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Menstruação não afeta a capacidade intelectual das mulheres

Pesquisadora publica estudo para descartar um mito que suas pacientes repetiam

Javier Salas
As mudanças hormonais do ciclo menstrual não alteram a capacidade cognitiva.
As mudanças hormonais do ciclo menstrual não alteram a capacidade cognitiva.Energy.gov

“A função cognitiva das mulheres não depende das mudanças hormonais.” Com essa frase contundente, a pesquisadora Brigitte Leeners, do Hospital Universitário de Zurique (Suíça), resume um estudo que descarta mudanças nas capacidades mentais das mulheres ao atravessarem as variações hormonais do ciclo menstrual.

As mudanças hormonais não tiveram nenhum impacto na chamada memória de trabalho, na fluidez verbal, no viés cognitivo e na atenção
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A equipe de Leeners analisou as funções cognitivas de um grupo de mulheres de Hannover (Alemanha) e Zurique ao longo de dois ciclos menstruais, com quatro testes por ciclo, para explorar a possível mudança durante esses períodos em que há alterações nos níveis de hormônios como estrogênio e progesterona. Após analisar os resultados das participantes, os pesquisadores observaram que as variações hormonais não tiveram nenhum impacto na chamada memória de trabalho (a memória de curto prazo necessária para realizar tarefas e processar informações), na fluidez verbal, no viés cognitivo e na capacidade de prestar atenção em duas coisas ao mesmo tempo. Nenhum dos hormônios estudados teve efeito repetível e consistente nas capacidades cognitivas das participantes. Os cientistas buscavam mudanças nas mulheres – e entre elas – que pudessem ser medidas nos dois ciclos, mas não encontraram nenhum.

Além disso, conforme diz a equipe no estudo publicado na revista Frontiers in Behavioral Neuroscience, em grandes ensaios controlados e aleatórios com mulheres que realizam a transição à menopausa não se detectaram associações significativas entre a terapia com estrogênio e a capacidade cognitiva.

Leeners explica que realizou o trabalho, entre outros motivos, para descartar uma história que ouve bastante no consultório. “Como especialista em medicina reprodutiva e psicoterapeuta, atendo muitas mulheres que têm a impressão de que o ciclo menstrual influi em seu bem-estar e desempenho cognitivo”, diz ela. Vendo que estudos anteriores – com resultados díspares ou não conclusivos – partiam de uma metodologia que podia ser melhorada, com poucas mulheres e apenas um ciclo menstrual, a equipe decidiu examinar a questão com ferramentas mais avançadas. Além disso, como explica o estudo, “na literatura científica, os hormônios sexuais femininos e o ciclo menstrual têm sido relacionados com o rendimento cognitivo”, outra razão pela qual os pesquisadores decidiram verificar essa suposta relação.

“Como especialista em medicina reprodutiva e psicoterapeuta, atendo muitas mulheres que têm a impressão de que o ciclo menstrual influi em seu bem-estar e desempenho cognitivo”, diz Leeners

Para Leeners, não há dúvida. “As mudanças hormonais relacionadas com o ciclo menstrual não mostram nenhuma associação com o desempenho cognitivo. Embora possa haver exceções individuais, o desempenho cognitivo das mulheres geralmente não é alterado pelas mudanças hormonais ocorridas no ciclo menstrual.” Consultada sobre possíveis vieses negativos em relação às mulheres nas pesquisas anteriores, Leeners explicou a Materia que os estudos com as mulheres costumam ser mais complicados de realizar, já que precisam ser controlados quanto a possíveis efeitos hormonais. Além disso, pode ser necessário demonstrar que tal efeito hormonal não existe e, portanto, demandam mais medições e participantes. “Assim, as mulheres estão atualmente sub-representadas nos estudos, e a ciência só está começando a abordar corretamente as diferenças entre homens e mulheres”, afirma.

A cientista acredita que seu trabalho é apenas um primeiro passo, que deve preparar terreno para pesquisas mais sólidas. Por isso, diz ela, para se obter uma imagem mais completa dessa relação entre hormônios e capacidades cognitivas, também há trabalhos que focam em outras funções cerebrais, nas preferências por alimentos específicos e nas respostas aos estímulos sexuais na relação com as mudanças hormonais.

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