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Após jantar com Trump, Temer cobra “solução democrática” para a Venezuela

"Venezuelanos estão passando fome, e seu país está afundando”, advertiu o presidente dos EUA

Amanda Mars
Trump e Temer durante jantar com líderes da América Latina nesta segunda.
Trump e Temer durante jantar com líderes da América Latina nesta segunda.KEVIN LAMARQUE (REUTERS)

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, conclamou nesta segunda-feira os líderes latino-americanos a "fazerem mais" para resolver a crise na Venezuela e alertou que seu Governo está disposto a adotar novas sanções se persistir a escalada autoritária do regime de Nicolás Maduro. Trump fez essas declarações durante um jantar com vários líderes latino-americanos, em Nova York, por ocasião da Assembleia Geral das Nações Unidas.

Presente no encontro, o presidente do Brasil, Michel Temer, disse a jornalistas que "na opinião de todos os participantes do jantar é preciso uma solução democrática na Venezuela". A ideia, segundo ele, é aumentar a ação dos países latino-americanos e caribenhos "para pressionar por uma solução democrática, mas uma pressão diplomática", esclareceu. Questionado sobre se houve a discussão de sanções concretas, Temer disse que foram discutidas sanções "verbais, palavras diplomáticas, democráticas", relata a agência AFP. "As pessoas querem que lá se estabeleça a democracia, não querem uma intervenção externa, naturalmente, mas querem manifestações que se ampliem dos países que aqui estão para os países da América Latina e os países caribenhos, de maneira a pressionar por uma solução democrática na Venezuela", afirmou o presidente aos jornalistas, segundo o jornal Folha de S.Paulo.

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Entre os participantes do jantar estavam também os presidentes da Colômbia, Juan Manuel Santos – que se sentou à frente de Trump –, do Panamá, Juan Carlos Varela, e a vice-presidenta da Argentina, Gabriela Michetti.

"Peço aos líderes aqui reunidos que estejam preparados para fazer mais ao abordar esta crise incrível", disse o norte-americano no início do jantar, insistindo na necessidade de que "se restaure a democracia" no país caribenho. Trump qualificou o Governo de Maduro como uma "ditadura socialista" e um "regime corrupto" que está destruindo o seu país. "Os venezuelanos estão passando fome, e seu país está afundando. Foi um dos países mais ricos do mundo durante muito tempo, e agora o povo está passando fome. Como pode ser possível?"

A instabilidade da Venezuela se agravou nos últimos meses, e o regime de Maduro é acusado pela ONU de repressão e torturas. Essa espiral, junto com a mudança de inquilino da Casa Branca, deu lugar a medidas mais duras dos Estados Unidos contra Caracas. Se até agora todas as sanções foram dirigidas contra indivíduos concretos, já alcançando inclusive o próprio presidente, em 25 de agosto a Administração norte-americana proibiu a compra de dívida pública venezuelana e da petroleira estatal PDVSA, a fim de estrangular o financiamento do regime.

"Estamos preparados para tomar mais medidas se o Governo insistir em impor normas autoritárias aos venezuelanos", advertiu Trump. Os líderes latino-americanos convidados ao jantar compartilham do rechaço ao regime de Maduro, mas discordam no tom. Os aliados regionais ficaram especialmente incomodados com recentes declarações em que o presidente norte-americano punha sobre a mesa a possibilidade de uma intervenção militar. "Não vou descartar a opção militar, é nosso vizinho e temos tropas por todo o mundo. A Venezuela não está muito longe, e o povo de lá está sofrendo e está morrendo", disse o mandatário.

O presidente da Colômbia já manifestou a Washington sua oposição a esse rumo, como disse o próprio Santos em entrevista à Bloomberg nesta segunda-feira. "Dissemos a Trump que uma intervenção militar não está na agenda de nenhum país latino-americano", observou, acrescentando que isso "só pioraria a situação".

As conversas da noite de segunda giraram em torno de como aumentar a pressão sobre o Governo chavista a fim de obter uma transição "pacífica" para a democracia, nas palavras utilizadas por Santos, que insistiu ser esse o objetivo que une a todos. O tom do presidente colombiano, no entanto, também foi se endurecendo nos últimos meses, à medida que a situação se agravava na nação vizinha.

Em um artigo publicado no EL PAÍS em 17 de agosto, sob o título Choramos por Ti, Venezuela, Santos defendia essa mudança de postura: "Maduro me chama de traidor porque a Colômbia protestou e se opôs às crescentes violações dos direitos humanos e democráticos em seu país. Talvez pensasse que, por ter nos ajudado no processo de paz, iríamos fechar os olhos e ser cúmplices de suas arbitrariedades. O necessário pragmatismo nas relações internacionais não chega a tanto", argumentava.

Os Estados Unidos, por sua vez, também vem adotando um novo enfoque. Sua clamorosa ausência de última hora na cúpula da Organização dos Estados Americanos (OEA), em junho, acabou por impedir uma condenação coletiva a Caracas. Na noite desta segunda, Trump pediu pulso firme.

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