Presidente do Paraguai renuncia à reeleição para acabar com crise política
Conservador Horacio Cartes comunica, duas semanas depois dos distúrbios que levaram ao incêndio do Congresso, que não vai se apresentar “em nenhum caso” às eleições de 2018
Horacio Cartes, presidente do conservador Partido Colorado, publicou na segunda-feira em sua conta no Twitter uma carta dirigida ao arcebispo de Assunção na qual comunica seu “gesto de renúncia”, que espera “possa servir para aprofundar o diálogo voltado para o fortalecimento institucional” do Paraguai. “Tomei a decisão de não me apresentar, em nenhum caso, como candidato a presidente da República para o período constitucional 2018-2023”, diz Cartes em sua carta a Edmundo Valenzuela, presidente da Conferência Episcopal Paraguaia e mediador na violenta crise política aberta no país sul-americano.
O anúncio chega três semanas depois que senadores do governo, aliados com legisladores da esquerdista Frente Guasú, do ex-presidente Fernando Lugo, aprovaram em uma sessão plenária extraordinária quase secreta um projeto de emenda constitucional para permitir a reeleição presidencial. Isso provocou um protesto convocado por membros dissidentes de seu partido e da principal oposição, o também conservador Partido Liberal, que terminou com violentos confrontos entre a polícia e os manifestantes, que chegaram a colocar fogo em parte das instalações do Congresso Nacional. Os confrontos terminaram com um morto – um líder da juventude do Partido Liberal que recebeu, supostamente, disparos de um policial na sede do grupo político – e centenas de feridos e presos.
Depois que Cartes comunicou sua decisão na segunda-feira, a senadora Lilian Samaniego, ex-presidente dos Colorados – o partido do presidente – disse que o partido vai continuar tentando aprovar a emenda à Constituição para realizar um referendo no qual o povo poderá votar sobre a possibilidade ou não de reeleição presidencial. “Vamos continuar defendendo que isso culmine na decisão da cidadania pelo sim ou pelo não à reeleição. Não muda nada nisso, apenas o gesto de grandeza do presidente de dar um passo de lado para que tudo continue e possamos buscar essa institucionalidade”, afirmou Samaniego em uma coletiva de imprensa na residência presidencial. A senadora espera que a Câmara dos Deputados aprove o projeto de emenda que os 25 senadores votaram em 31 de março, algo que, de acordo com fontes legislativas, poderia acontecer nesta quarta-feira.
No entanto, o presidente do Partido Colorado, Pedro Alliana, afirmou em uma entrevista de rádio após o anúncio de Horacio Cartes que “como membro do Partido Colorado e apoiador do presidente Cartes, não faz sentido continuar com a emenda”. “O presidente tomou essa decisão pela tensão que estava ocorrendo e porque isso impedia que continuasse com seu trabalho”, disse à rádio Hoy.
Na terça-feira está prevista a terceira sessão da mesa de diálogo que Cartes convocou para tentar resolver a crise, mas que nunca teve a participação do presidente do Partido Liberal, Efraín Alegre. Há um protesto convocado pelo Partido Liberal na terça-feira na frente do Congresso contra a reeleição presidencial.
No primeiro fim de semana de abril, logo após os protestos de 31 de março, o presidente destituiu o ministro do Interior, Tadeo Rojas, e o comandante da polícia, Críspulo Sotelo, após a morte do líder da juventude da oposição. A Promotoria demorou uma semana para comparecer ao lugar dos fatos.
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