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Filho de mafioso italiano mata o melhor amigo por um ‘like’ no Facebook

A nova geração da Camorra e da ‘Ndrangheta atiram, gastam e alardeiam sua violência sem pudor

Daniel Verdú
Francesco, o jovem assassinado pelo amigo e filho de um chefe da máfia italiana.
Francesco, o jovem assassinado pelo amigo e filho de um chefe da máfia italiana.Reprodução

Eram amigos íntimos e tinham só 15 anos. Mas ultimamente Alex Pititto, filho de um capo (chefe) da ‘Ndrangheta (grupo mafioso italiano) e último membro de uma longa saga de delinquentes, suspeitava que seu colega Francesco andava atrás de sua namorada. Nada concreto, alguns gestos, comentários, olhares... A pulga atrás da orelha. A gota que transbordou o copo foi esse maldito like que Francesco deu em uma foto. Não tinha que ter feito isso. Uma falta de respeito, pensou Pititto. Então o chamou para conversar nos arredores de Mileto (Itália), em um belo campo de oliveiras, sem um assunto concreto em pauta. Assim que se encontraram, sacou o revólver e deu três tiros no amigo. Era uma questão de honra.

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Assim caminha o mundo das máfias na Itália. Já foi denunciado por todos os relatórios policiais, judiciais e até no último livro de Roberto Saviano, La paranza dei bambini (em tradução livre, “O esconderijo dos meninos”, ainda sem tradução para o português). Um romance cujo início é praticamente calcado na cena que aconteceu na segunda-feira na Calábria. Os filhos dos grandes expoentes da Camorra e da ‘Ndrangheta começam a reproduzir já os códigos de conduta e suposta honra que aprenderam em casa.

Imagem postada no Facebook de um dos 'babyboss' presos em plena comemoração.
Imagem postada no Facebook de um dos 'babyboss' presos em plena comemoração.

O assassino era filho de uma família sempre presente na crônica policial. Seu pai, Salvatore, de 49 anos, codinome O tio, a mãe Maria Antonia Messiano, o irmão de 21 anos, o primo Pasquale (cunhado do arrependido Michel Iannello, o assassino de Nicholas Green) foram presos em janeiro passado na operação Stammer. Era um clã dedicado ao tráfico de cocaína trazida da América do Sul. Então a polícia não tem dúvida de que o garoto recebeu uma educação criminal ortodoxa e sacou a pistola de casa, de uma das gavetas do avô.

O que chama mais atenção é que os dois meninos eram inseparáveis. Em sua conta no Facebook, como afirmou na quarta-feira, dia 31 de maio, o jornal Corriere della Sera, o assassino tinha escrito embaixo da foto de seu amigo: “A amizade é algo na boca de todos, mas no coração de muito poucos”. Um assunto, o do coração, que se presta a múltiplas interpretações nas mãos de qualquer capo mafioso. A conta da vítima na mesma rede social permanecia ativa e sua família postou uma foto dele na qual se lia: “Tão perfeito que os anjos te quiseram com eles. Saudades. Boa viagem, Príncipe”. Outro comentário denunciava como os meninos da Calábria estão cada vez mais familiarizados com o uso de armas e recebem uma educação violenta em cuja lógica não é demais dar três tiros em um amigo.

Todos os especialistas em máfias da Itália destacam a periculosidade das novas gerações de babycapos, como são chamados no país. São compulsivos, ostentatórios, de gatilho fácil e sem nenhum medo de passar uma temporada na cadeia. “São jovens e têm a vida toda pela frente. Para eles, dá no mesmo”, explicou recentemente Roberto Saviano em uma entrevista a este jornal em função das novas gangues camorristas do centro de Nápoles.

O jornal Repubblica informou há alguns dias sobre a prisão de um capo camorrista de apenas 16 anos acusado da morte de dois membros de seu próprio clã. A impunidade com a qual se movimentava, a quantidade de dinheiro que gastava em champanhe na praia com seus amigos e a obscenidade com que exibia suas armas e carros (tem uma foto com uma Ferrari sem sequer ter habilitação) fizeram disparar todos os alarmes. No depoimento de um dos capos da gangue, pai de outro nos meninos, é possível ver como funciona o cérebro educativo dos progenitores mafiosos: “Tinha dito a ele: ‘Não é o momento... quando chegar o momento, te digo, mas agora não é”.

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