Mauricio Macri não pode com a inflação, o mal da economia argentina
O aumento de 1,9% registrado em setembro estraga a euforia dos empresários reunidos no fórum mais importante do ano
A economia argentina dá boas notícias na maioria dos indicadores econômicos, com exceção de um: a inflação. De acordo com o Indec, órgão oficial de estatísticas, o aumento dos preços foi de 1,9% em setembro, índice superior inclusive às estimativas menos otimistas feitas por estudos privados, o Congresso e até os sindicatos. O número correu como ar gelado no colóquio do Idea, o encontro anual de empresários mais importante da Argentina. Apenas a euforia dos participantes em relação ao rumo geral da economia neutralizou qualquer crítica em público, enquanto Marcos Peña, chefe de Gabinete e braço direito do presidente Mauricio Macri, previa que, apesar do último índice, 2018 fechará “com a menor inflação dos últimos oito anos”.
Faltam menos de duas semanas para as eleições intermediárias, nas quais os argentinos renovarão grande parte do Congresso. Todas as pesquisas indicam que o macrismo vencerá com facilidade em todo o país, inclusive na província de Buenos Aires, onde enfrenta a ex-presidenta Cristina Fernández de Kirchner por uma cadeira no Senado. Garantido o poder político, o Governo fará as reformas econômicas que fortalecerão a guinada que a Argentina deu a partir de dezembro de 2015. No Idea, Peña pediu aos empresários que apoiem esse novo rumo com investimentos.
Até agora sobraram palavras de elogio dos empresários, mas Macri quer o compromisso de que também haverá dinheiro. Existe hesitação entre os investidores pelo que consideram uma combinação perigosa de variáveis: o déficit fiscal é alto (5% do PIB em 2017, de acordo com a consultoria Moody’s), o vermelho da balança comercial superará este ano os 6 bilhões de dólares (18,9 bilhões de reais), as taxas de juros estão acima de 26% desde abril, há defasagem cambial e, acima de tudo, inflação. A inflação em dólares já é um mal endêmico que a Argentina não consegue dominar e isso prejudica o crescimento. O FMI calcula que este ano o aumento de preços será de 22%, muito longe da meta –entre 12% e 17%– traçada em janeiro pelo Banco Central argentino (BCRA).
A Argentina ocupa o sétimo lugar entre os países com maior inflação do mundo, uma lista liderada por Venezuela, Sudão, Congo e Líbia. A estratégia de Macri até agora foi controlar a inflação com uma política de restrição monetária a cargo do BCRA. Seu presidente, Federico Sturzenegger, mantém as taxas de juros acima de 26%, mas a estratégia não deu os resultados esperados. Em apenas 9 meses, a Argentina ultrapassou a meta de inflação anual e as expectativas não são boas para depois das eleições. O Governo adiou os novos aumentos de combustível para o terceiro trimestre e ainda estão pendentes aumentos nas tarifas de eletricidade e gás, de alto impacto no IPC. O problema de base é que Macri até agora não conseguiu que a inflação subjacente –isto é, a que não leva em conta produtos regulados e sazonais– caísse abaixo de 1,5%. É consenso que se esse índice não baixar, 2018 continuará com uma inflação de dois dígitos. A política de taxas altas manteve o IPC sob controle, mas não conseguiu dobrá-lo.
A má notícia sobre a inflação contrasta com outros dados mais promissores. No início deste mês, o Indec revelou uma queda de 3,6% no índice de pobreza e aumentos de 5,1% na indústria e 13% na construção civil. A pobreza foi o dado mais relevante, porque inverteu os números dos primeiros nove meses de administração macrista, quando 1,5 milhão de pessoas ficaram pobres, atingindo 32% dos argentinos. O Governo espera que essas boas notícias sejam suficientes para superar com sucesso a prova eleitoral de 22 de outubro. Até agora, as pesquisas alimentam o otimismo oficial.
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