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A revolução bolivariana desembarca na campanha presidencial francesa

Em ascenção nas pesquisas Mélenchon propõe adesão da França à Alba e é criticado por opositores

Mélenchon em comício
Mélenchon em comícioPHILIPPE HUGUEN (AFP)
Silvia Ayuso

A inclusão em seu programa de uma proposta para a França aderir à Alba, a Alternativa Bolivariana para os Povos da Nossa América, fundada por Fidel Castro e Hugo Chávez, valeu ao líder da França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, uma chuva de críticas, das quais o candidato presidencial, que não para de subir nas pesquisas, teve que se defender. “Não tenho intenção de fazer uma Cuba na França”, disse neste sábado.

Mélenchon nunca escondeu sua admiração por Castro e Chávez e sua “revolução bolivariana”. Um dia depois da morte do líder cubano, em 25 de novembro, o candidato esquerdista lhe rendeu uma comovida homenagem aos pés da estátua de Simón Bolívar erguida à beira do Sena, perto da ponte Alexandre III. O ato lhe rendeu algumas críticas e comentários irônicos, mas nada muito além disso. Mas isso foi em novembro, quando Mélenchon não era visto como mais que um aspirante presidencial muito longe da vitória.

Faltando pouco mais de uma semana para o encontro com as urnas, o líder da França Insubmissa surge nas pesquisas em terceiro ou quarto lugar, a muito pouca distância dos primeiros colocados, a ultradireitista Marine Le Pen e o centrista Emmanuel Macron, cuja intenção de voto cai levemente. E isso deixou muito nervosos tanto seus seguidores quanto o quarto colocado, o conservador François Fillon. Hora de afiar as facas.

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Melenchon e sua filiação bolivariana ganharam esta semana as primeiras páginas da imprensa. “Mélenchon: o delirante projeto do Chávez francês”, mostrava em página inteira o conservador Le Figaro na quarta-feira. Um dia depois, era o progressista Libération que questionava a política estrangeira “seguindo os passos de Chávez e Putin” do candidato esquerdista.

Ainda que estivesse em preto no branco há tempos, parece ter sido esta semana que também se descobriu o item 62 do muito longo – com certeza – programa de Melenchón, intitulado “Construir cooperações altermundistas e internacionalistas”. Especificamente, o que fez soarem os “alarmes” da imprensa e dos políticos franceses é a última proposta desse ponto: “Instaurar uma política de codesenvolvimento com a América Latina e o Caribe unindo-nos à Alba”. A entrada na organização integrada por Venezuela, Cuba, Bolívia, Nicarágua, Dominica, Honduras, Equador, São Vicente e Granadinas e Antígua e Barbuda é algo mencionado também no capítulo 15 de seu programa, dedicado aos territórios ultramarinos da França, especificamente a Guiana e as Antilhas francesas.

À Alternativa Bolivariana para os Povos da Nossa América? À organização criada em 2004 por Castro e Chávez? Muitos levaram de novo as mãos à cabeça diante da proposta de um candidato que além disse postula sair da Otan e até da União Europeia caso ela não se transforme profundamente conforme seus termos. A França poderá “despertar um dia dentro da Aliança Bolivariana”, ironizou o centrista Emmanuel Macron, o candidato mais assustado com a ascensão de Mélenchon. “Não proponho sair da UE para entrar na Alba! Como podem me achar tão estúpido a ponto de ter tal ideia?”, respondeu, indignado, o líder esquerdista na noite de sexta-feira na rede TF1.

Mélenchon passou à defensiva. Dedica a metade de seu último programa semanal no YouTube a defender a ideia de adesão à Alba, que, ressalta, é limitada aos territórios franceses do outro lado do Atlântico, Guiana e as Antilhas. E em entrevista ao jornal Ouest-France publicada no sábado afirma também que não tem a intenção de “fazer uma Cuba na França”. Tanto Castro como Chávez “estão mortos. Eu os defendi em circunstâncias em que foram atacados (…), mas nunca aprovei a forma como Cuba está organizada politicamente”, declara.

Mélenchon se mostra muito mais seco a respeito da Venezuela, cujo presidente atual, Nicolás Maduro, mal menciona publicamente, assim como tampouco não fala dos protestos das últimas semanas nem das internacionalmente criticadas medidas do chavismo, como a logo revertida tentativa de tirar atribuições da Assembleia Nacional, nas mãos da oposição, ou a recente inabilitação do líder oposicionista Henrique Capriles. “Apoiei Chávez contra a agressão norte-americana. Hoje o problema desse país é principalmente o preço do petróleo. Não é minha culpa”, afirma Mélenchon.

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