Maradona: “Dani Alves atua em uma posição onde não se joga futebol”
Ídolo argentino rebate críticas do lateral brasileiro, que disse que o camisa 10 "não é um bom exemplo para os jovens"
“Eu não minto nem traio ninguém, ao contrário de muitos que disseram desta água não beberei e engoliram uma garrafa inteira”. Cada aparição pública de Diego Armando Maradona faz o tempo parar na Argentina. Nesta segunda-feira, o astro concedeu uma entrevista exclusiva, em sua casa em Dubai, ao canal de esportes TyC Sports, na qual, como de hábito, ninguém se salva.
Sampaoli e a seleção argentina
O ex-campeão do Mundo, no México em 1986, é até hoje a referência máxima na hora de se falar da seleção argentina. Assim, cada pessoa que veste a mesma camiseta tem de passar pelo purgatório maradoniano, e as consequências podem ser devastadoras. O novo treinador da equipe, Jorge Sampaoli, que começou com duas vitórias, contra o Brasil e contra Cingapura, ainda não tinha sido vítima dele. Até hoje: “Digo diretamente. Sanpaoli me enganou. Ele me ligou quando estávamos na Copa Davis, na Croácia, disse eu seria feita uma homenagem em Sevilha, que queria me conhecer e falar sobre futebol. Quando aconteceu a coisa da seleção, nunca mais ligou. E depois fico sabendo que ele trabalha com oito treinadores. Se é para ter oito treinadores, melhor ficar em casa. Com oito, para que ele serve? Estou muito aborrecido com o Corcho [cortiça, apelido que inventou para o novo técnico]”.
“Acho vergonhoso jogar com Cingapura. Não podemos entregar tudo o que se construiu de Menotti para cá. Eram 11 rapazes pegos no porto de Cingapura e nos quais enfiaram a camiseta do país. Com o Brasil tudo bem, mas com Cingapura não, rapazes. Se não, melhor fazer um time entre nós mesmos e jogar com a seleção”.
“Tomara que essa história de contrato de cinco anos não seja verdade. Em vez de se reunir com Macri, é melhor se reunir com Menotti”, conclui. Em relação à primeira lista de convocados, em que Sanpaoli deixou seu ex-genro, Sergio Agüero, de fora, Maradona avaliou que “a lista foi feita pelo Verón. É melhor o Verón fazer a lista da Inglaterra e não a da Argentina”. “Sampaoli não sabe mais do que Bauza. Foi a Barcelona e levou cinco. Se você chuta a bola para Sanpaoli ele a devolve com a mão”.
Tévez e Riquelme
Os dois ídolos do Boca Juniors mantêm um conflito aberto que voltou a esquentar na semana passada, quando Tévez declarou, também pela TyC Sports, que Riquelme “não faz bem nem para o clube nem para os meninos que estão jogando no Boca”. Agora, é Maradona quem assume um dos lados: “Carlitos sempre foi um dos meus preferidos. Não tenho nenhuma dúvida de que se existe um jogador do povo é ele, e não o outro, que não tem sangue nas veias”. “Vivemos comparando, sempre. Carlitos tem o tempo acumulado, as partidas disputadas e vividas para dizer o que bem entende. Por que não se pode falar de outro?”. “Quanto à idolatria, cada um tem suas preferências. Ruqelme nos deu muito, mas na hora de escolher fico com Carlitos. Não em detrimento do outro. É preciso dizer que os dois atuaram pelo Boca e nos deram muita felicidade. O resto não conta. Eu achava que [o zagueiro colombiano do Boca] Bermúdez era um chefe, mas ele deixa escapar até uma tartaruga”
Lionel Messi
Maradona soube compartilhar várias horas de convivência com o camisa 10 do Barcelona quando foi seu treinador no Mundial da Alemanha, em 2006, e, desde então, transformou-o em um de seus protegidos. “Eu falei no ano passado aquilo sobre Cristiano e Messi porque Leo estava contundido –refletiu. Cristiano estava à toda. Prefiro Messi porque ele joga com a bola, mas o outro é um animal e eu bem que gostaria que ele fosse argentino. Nós tivemos um jogador parecido, que foi Batistuta. Gosto mais do Messi, mas ele não está acima de Cristiano. O fato de gostarmos mais da maneira como Messi leva a bola não significa que ele é melhor do que Cristiano. Na hora H, escolho Messi”. “Não me lembro da última vez em que vi Messi jogar mal. Messi vai entrar para a história do futebol. Dribla todo mundo como cones”.
Daniel Alves
O lateral da Juventus, de Turim, usou vários minutos de uma entrevista para atacar Maradona. Entre outras coisas, o brasileiro questionou o gol que o argentino fez com a mão contra a Inglaterra na Copa de 1986 no México e disse que aquilo “não é um exemplo para os jovens”. Fiel ao seu estilo de lançar frases sintéticas e estridentes, Maradona retrucou: “Dani Alves fala assim porque atua em lugar do campo onde não se joga futebol. É um babaca. [Na final da Champions, só acertou quatro dos 28 cruzamentos que tentou fazer”.
Julio Grondona e a FIFA
Esta talvez tenha sido, em princípio, a parte mais delicada da entrevista, pois o próprio Maradona anunciou antecipadamente que usaria alguns minutos para atacar a família Grondona em relação à participação do ex-manda-chuva da AFA no caso FIFA gate. Alejandro Burzaco, acionista importante da TyC Sports, foi um dos envolvidos no escândalo. Está hoje em liberdade condicional depois de pagar uma fiança milionária. Antes de passar abruptamente para outro assunto, Maradona chegou a dizer que, dentro desse caso, “agora terão de pôr os dedos no pianinho a filha (Liliana) e os dois filhos, Humbertito e Julito. Tudo se esclarece, e Grondona se safou, pois morreu antes”.
“Converso sobre isso com (o presidente da FIFA, Gianni) Infantino. Para que haja uma apuração calma de nossa parte, mas com todo o peso da lei quando entram em campo a procuradoria, a política, a AFIP. Aí eles, Humbertito, Julito e a filha (de Grondona), terão de mostrar como fizeram aquele dinheiro sem ter nenhum recibo de remuneração”, provocou.
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