Massa: “Com minha experiência de agora, teria ganhado vários títulos na Ferrari”
O experiente piloto conta como desistiu da aposentadoria e resolveu continuar na Williams
Felipe Massa (São Paulo, 36 anos) passou a temporada de 2016 inteira se despedindo da Fórmula 1, até que na última hora a Williams voltou a chamá-lo e ele recuou da sua decisão para ocupar o lugar de Valtteri Bottas, que foi para a Mercedes. A estrutura de Grove (Grã-Bretanha) precisava dele como referência para Lance Stroll, um estreante de 18 anos com mais dinheiro que credenciais. Nesta conversa com o EL PAÍS em um cenário de luxo, a Terraza Martini instalada atualmente no Port Vell de Barcelona, o brasileiro admite estar surpreso com a decisão de Fernando Alonso de não disputar o Grande Prêmio de Mônaco, dentro de duas semanas, para em vez disso correr as 500 Milhas de Indianápolis: “Mesmo assim, torcerei por ele e gostaria que ganhasse”.
Pergunta. Após 15 anos no Mundial da F-1, entendo que você não tem problemas de dinheiro. Como convenceu a sua mulher de que, depois de anunciar sua aposentadoria, iria correr por mais um ano?
Resposta. Isso é o que eu fiz a minha vida toda, e a família sempre me seguiu. No final do ano passado, o Valtteri ainda tinha contrato, e o Lance Stroll chegou. Eu não queria assinar com nenhuma equipe que já de cara não tivesse chance de nada. Mas depois, com a saída do Bottas, a Claire [Williams, a chefe da equipe] me chamou e me ofereceu essa possibilidade. A essa altura, minha família me apoiou como sempre fez até então.
P. O que você teve que deixar para depois?
R. Teria continuado correndo em outras categorias, porque é o que eu mais gosto de fazer – desde que possa correr num certo nível e ser competitivo. O que acontece é que, quando você está na Fórmula 1, isso significa participar do melhor campeonato do mundo. Quando você sai, pode encontrar alguma competição divertida, mas está claro que será menos importante. De toda forma, também tenho uma família, um filho [Felipinho], que certamente precisará de mim.
P. Dizem que um piloto com os anos perde em explosão, mas ganha em experiência. Num duelo com o mesmo carro entre o atual Felipe Massa e o que ficou às portas do título em 2008, quem ganharia?
R. Nunca tive a certeza de ter perdido a velocidade que tinha naquela época. Certamente já não sou aquele tipo de piloto para o qual cada volta da corrida era como uma volta cronometrada. Isso acontece quando se é jovem. Mas é incrível o quanto a experiência ajuda. Agora vejo e entendo muitas coisas que antes não era capaz de assimilar. Essa experiência me ajudou na pista em uma infinidade de situações, e por isso cheguei aonde estou. Ao mesmo tempo, se naquela época eu tivesse a experiência de hoje em dia certamente teria acumulado muitos mais pontos. Com minha experiência atual, certamente não só teria ganhado o título de 2008 como também alguns outros.
P. Você dividiu equipe com Bottas na Williams por várias temporadas. Em Sochi, vimos que é capaz de ganhar. Mas acha que está preparado para duelar pelo título com Hamilton ou Vettel?
R. Quando o Valtteri assinou pela Mercedes, eu já dizia que achava impossível prever se ele seria capaz de superar o Lewis, porque se trata do piloto que marca a diferença para todos. Mas tenho muito claro que ele se sairá muito bem. Se será campeão ou não, isso não sei. Saiu da Williams preparado para correr numa escuderia das grandes, como demonstrou em apenas três grandes prêmios. Para estar em condições de disputar o título com Hamilton, precisa terminar na frente dele nas próximas duas ou três provas. Se o Lewis fizer 20 ou 25 pontos a mais do que ele, então [Bottas] terá que trabalhar para ele durante todo o ano. Isso funciona assim, porque, por exemplo o Raikkonen trabalhará para o Vettel o ano inteiro.
P. Falando da Ferrari, você podia imaginar o salto de qualidade que a Scuderia deu neste 2017?
R. Não, e acho que ninguém podia imaginar. Em função dos dois últimos anos, não havia nem um só indicativo que levasse a pensar que desta vez a Ferrari seria capaz de se medir com a Mercedes. Eu achava que a única equipe capaz de se aproximar seria a Red Bull, mas aconteceu o contrário do que todo mundo imaginou. De qualquer forma, isto que aconteceu é fantástico para as pessoas, para o espetáculo. Veremos se a Ferrari ganhará, mas o simples fato de vê-la lá em cima é o melhor que poderia acontecer para a F-1.
P. Como você interpreta a decisão de Alonso de não correr em Mônaco para disputar as 500 Milhas de Indianápolis?
R. Numa situação normal, se a McLaren estivesse competindo de forma mais ou menos normal, isto não deveria acontecer em hipótese alguma. Mas em tais circunstâncias, e com a estrutura usando esta decisão do Fernando como uma operação de marketing, pois bem... Na minha opinião, se as 500 Milhas fossem disputadas entre dois GPs da F-1, seria aceitável. No passado, quem já fez isso foi o Nico Hulkenberg, que disputou e ganhou as 24 Horas de Le Mans (2015). Mas não correr em Mônaco para correr em Indianápolis não é normal. Mesmo assim, torcerei por ele e gostaria que ganhasse. Eu o respeito muito por tudo o que está fazendo, algo único.
P. Seu companheiro, Stroll, é um estreante de 18 anos que não teve um início fácil. Acumula vários acidentes e nenhum ponto em seu currículo. O que diferencia o caso dele do de Max Verstappen na Toro Rosso e na Red Bull?
R. Duas coisas. A primeira é que o Verstappen chegou à F-1 por seu talento e por resultados. O Lance chegou por outro motivo. Mas, ao mesmo tempo, o Stroll também teve má sorte. Na Austrália teve um problema com o carro, e nas duas provas seguintes o mandaram para fora. Em Sochi [terminou em 11º.] rodou na primeira volta, mas depois demonstrou ter um bom ritmo. Sem essa derrapada da primeira volta, certamente teria pontuado, e isso teria feito as pessoas relaxarem e reduzirem um pouco a tensão. O Lance precisa de um fim de semana tranquilo, que não lhe aconteça nada. É muito jovem e certamente vai errar, assim como ocorreu com o Verstappen. Esses meninos são jovens demais. Eu quando comecei tinha 20 anos e cometi muitos erros. Mas com certeza ele vai melhorar, e todos os conselhos que eu puder lhe dar para ajudar eu darei.
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