidade porque Nadal treme quando mais se aproxima. O número um não aproveita sua oportunidade para conseguir que o primeiro serviço seja mais discutido. Wawrinka saca para pôr seu selo e ele tenta três bolas de break (0-40). Este é território Nadal. Um momento decisivo. O reino do espanhol, que sempre manda quando o jogo se monta na montanha russa dos momentos para fortes. Não em Melbourne. Não diante de Wawrinka. Nadal falha três vezes sobre o segundo saque. Sinal de que algo não caminha, porque o espanhol, normalmente contido, soca sua raquete.

O espanhol demonstra seu grande controle emocional, mas fisicamente perde

E assim, entra em cena o fisioterapeuta, que muda a partida. O impressionante arranque de Wawrinka, pleno de força e decisão, merecedor da luta pelo título, fica borrado pela estranha partida que nasce quando seu oponente começa a pedir atendimento. Nadal joga com cautela, sem se atrever a sacar forte, subindo à rede como nos aquecimentos, sem poder aplicar a intensidade que distingue seu jogo. É fogo apagado, tormenta que amaina, trem que freia. É um Nadal irreconhecível, que não corre, que não se flexiona quando resta, que tem a cara pálida, olha pro seu banco e pena: “Que faig? (Que faço?)”, lamenta. Não diz nem um “Vamos!”.

O jogo tomo um rumo que Wawrinka perde o fio, sem saber que fazer frente a esse adversário com problemas, de quem jamais havia ganhado um set nos 12 encontros prévios. De repente, o suíço vê-se 0-3 abaixo no terceiro set, desnorteado e perdido, falhando uma bola depois da outra e com Nadal dando sinais de vida após passar pelo fisioterapeuta. Melhora um pouco seu saque, que chega a ter picos de 180 km/h, mas o número um não celebra o break, nem a vitória neste set, porque a virada é impossível, o futuro é a derrota. Nem ele, um titã ante o sofrimento, pode escalar sem pernas essa montanha. É o canto do cisne do espanhol. É o retrato de Wawrinka. Ao espanhol quebra-se as costas (“Rafa! Rafa!”, grita o público), e ao suíço a cabeça (“Calem-se!”, grita ao seu banco).

O suíço completa um grande torneio, em que tombou o número dois (Djokovic) e o número um (Nadal)

Cabisbaixo, o campeão de 13 Grand Slam, que tantas vezes se tem se sobreposto à adversidade e à dor, demonstra seu grande controle emocional, mas fisicamente perde. O título é para Wawrinka, o primeiro tenista desde 1993 a celebrar um Grand Slam depois de tombar o número um (Nadal) e o número dois (Novak Djokovic). Para Nadal, que como o suíço treinou às portas fechadas nos últimos dois dias (salvo por 10 minutos abertos à imprensa), fica o dissabor de não competir contra si pelo título e pela lenda.

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