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Detido por corrupção Amado Boudou, ex-vice-presidente de Cristina Kirchner

Juiz entende que se o político estiver livre pode obstruir uma investigação por enriquecimento ilícito

Federico Rivas Molina
Ex-vice-presidente Amado Boudou
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O triunfo eleitoral há apenas 12 dias dos candidatos de Mauricio Macri ao Congresso precipitou o calvário judicial do kirchnerismo. Três dias depois das eleições, um juiz ordenou a prisão sem fiança do ex-ministro Julio De Vido, o homem que durante 12 anos manejou o orçamento das obras públicas no ministério do Planejamento. No dia seguinte, outro juiz convocou para declarações a ex-presidenta Cristina Fernández de Kirchner em outra causa. Hoje foi a vez de Amado Boudou, vice-presidente durante o segundo mandato presidencial de Kirchner. A polícia deteve Boudou em sua casa de Puerto Madero, um bairro de classe alta de Buenos Aires, por ordem do juiz Ariel Lijo, que o investiga por suposto enriquecimento ilícito. Com ele também acabou preso José Nuñez Carmona, um homem acusado de agir como testa de ferro do ex-vice-presidente na compra da gráfica Ciccone, dedicada à impressão de papel-moeda.

O juiz Lijo deteve Boudou sem direito a fiança porque suspeita que possa usar seus contatos políticos para obstruir a investigação. O mesmo magistrado já o havia processado em 2014, quando Boudou era vice-presidente em exercício, no chamado caso Ciccone. Mas seu cargo lhe dava direito a foro privilegiado e a causa não prosperou o suficiente. Tudo mudou com a chegada de Macri à presidência. A investigação foi acelerada e Boudou acabou preso.

Boudou é acusado de se enriquecer com a compra da Ciccone Calcográfica por meio de uma operação que supostamente fez figurar como responsabilidade de terceiros. No momento da operação, Boudou era ministro da Economia de Cristina Kirchner e a Ciccone tinha contratos milionários para a impressão de dinheiro. Nessa época, a Casa da Moeda não dava conta do serviço e o Governo apelou a empresas privadas de impressão, inclusive fora do país.

“A associação [entre Boudou e seus supostos testas de ferro] levou a cabo seus desígnios criminosos pelo menos desde o início de agosto de 2009, momento em que Amado Boudou assumiu o cargo de ministro da Economia da Nação, até o mês de dezembro de 2015, quando encerrou seu mandato como vice-presidente”, diz a resolução do juiz. O advogado do ex-vice-presidente, Eduardo Durañona, disse estar “surpreso” com a prisão. “Sempre estivemos à disposição”, declarou ao canal de notícias C5N.

As suspeitas da Justiça começaram quando Boudou não pôde justificar um empréstimo de 80.000 dólares (265.000 reais) que fez à sua companheira na época, a jornalista Agustina Kämpfer, para a compra de um apartamento. O promotor Jorge Di Lello, encarregado do caso, disse que o vice-presidente não pôde justificar a origem do dinheiro. “Existem elementos de acusação suficientes que permitem presumir em princípio que Amado Boudou se enriqueceu patrimonialmente de modo injustificado durante o exercício de função pública”, escreve ao juiz Lijo. Para justificar a figura da associação ilícita, que é a que permitiu a detenção de Boudou, Di Lello disse que “se observam indícios de uma engenharia orientada a obscurecer a origem dos fundos com os quais se realizavam compras, se adquiriam bens e ações, procurando mostrar uma capacidade econômica prévia que justificasse as operações realizadas posteriormente”.

Boudou não é um político nascido das bases do peronismo, mas conseguiu uma ascensão vertiginosa na estrutura de poder kirchnerista. Iniciou sua carreira na ANSES, a agência que administra o dinheiro do sistema de aposentadorias, e depois de uma passagem por um cargo menor em um município de Buenos Aires, saltou ao ministério da Economia. A seu cargo esteve a nacionalização do sistema de aposentadoria privada (AFJP) que Carlos Menem tinha criado nos anos 90. Em 2009, e com 47 anos, se tornou o companheiro de chapa de Cristina Kirchner para a reeleição. A dupla alcançou 54% dos votos, o maior ganho eleitoral alcançado pelo kirchnerismo.

O vice-presidente na Argentina se limita a presidir o Senado. Sem peso político algum, a estrela de Boudou foi se apagando enquanto as causas judiciais aumentavam. A mais grave é o processo da Ciccone, o mesmo que nesta sexta-feira o levou à prisão, mas em algum momento chegou a somar 54, desde acumulação de infrações de trânsito (110 por excesso de velocidade) até o uso indevido de um helicóptero do Estado para viagens com fins políticos.

Nas revistas

Amante das motos Harley Davidson e do rock (era comum vê-lo num palco atrás de uma guitarra), seu estilo de vida o encontrou mais propenso aparecer nas páginas de revistas de celebridades do que nas de política. Seu romance mais divulgado foi com Kämpfer, a mulher a quem Boudou emprestou dinheiro que não pôde justificar. Agora, espera gêmeos da ex-deputada mexicana Mónica de la Fuente, do partido Verde Ecologista, um romance que o levou várias vezes a viajar para fora do país, pelo menos enquanto o juiz lhe permitiu.

Os problemas judiciais distanciaram pouco a pouco Boudou da primeira linha da política. E rapidamente, também, o afastaram de Cristina Kirchner. A relação se rompeu a ponto de a senadora eleita ainda não ter dito nada sobre a detenção daquele que foi, certa vez, seu sucessor político.

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