Barcelona protesta contra o terror entre vaias ao Rei da Espanha e gritos de separatistas
Sob o lema ‘Não tenho medo’, milhares de pessoas, entra elas o monarca, participaram de manifestação neste sábado


Os catalães saíram na tarde deste sábado às ruas em Barcelona para enfrentar o terror. Dezenas de milhares de pessoas –meio milhão, segundo a Guarda Urbana– ocuparam o Paseo de Gracia para exibir seu rechaço à violência ocorrida na semana passada em La Rambla e em Cambrils.O emblema mais comum entre os participantes eram os cartazes distribuídos pela Prefeitura com o lema "No tinc por" ["não tenho medo”] e camisetas azuis que as pessoas traziam de casa. O azul foi escolhido como a cor para tingir a mobilização porque simboliza o caminho dos refugiados do Mediterrâneo para a Europa.
A marcha foi marcada também pelos constantes apitos e vaias contra o rei Felipe VI e o presidente do Governo (primeiro-ministro), Mariano Rajoy. Também teve destaque uma significativa presença de esteladas (a bandeira separatista catalã, ornada com uma estrela branca no fundo azul) e cartazes que vinculavam o Governo e a coroa com a venda de armas ao Oriente Médio.
Os lemas dos cartazes mais vistos durante o percurso, distribuídos por entidades independentistas e da esquerda alternativa, incluíam mensagens como “Felipe, quem quer a paz não trafica armas”, “Mariano [Rajoy], queremos paz, e não vender armas” e “As suas políticas, os nossos mortos”. Boa parte dos setores mais críticos à presença do chefe de Estado procedia de uma concentração paralela que o partido CUP (Candidatura de Unidade Popular) e uma centena de grupos da esquerda alternativa convocaram para as quatro da tarde, duas horas antes do início da manifestação oficial.
A chegada dos representantes do Executivo espanhol na manifestação foi recebida com sonoros apitos e gritos em favor da independência. Os assovios contra o Rei e Rajoy se repetiam toda vez que as telas gigantes ao longo do Paseo de Gracia mostravam sua imagem.
Héctor Fernández, um barcelonês que participou do protesto com a mulher e filha, se esgoelava aos gritos contra o Rei. Justifica seu rechaço porque “o Rei não pode vir a uma manifestação pacifista e vender armas à Arábia Saudita”. Fernández acrescentou, repetindo informações aparecidas em meios digitais independentistas, que “o Governo espanhol ocultou informações sobre os terroristas dos Mossos d’Esquadra (a polícia regional catalã) e não permite que estes sejam reforçados”.
A Assembleia Nacional Catalã (ANC) havia feito um chamado à participação na manifestação com esteladas marcadas com um pano negro para protestar pela presença de Felipe VI. Apesar disso, a grande maioria dos participantes optou por não levar bandeiras de nenhum tipo. A prefeita de Barcelona, Ada Colau, teve que lembrar na sexta-feira que o dia não era para manifestar-se com bandeiras nacionais.
A Associação de Floristas de Barcelona distribuiu em vários pontos ao longo do Paseo rosas vermelhas, amarelas e brancas, as três cores da bandeira de Barcelona. Os voluntários do Òmnium Cultural foram os encarregados de entregá-las.
A população compareceu gradualmente, desde a primeira hora da tarde, ao ponto de início da marcha, na confluência entre o Paseo de Gracia e a Avenida Diagonal. Famílias, casais, avós acompanhados dos netos e estrangeiros quiseram tomar parte no ato de repulsa ao terrorismo. Mas a multidão e as cifras apresentadas pela polícia municipal ficaram muito distantes das aglomerações das diadas independentistas (manifestações no Dia da Catalunha) nos últimos anos.