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Macri afasta comandante da Marinha após desaparecimento do submarino Ara San Juan

Marcelo Srur é aposentado um mês depois do sumiço da embarcação no Atlântico

Federico Rivas Molina
O comandante da Marinha, Marcelo Srur (esquerda) ao lado do ministro da Defesa, Oscar Aguad, durante evento em 2 de novembro.
O comandante da Marinha, Marcelo Srur (esquerda) ao lado do ministro da Defesa, Oscar Aguad, durante evento em 2 de novembro.

O desaparecimento do submarino argentino Ara San Juan, há 31 dias, fez a sua primeira vítima política. O presidente Mauricio Macri transferiu para a reserva o comandante da marinha, almirante Marcelo Srur, em meio a uma crise interna de solução indefinida. O governo deu início a uma investigação interna para definir a cadeia de responsabilidades pelo ocorrido em 15 de novembro, quando se perdeu todo e qualquer contato com a embarcação. A pressão sobre a cúpula militar do país é dupla: por um lado, deverá se concluir se o Ara San Juan estava ou não em condições de navegar; por outro, Srur é acusado de ocultar do presidente informações confidencias, como o boletim em que o capitão do submarino reportava uma entrada de água que gerou um curto-circuito nas baterias. Enquanto isso, em terra, os familiares dos 44 tripulantes mortos a bordo exigiram que que a busca pelos corpos não seja interrompida.

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Durante os primeiros dias de buscas, Macri pediu que os esforços se concentrassem em encontrar o submarino e que se deixasse para mais adiante a apuração das responsabilidades políticas. Esse prazo parece ter se esgotado. Srur se tornou alvo a partir do momento em que o boletim do capitão do submarino advertindo a respeito de uma avaria vazou para a imprensa. No texto, recebido pela base de operações, era possível ler: “Entrada de água do mar pelo sistema de ventilação no tanque de baterias Número 3 causou curto-circuito e começo de incêndio na varanda no balcão gradeado das baterias. Baterias da proa fora de serviço. No momento em imersão propulsando com circuito dividido. Sem novidades de pessoal manterei informado”.

A Marinha avaliou que essa mensagem não precisava ser definida como emergencial e determinou ao Ara San Juan que se dirigisse a Mar del Plata, o porto de destino ao qual nunca chegou. O problema foi que, quando o presidente do país perguntou, em uma reunião com o alto comando, o que havia acontecido, Srur se limitou a dizer que não tinha informações para responder àquela pergunta. Quando a mensagem do capitão do submarino veio a público, a confiança foi rompida e a saída de Srur se tornou apenas uma questão de tempo.

Junto com Srur, também solicitaram passagem para a reforma quatro outras autoridades navais, todas elas da linha de sucessão do comandante. A saída desse grupo implica uma situação de ausência de comando na Marinha, deixando Macri de mãos livres para começar do zero. Além de administrar o julgamento interno, os novos chefes deverão fornecer todas as informações a serem solicitadas por uma comissão de acidentes formada por três ex-chefes do Ara San Juan, um deles tendo seu filho entre as vítimas do acidente. A comissão terá orçamento próprio e poderá contratar especialistas internacionais. Por enquanto, a investigação irá apurar se foram seguidos todos os protocolos, ou seja, se os comandantes agiram corretamente diante do aviso de alerta e, acima de tudo, se foram executados todos os controles técnicos obrigatórios para esse tipo de embarcação.

Mas, para saber o que aconteceu realmente com o submarino naquele dia 15 de novembro, será preciso aguardar que o seu próprio casco seja localizado, algo que, a esta altura, poderá não acontecer nunca. A área de buscas já foi rastreada totalmente, sem êxito, e pode ser que a embarcação tenha se embrenhado em um abismo no fundo do mar, inacessível para os homens.

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