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Euforia no partido de Macri após resultados das eleições na Argentina

Vitória nas eleições legislativas marcam um momento histórico para o partido Cambiemos

Maria Eugenia Vidal, governadora da província de Buenos Aires e o presidente Mauricio Macri
Maria Eugenia Vidal, governadora da província de Buenos Aires e o presidente Mauricio MacriMARCOS BRINDICCI (REUTERS)

Imparáveis. Esse era o sentimento no reduto do partido Cambiemos (Mudemos, em português) após a esmagadora vitória eleitoral nas eleições da Argentina. “Vencemos o medo e a resignação”, disse o presidente argentino, Mauricio Macri, ao discursar no palco como epílogo de uma noite histórica para um partido que há três anos era só um pequeno grupo limitado à cidade de Buenos Aires. “Podemos mudar a história para sempre”, afirmou.

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A festa começou desde o primeiro momento da contagem no reduto macrista, em Buenos Aires, com dança, balões e cânticos de “não voltam mais”, em referência aos kirchneristas, enquanto no local de concentração dos peronistas, na Grande Buenos Aires, o silêncio se impunha à espera de uma reviravolta de última hora na contagem durante a madrugada que nunca ocorreu. Com 99% da apuração concluída, o candidato de Macri, Esteban Bullrich, obteve 41,38% dos votos contra 37,24% de Cristina Kirchner. Quase 400.000 votos de diferença.

Macri foi o último da noite a falar, após Cristina Kirchner. “Hoje ganhou a certeza de que podemos mudar a história para sempre. Queremos conquistar algo grande, um país decidido a fazer as coisas bem-feitas. E isso é só o princípio, começamos agora a transformar a Argentina”, disse o Presidente. “Estamos crescendo nesse ano, no próximo cresceremos mais e no outro ainda mais. O sonho compartilhado é retirar todos os argentinos da pobreza. Somos a geração que está mudando a história, decidimos dizer basta, não podem com a gente. Nós argentinos somos imparáveis”, acrescentou eufórico.

Antes, em Sarandí, Kirchner deixou claro que não viu os resultados como uma derrota. “A Unidade Cidadã recebeu mais votos nessas eleições do que nas primárias. Fomos capazes de crescer e enfrentar a maior concentração de poder de que se tem notícia”, disse Kirchner aos seguidores que a esperaram quase até meia-noite. “A Unidade Cidadã emerge como a oposição mais firme a esse Governo. Será a base da construção da alternativa a esse Governo. Aqui não acaba nada, hoje aqui começa tudo”, acrescentou, em uma clara mensagem aos peronistas, em plena batalha interna pelo poder. Ela não pensa em desistir. Precisarão disputar a liderança com ela metro a metro.

Nada parece afetar a onda favorável a Macri que se impôs nos últimos meses na Argentina. Nem a crise econômica, que começa a recuar ligeiramente, mas ainda atinge com força os setores mais frágeis da sociedade, que continuam sofrendo a pior inflação da América Latina depois da Venezuela, nem a descoberta do cadáver de Santiago Maldonado, o último desaparecido argentino. Os argentinos, especialmente a classe média urbana e as pessoas que vivem do campo, extremamente beneficiados com a diminuição dos impostos, parecem decididos a dar uma oportunidade a Macri após 13 anos de kirchnerismo.

O presidente começou seu mandato em 2015 com uma vitória pela margem mínima, de menos de três pontos, e uma minoria complicada no Parlamento. Mas pouco a pouco, com erros e altos e baixos, e com um 2016 de dados econômicos péssimos e aumento da pobreza, foi impondo sua agenda de mudanças e sobretudo a confiança de que o futuro poderá ser melhor se lhe derem tempo para governar.

O apoio das classes médias urbanas e também de uma parte das classes baixas, antes o coração do voto peronista, levou Macri a ganhar em Córdoba, Santa Fé, Mendoza, na província de Buenos Aires e arrasar na capital, seu feudo natural, com mais de 50% dos votos. Mas ainda mais surpreendente são as vitórias em locais como Salta, onde governa uma das promessas de renovação do peronismo, Juan Manuel Urtubey, no Chaco e mesmo em La Rioja, por onde se candidatou o histórico cacique local e ex-presidente Carlos Menem. A queda do peronismo é generalizada e só resiste em poucas províncias empobrecidas, com exceção de San Luis, onde os históricos caciques, da família Rodríguez Saá, conseguiram ganhar contra as previsões. Macri arrasou até em Santa Cruz, a terra dos Kirchner.

Cristina Kirchner, grande protagonista da campanha com sua decisão de voltar a dar entrevistas e realizar grandes comícios que o macrismo jamais poderia organizar, parecia derrotada com as últimas pesquisas. Mas na reta final surgiu o caso de Santiago Maldonado, que chocou o país e levou à votação em um ambiente desalentado. A descoberta do cadáver do jovem de 28 anos, que desapareceu em uma operação policial de repressão aos mapuches na Patagônia, desarmou todas as previsões e fez o kirchnerismo sonhar com uma virada nos resultados das pesquisas. Mas não conseguiu, pelo contrário, sofreu uma derrota duríssima.

Em cena uma possível sucessora

A alegria se apoderou dos que foram até Costa Salguero, às margens do rio da Prata, para comemorar a vitória da coalizão liderada por Macri. Nas telas gigantes se alternava a projeção dos resultados com a da palavra “obrigado” enquanto as principais figuras da situação subiam ao palco. Uma das estrelas da noite foi a governadora bonaerense (da província de Buenos Aires), Maria Eugenia Vidal, a "Thatcher argentina", recebida com aplausos e gritos de “Mariú, Mariú”.

Todo o cenário estava montado para engrandecer o protagonismo da governadora, que muitos veem como uma possível sucessora de Macri. “Queremos deixar para trás a desolação da província para sempre”, disse Vidal. Muito emocionada, a governadora agradeceu a todos os bonaerenses pela vitória e lhes pediu para que fiquem ao seu lado, “fazendo parte da equipe dos imparáveis”.

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