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Venezuela tenta impedir condenação pela OEA com apoio dos países do Caribe

14 países da região buscam uma resolução contra a Constituinte, para a qual precisam do respaldo dos aliados do chavismo

Um grupo de venezuelanos no aeroporto de Cancun, antes da Assembleia da OEA.
Um grupo de venezuelanos no aeroporto de Cancun, antes da Assembleia da OEA.REUTERS

A crise por que passa a Venezuela voltará a ser tema de debate na Organização de Estados Americanos (OEA). Antes da Assembleia Geral, a ser realizada na terça-feira, 20 de junho, em Cancún, na segunda-feira os ministros de Relações Exteriores se reunirão na cidade mexicana para abordar pela enésima vez a situação do país sul-americano. Um bloco de 14 países, entre eles os de maior peso na região, como México, Colômbia, Argentina, Peru — com o respaldo dos Estados Unidos, cujo secretário de Estado, Rex Tillerson, não comparecerá —, buscam uma resolução que condene de maneira definitiva a atuação do Governo de Nicolás Maduro e a exigência de que não se realize uma Assembleia Constituinte. Para isso, necessitam do apoio dos países caribenhos, tradicionais aliados do chavismo. Está previsto que a ministra venezuelana Delcy Rodríguez vá ao encontro, apesar de ter declarado sua intenção de retirar a Venezuela da OEA.

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As delegações continuavam negociando neste domingo um consenso entre as duas resoluções que ficaram em stand by em 31 de maio passado, no último encontro entre os chanceleres: apresentada por Peru, Canadá, Estados Unidos, México e Panamá — que conta com o respaldo de outros países, como Colômbia e Argentina —, e a do bloco de países da Comunidade do Caribe. As duas pedem o cessar imediato da violência e o início de um novo processo de diálogo. A diferença está em que a primeira pede à Venezuela que não realize a Assembleia Nacional Constituinte e que liberte dos presos políticos.

A aprovação de uma declaração conjunta em uma reunião de ministros das Relações Exteriores depende da inscrição de pelo menos 23 dos 34 membros, dois terços dos países representados, todos os do continente, exceto Cuba. A tarefa é árdua para o bloco dos 14, que há meses vem demonstrando seu repúdio quanto aos resultados da Venezuela em vários comunicados. Precisam do apoio de pelo menos 9 dos 14 países que integram a Comunidade do Caribe (Caricom), aliados tradicionais da Venezuela, especialmente desde que Hugo Chávez investiu na Petrocaribe durante a época de bonança dos preços do petróleo. Não conseguindo, a outra opção prevista por esse tipo de G-14 é aprovar um projeto de resolução no âmbito da Assembleia Geral. Nesse caso, seriam necessários 18 votos, ou seja, o apoio de quatro países do Caribe.

Pelo menos três fontes diplomáticas de alto nível ligadas aos 14 países que pedem a anulação da Assembleia Constituinte concordavam que se intensificou a pressão em relação aos países caribenhos, mas duvidam que seja possível conseguir os nove apoios necessários. Entre os mais partidários a ceder estariam Jamaica, Barbados, Belize e Santa Lucía, enquanto a oposição vem de Haiti, San Vicente e Granadinas e Suriname, entre outros.

A ministra venezuelana Delcy Rodríguez, cuja chegada a Cancún estava prevista para a tarde do domingo, pretende evitar a todo custo que essa resolução siga adiante. Por isso, apesar de ter anunciado em abril que a Venezuela sairá da OEA, vai à reunião de Cancún. Sua presença, porém, incomoda as autoridades do país anfitrião. O México foi um dos países que se mostrou mais ativo nos últimos meses em criticar os desdobramentos da Venezuela e a atuação do Governo de Maduro. “A Venezuela não é uma democracia”, disse recentemente o ministro das Relações Exteriores, Luis Videgaray. As fontes diplomáticas consultadas temem que Delcy Rodríguez aproveite sua intervenção para atacar o México e tirar da gaveta temas espinhosos para o anfitrião, como o desaparecimento dos 43 estudantes de Ayotzinapa.

Enquanto isso, na Venezuela o Governo de Maduro parece ter se acomodado nos últimos dias, apesar do contratempo representado pela saída da promotora geral. Os protestos diminuíram de intensidade e o chavismo segue em frente em seu afã de liquidar toda a resistência contra a instalação da Assembleia Nacional Constituinte.

Sem o repúdio vigoroso nas ruas, diminui a urgência de dialogar com a oposição, apesar de a comunidade internacional insistir que a saída da crise vai depender de um processo de diálogo. A mediação do ex-chefe de governo espanhol José Luis Rodríguez Zapatero fracassou porque ele não é considerado um interlocutor confiável para a oposição. Foi acusado pelo governador do Estado de Miranda, Henrique Capriles, “de ser agente do governo”, apesar de continuar fazendo esforços para tentar ajudar a superar a crise da Venezuela. Zapatero se tornou um mensageiro entre as partes, porque leva e traz propostas entre um e outro grupo.

Um ex-membro de destaque da equipe de oposição que dialogou com o governo no fim do ano passado costuma afirmar que o ex-presidente sempre “está suando a camisa”. Suas conquistas mais evidentes são as libertações dos presos políticos Braulio Jatar, Francisco Márquez e Gabriel San Miguel, estes últimos integrantes da Voluntad Popular, o partido de Leopoldo López, a quem comunicou, sem dúvida, a última oferta do governo: casa por prisão, algo a que o preso político se opôs, segundo fontes próximas a ele.

A Unasul, organização que agiu como facilitadora do diálogo de 2016, lutava há algumas semanas para não deixar morrer as negociações, apesar de a oposição insistir que as condições não estão dadas. A novidade é que incorporaria uma comissão que daria prosseguimento aos acordos caso as partes concordassem.

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