_
_
_
_
_

Venezuela abandona OEA e qualifica de “infantil” a diplomacia do México

Chanceler venezuelana Delcy Rodríguez se retira da cúpula que pretendia adotar sanções contra a convocação da Assembleia constituinte pelo regime chavista

Jacobo García
A chanceler venezuelana Delcy Rodríguez.
A chanceler venezuelana Delcy Rodríguez.PEDRO PARDO
Mais informações
Papa Francisco pede “soluções negociadas” para a crise da Venezuela
Venezuela anuncia sua retirada da OEA
EUA condenam chavismo por “calar vozes da oposição” na Venezuela
Dezenove países denunciam na OEA violação da ordem constitucional na Venezuela

“Muito se falou que há uma crise humanitária, mas é apenas uma desculpa a mais para uma intervenção na Venezuela. E não voltarei a esta Assembleia enquanto formos um país livre e soberano”, disse na segunda-feira a chanceler venezuelana Delcy Rodríguez, antes de se retirar da sala de maneira exaltada. A Venezuela nem mesmo esperou para ouvir o comunicado final da cúpula e queimou seus navios diante da diplomacia de todo o continente ao anunciar que abandona a Organização dos Estados Americanos (OEA). A proposta do México, que procurava forçar um diálogo entre governo e oposição na Venezuela, não obteve os 23 votos necessários para ser aprovada – conseguiu 20 dos 34 apoios possíveis.

A chanceler Rodríguez saiu distribuindo críticas ao secretário-geral Luis Almagro, a quem chamou de “instigador da violência”, e à diplomacia mexicana, que qualificou de “infantil”; dirigindo-se unicamente ao grupo de países “que não se dobraram”, como Nicarágua, Cuba, Equador e alguns caribenhos, a chanceler alertou: “Tomem cuidado e vigiem sua institucionalidade para que não aconteça uma grave violação à soberania como a que pretendem com a Venezuela”.

“Assim, seja o tom alto, médio ou baixo, desconhecemos qualquer resolução e o mecanismo desleal que se seguiu até chegar aqui”, acrescentou a nova estrela midiática e diplomática do chavismo, que advertiu que outros países também estudam seguir seu exemplo e abandonar a OEA diante do “perfil que está tomando”, afirmou sem querer nomeá-los.

Apesar de chegar com a delegação mais numerosa, mais de 20 pessoas, a Venezuela se retirou antes do início formal da 47ª Assembleia da OEA, da qual poderia sair em desvantagem devido à iniciativa de 14 países, entre eles os de maior peso da região, como México, Colômbia, Argentina e Brasil – com o apoio dos Estados Unidos – que buscam uma resolução que condene de forma categórica a gestão de Nicolás Maduro.

Horas antes, o chanceler mexicano Luis Videgaray, defensor da proposta mais dura contra a Venezuela, declarou que só apoiaria “uma resolução clara”, em referência a um texto que deveria mencionar a deterioração das condições democráticas na Venezuela e a necessidade de manter “o respeito à Assembleia Nacional, a elaboração de um calendário eleitoral, a liberdade de presos políticos e o freio ao processo Constituinte que polariza ainda mais a sociedade”.

“Querem um calendário eleitoral”, disse a chanceler venezuelana, “pois aqui está: 30 de julho, constituinte; de 8 a 10 de agosto, inscrição para as eleições; 10 de dezembro e em dezembro de 2018, eleições presidenciais”, respondeu desafiante a chanceler.

A Assembleia constituinte foi um dos temas mais polêmicos. Enquanto a Venezuela considera uma ingerência pedirem sua suspensão, os países moderados dentro do G-14 (os que querem uma resolução condenatória contra a Venezuela) conseguiram incluir a palavra “reconsiderar” no lugar de “suspender” a Assembleia.

Minúcias diplomáticas à parte, a reunião preliminar da OEA manteve o tom ríspido com que começou.

Para defender a causa venezuelana em Cancún, a chanceler chegou decidida a enfrentar sua última batalha ideológica dentro e fora dos gabinetes. No lado oposto, o novo adversário, o México, que empunhou a bandeira dos países críticos. Jogando em casa, o país norte-americano busca o sucesso diplomático com uma dura condenação ao Governo de Maduro, jamais conseguida até agora.

A tensão entre esses dois atores, México e Venezuela, e a que se vive nas ruas do país caribenho transferiram-se por alguns momentos para o lobby do hotel Moon Palace, sede da Assembleia da OEA e onde as delegações estão hospedadas. Na noite de domingo, os venezuelanos Luis Florido, em nome de um grupo de cinco deputados da oposição, e o articulista Gustavo Tovar discutiram com membros da delegação venezuelana. Depois de vários minutos de insultos e acusações, a chanceler Rodríguez, que chegou nesta segunda-feira a Cancún, reagiu postando no Twitter fotos do confronto e responsabilizou o chanceler mexicano por qualquer problema de segurança. “Nem o México nem a OEA podem controlar o acesso de milhares de pessoas que vêm fazer outras coisas em Cancún. O Governo do México é responsável dentro do perímetro e o que ocorreu, que foi apenas um incidente verbal, aconteceu fora desse espaço”, respondeu Videgaray.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_