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Técnico que revelou Neymar e Casemiro exalta ‘geração Tite’

Lucho Nizzo se orgulha de ter lançado o trio de Barcelona e Real Madrid nas seleções de base

Lucho Nizzo e Neymar, em 2009.
Lucho Nizzo e Neymar, em 2009.Arquivo pessoal
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Não faz nem uma semana que a seleção brasileira sub-17 conquistou do 12º título sul-americano após vitória contra o Chile por 5 x 0. Nesta quinta-feira, o time “de cima” do Brasil vai encarar o Uruguai, em Montevidéu, em jogo válido pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 2018, que pode dar classificação antecipada à equipe canarinha ao Mundial da Rússia, no ano que vem. Poucos conhecem tão bem os dois lados - da base aos comandados por Tite - quanto Lucho Nizzo.

Responsável pelas categorias inferiores da seleção entre 2003 e 2010, o treinador de 54 anos acredita que houve, nos últimos tempos, um abandono ao futebol de base no Brasil. “Deixaram uma lacuna nesse setor, que é um dos mais importantes do esporte. Somado à nossa legislação, esse abandono faz com que os jogadores saiam cada vez mais cedo para a Europa. É um fator muito prejudicial ao nosso futebol”, analisou Lucho, que fez jogadores como Neymar, Marcelo, Casemiro e Philippe Coutinho, entre outros nomes de destaque, vestirem a camisa amarela pela primeira vez.

Sem clube atualmente, o técnico explica as consequências da falta de investimento na base: “Cada país tem sua cultura de futebol. A nossa é a do jogador criativo, malandro e irresponsável, no bom sentido. Saindo cada vez mais cedo, alguns atletas já estão sem identidade quando chegam à seleção. Nosso jogador não pode perder o que tem de melhor, que é a capacidade de destruir uma linha defensiva adversária”, analisou. O técnico vê como importante o aprendizado dos atletas brasileiros na Europa, onde “se tornam mais aplicados taticamente”, mas defende que “isso [este êxodo] deve ocorrer após os 20 anos de idade, quando o jogador já está formado”. Destaca, porém, que “sem estrutura e uma lei que colabore, os clubes não conseguirão segurar os seus talentos”, diz o carioca, que também acumula passagens por diversas equipes de menor expressão pelo Brasil, além de trabalhos na Malásia e na Arábia Saudita.

Principais títulos na base da seleção brasileira

- 4 Copa Internacional do Mediterrâneo (sub-15, em 2003; sub-16, em 2004; sub-17, em 2007; e sub-17, em 2008)

- 2 Torneio Nike IMG (sub-17, em 2003 e 2008)

- 1 Nations Cup Korea Tournament - 2007

- 1 Sul-Americano Sub-17 - 2009

- 1 Copa Sendai - 2009

Em meio a uma carreira de mais de duas décadas, Nizzo ajudou a lapidar quatro gerações diferentes na seleção, divididas pelos anos de nascimento dos jogadores: 1988, 1990, 1992 e 1994. Dos atletas lançados por ele, nove foram convocados por Tite para os jogos contra Uruguai e Paraguai, que serão disputados nas próximas quinta e terça-feira, respectivamente. “É muito prazeroso e gratificante vê-los jogar. Essa geração tem um potencial enorme para conquistar grandes títulos”, projetou. Ele descreveu, de maneira resumida, como garimpava as joias Brasil afora: “Eu ia a inúmeros campeonatos pelo país, visitava os grandes clubes para olhar os atletas de perto, conversava com os treinadores... Tudo isso para chegar a uma lista de 200 a 300 nomes, e, depois de muitas revisões e novos acompanhamentos, reduzi-la a 23. Mesmo assim, infelizmente eu tinha que ouvir boatos de que interesses de empresários estavam envolvidos nas minhas convocações”.

Entre maus resultados, como o fracasso na Copa de 2014, e problemas que assolam o esporte no país, Nizzo acredita que as mudanças necessárias nas categorias de base aconteceram apenas recentemente. “Quando os resultados são bons, tudo que é ruim é jogado para debaixo do tapete. As gestões do futebol brasileiro eram fracas, e foi necessário um vexame internacional para que os clubes investissem de verdade na base. Estão até fazendo CTs para os jovens jogadores”, destacou o técnico, que vê a chegada de Tite como uma das poucas consequências positivas das seguidas derrotas brasileiras em competições importantes. “Já era hora dele chegar. [Tite] é informado, qualificado, ético, estudioso, enfim, tem tudo o que penso que um treinador de seleção precisa. Se não fosse o 7 x 1, ele não estaria lá. Mas estou feliz, porque ele prova que há, aqui, grandes treinadores que precisam de oportunidade”.

Lucho Nizzo e Marcelo, sua descoberta no futsal.
Lucho Nizzo e Marcelo, sua descoberta no futsal.Arquivo pessoal

Além de apontar problemas da legislação do futebol brasileiro e de más gestões, Nizzo também não poupa as críticas aos seus colegas de profissão: “Não desqualifico a experiência de um ex-jogador, mas uma coisa é ter sido um grande jogador e outra é ser um treinador. Tem didática, ensino e muitas outras coisas que vão além da experiência de campo. Tem gente dizendo por aí que não precisa estudar, que é só ir para a praia e descansar, mas eu acho que temos que sempre aprender e nos reciclar”, afirmou.

Outros achados de Lucho

Marcelo, lateral do Real Madrid: "Trabalhei no Fluminense entre 2001 e 2002, e ele começou jogando futsal. Como eu já o conhecia e sabia do talento dele, o chamei quando cheguei à seleção. Quando o convoquei, rolou uma restrição por ele ser do futsal, pois pensavam que podia ser complicado para ele. Mas, no fim, foi uma aposta minha que deu muito certo, pois ele se adaptou muito bem. Existem caras acima da média, que a gente sabe que vão vingar."

Alisson, goleiro da Roma: "O vi na Copa Promissão, um torneio do interior. Já tínhamos o Luis Guilherme no gol, que era alvo de grandes europeus. Apesar de termos um goleiro de nível top, decidi chamar o Alisson, e ele veio como reserva do Luis. Disputamos várias competições com ele [Alisson] no banco, e, por ironia do destino, o Luis não se firmou e foi cursar psicologia, e o Alisson é frequentemente convocado para a seleção. Uns evoluem e chegam longe, e outros têm a carreira interrompida. Na base, nem sempre dá certo quem acham que vai dar, e alguns acabam surpreendendo... O futebol é mágico."

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