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Coreia do Norte afirma que lançou um míssil intercontinental

Objetivo do país é alcançar os Estados Unidos. Trump responde Kim Jong-un: “Não tem nada melhor para fazer da vida?”

Kim Jong-un celebrou o lançamento do míssil Hwasong-14.
Kim Jong-un celebrou o lançamento do míssil Hwasong-14.Reuters

A Coreia do Norte anunciou, nesta terça-feira, que o último míssil que lançou tem um alcance intercontinental. Trata-se de um Hwasong-14 que atingiu uma altitude de 2.802 quilômetros e voou durante 39 minutos, segundo indicou o Governo em um anúncio televisado, no qual foi exibida a ordem de lançamento escrita pelo Líder Supremo do país, Kim Jong-un.

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“Kim Jong-un supervisionou pessoalmente o lançamento e declarou seu brilhante êxito diante do mundo”, afirmou uma apresentadora na transmissão especial, acompanhada de imagens do lançamento do artefato. A Coreia do Norte “possui um míssil intercontinental muito poderoso que pode chegar a qualquer parte do mundo”, declarou.

O míssil foi lançado por volta das 9h40 (hora local, 21h40 da segunda-feira em Brasília) em direção ao Mar do Japão, caindo a menos de 200 quilômetros da costa japonesa. O teste foi realizado a partir da base aérea de Panghyon, onde em 2 de fevereiro o Exército norte-coreano estreou o Pukguksong-2, também conhecido como KN-15, com um alcance de 3.000 quilômetros. Segundo as autoridades sul-coreanas, aquele míssil percorreu mais de 930 quilômetros, uma distância significativamente maior às de outros disparos realizados anteriormente. O Ministério da Defesa japonês calculou que sua altitude tinha “amplamente excedido” os 2.500 quilômetros.

Os especialistas concordam que, a partir desses dados, o projétil é um míssil intercontinental. “Se os relatórios estão corretos, este mesmo míssil poderia atingir uma distância máxima de 6.700 quilômetros em uma trajetória padrão”, afirmou David Wright, da Union of Concerned Scientists. Segundo ele, essa distância seria suficiente para que o projétil chegasse ao Alasca. Não poderia, no entanto, alcançar o Havaí ou os 48 Estados da parte continental dos Estados Unidos.

O novo teste balístico provocou uma escalada de tensões. Na segunda-feira, o lançamento provocou a ira de Donald Trump. Assim que se soube do teste, o presidente norte-americano correu para o Twitter e se dirigiu a Kim Jong-un nestes termos: “Não tem nada melhor que fazer na sua vida? É difícil acreditar que a Coreia do Sul e o Japão aguentem muito mais. Talvez a China faça um movimento de peso na Coreia do Norte e acabe com essa maluquice de uma vez por todas”.

Imagem do míssil balístico que teria alcance intercontinental.
Imagem do míssil balístico que teria alcance intercontinental.prisa

O Exército norte-americano afirmou que se trata de um míssil de médio alcance, mas o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, disse, em uma reunião de emergência do Conselho de Segurança Nacional, que existe a possibilidade de o foguete ter um alcance intercontinental, o grande objetivo estabelecido pelo regime norte-coreano este ano.

O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, qualificou este último teste como “inaceitável” e disse que “claramente mostra que a ameaça (norte-coreana) está aumentando”, segundo a EFE.

Na última sexta-feira, Trump declarou que sua paciência com a Coreia do Norte “tinha se esgotado”. “Enfrentamos a ameaça de um regime implacável e brutal, cujo programa balístico e nuclear requer uma resposta firme. Nosso país busca a paz e a prosperidade, mas sempre nos defenderemos e defenderemos nossos aliados”, proclamou em um discurso na Casa Branca, acompanhado por seu homólogo da Coreia do Sul, Moon Jae-in. Os dois, no entanto, deixaram aberta a porta ao diálogo com o regime norte-coreano se este cumprir com certas condições, algo que o novo presidente sul-coreano tem defendido desde que chegou ao poder.

Pyongyang entrou em rota de colisão com Washington. Há 20 anos, o regime norte-coreano vem tentando aperfeiçoar seu arsenal para obter um míssil intercontinental que alcance os Estados Unidos. Nesse período, conseguiu desenvolver uma bomba atômica de 2 quilotons (o dobro da que destruiu Hiroshima), e em seu raio balístico já entram a Coreia do Sul e o Japão. No mês passado, testou com êxito um motor que lhe permitirá lançar mísseis intercontinentais, segundo os Estados Unidos.

Diante do fracasso da ONU, a Casa Branca apostou por mobilizar seu poderio naval e pressionar a China, que absorve 90% do comércio norte-coreano, para que contenha a Coreia do Norte. Por enquanto, Pequim não respondeu positivamente. Esta semana, durante a cúpula do G20, em Hamburgo, os dois presidentes têm uma reunião prevista na qual devem tratar desse explosivo assunto.

Além disso, o lançamento coincide com o aumento dos rachas entre Washington e Pequim por causa do programa de armas norte-coreano. Após o encontro de abril entre Trump e o líder chinês, Xi Jinping, o presidente norte-americano optou por baixar o tom com a China em assuntos delicados como o comércio bilateral em troca de incentivá-lo a pressionar Pyongyang.

Mas nas últimas semanas, os tuítes do presidente e várias ações tomadas pela administração norte-americana sinalizam que Trump está perdendo a paciência com Pequim. Entre essas ações está a imposição de sanções a um banco chinês acusado de lavar dinheiro procedente da Coreia do Norte, a venda de um novo pacote de armas a Taiwan e o envio de um navio de guerra norte-americano para perto das ilhas Paracel, no Mar da China Meridional, foco de disputas de soberania entre Pequim e vários de seus vizinhos.

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