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O herói sem-teto que roubou as vítimas do atentado de Manchester

Chris Parker, elogiado por seu auxílio às vítimas depois do ataque, reconhece que furtou algumas das vítimas

Pablo Guimón
Chris Parker, em foto tomada de um vídeo da BBC.
Chris Parker, em foto tomada de um vídeo da BBC.
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A natureza humana conduz à busca de heroísmos que lancem luz na escuridão dos eventos mais terríveis. E no atentado terrorista de 22 de maio do ano passado em Manchester, em que um homem se explodiu com uma bomba que matou 22 pessoas depois de um show da estrela do pop Ariana Grande, um desses heróis foi Chris Parker. Um sem-teto de 33 anos que disse ter socorrido as vítimas, e para quem uma iniciativa comunitária arrecadou mais de 52.000 libras (230.000 reais) destinadas a tirá-lo da rua. Um impostor, na realidade, que pode ser condenado a uma pena de prisão depois de ter admitido nesta quarta-feira perante um juiz que roubou as vítimas que jaziam no chão.

Parker se declarou culpado diante do juiz de dois crimes de roubo e um de fraude. Roubou a bolsa de Pauline Healey, ferida gravemente na explosão, e utilizou seu cartão de crédito para comprar comida em um McDonald’s horas depois. As câmeras de vídeo de vigilância mostram Parker mexendo na bolsa de Healey enquanto a neta dela, de 14 anos, jazia morta ao lado.

O falso herói também roubou o celular de uma menor atingida no ataque. E se declara inocente de outros cinco crimes que lhe são atribuídos, incluindo o furto de um casaco e uma sacola largados pelas vítimas do ataque.

A história dele, maltratado pela vida, mas que não duvidou em socorrer os mais necessitados, correu como pólvora entre os jornalistas enviados a Manchester depois do ataque, ávidos por ângulos humanos na tragédia. Em uma entrevista à Press Association, Parker declarou que naquela noite de 22 de maio estava pedindo esmolas na área da Manchester Arena onde explodiu a bomba. “Caí no chão, então me levantei e, em vez de correr, meu instinto visceral foi dar a volta e tentar ajudar”, disse.

Comovido pelo relato de sua atitude, um cidadão abriu na Internet uma coleta para “tirar Chris das ruas e mostrar gratidão por suas ações”. Seu objetivo era arrecadar 1.000 libras, mas a generosidade de milhares de doadores anônimos fez a cifra disparar para 52.000 libras. Um porta-voz do site GoFundMe declarou que, depois da confissão de Parker, o dinheiro não lhe será entregue e as contribuições serão devolvidas aos mais de 3.000 doadores.

As imagens das câmeras de segurança do local, de acordo com a imprensa britânica, mostram Parker rodeando as vítimas estiradas no chão. É possível vê-lo puxando uma bolsa de modo ostensivo e depois inspecionando seu interior. Revista um casaco abandonado na escada. E, com um telefone celular, faz fotos das vítimas, que depois tentaria, sem sucesso, vender à imprensa.

Até agora Parker vinha se declarando inocente. Estava havia cerca de um mês fugindo da Justiça e tinha enviado mensagens de texto a sua mãe e a sua ex-companheira indicando que pretendia não se apresentar ao juiz. Em uma mensagem sugeriu que planejava cometer um roubou e fugir. Tinha sido convocado para comparecer diante do juiz na terça-feira, mas não apareceu. Por fim, a polícia o encontrou escondido em um apartamento de Halifax na quarta-feira pela manhã. Foi levado ao juiz e se declarou culpado de três de oito crimes que lhe eram imputados. Em 30 de janeiro será ditada a sentença. O falso herói, advertiu o juiz David Hernandez, deve receber uma condenação à prisão.

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