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“Bruno já pagou pelo erro”, diz cartola que cobra indenização do goleiro

Presidente do Montes Claros, que o contratou em 2014, contesta acordo de jogador com Boa Esporte

Embora condenado, o goleiro Bruno firmou contrato com o Boa.
Embora condenado, o goleiro Bruno firmou contrato com o Boa.Marcelo Albert (TJMG/Divulgação)

O Boa Esporte, atual campeão da Série C do Campeonato Brasileiro, acaba de anunciar a contratação do ex-goleiro Bruno Fernandes de Souza, condenado a 22 anos e 3 meses pelo assassinato da modelo Eliza Samudio. Além de ter de lidar com a situação legal instável do jogador, em liberdade provisória — Bruno pode voltar para a prisão antes mesmo da reestreia no futebol, caso seu recurso seja negado —, o time de Varginha, em Minas Gerais, precisa administrar mais um problema. Bruno tem contrato vigente com outro clube mineiro. O Montes Claros Futebol Clube alega que o acordo de cinco anos assinado pelo goleiro em 2014, registrado na Confederação Brasileira de Futebol com multa rescisória de 2,8 milhões de reais, não foi desfeito e espera uma compensação financeira pela transferência.

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“Eu não tenho que comentar se o Bruno é culpado ou inocente. O que interessa nesse momento é a parte técnica. E o Bruno vai agregar bastante à nossa equipe”, diz o diretor de futebol do Boa Esporte, Roberto Moraes, time que vai disputar a segunda divisão nacional este ano, sem entrar na divergência com o outro clube.

“Não quero briga. Só espero bom senso e gratidão do Bruno”, afirma Ville Mocelin, presidente do Montes Claros. “Eu estendi a mão no momento em que ele mais precisou. Mas, agora que ele está solto, ninguém me procurou para falar sobre o contrato. Sei que ele teve muitas propostas, mas é justo que o Montes Claros receba algum montante para resolvermos tudo de forma amigável.” Lúcio Adolfo, advogado de Bruno, contesta a validade do contrato. “Eles não pagaram nenhum mês de salário para o atleta, sequer escreveram uma cartinha pra ele na prisão. Que contrato é esse? Não existe vínculo algum entre Bruno e Montes Claros.”

Atualmente, o Montes Claros está inativo e não participa de competições. Segundo Ville, a intenção é retomar as atividades no segundo semestre para disputar a terceira divisão mineira. A esperada compensação financeira por Bruno serviria para ajudar na formação de um novo elenco. Há três anos, o clube ganhou notoriedade ao contratar o goleiro, que cumpria pena em regime fechado e não foi autorizado pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) a deixar a prisão para participar de treinos e jogos do clube. “Fico feliz que o Bruno tenha sido solto. Não cabe a mim julgar. Se ele errou, já pagou pelo erro. Eu apanhei muito quando contratei o Bruno, dei minha cara a tapa. Mas quis dar uma chance ao ser humano”, diz Ville.

Registro do contrato de Bruno com o Montes Claros na CBF.
Registro do contrato de Bruno com o Montes Claros na CBF.

Na época da contratação, movimentos feministas de todo o país protestaram contra o clube por empregar um jogador apontado como o mandante do assassinato de uma mulher. Em Montes Claros, o grupo feminino do Levante Popular da Juventude espalhou cartazes pela cidade condenando a contratação do ex-goleiro. “O presidente do clube disse que um grupo de 10 mulheres não iria impedi-lo de contratar o Bruno, mas nossa revolta simbolizava o sentimento da maioria das pessoas da cidade, que também ficaram indignadas com a naturalização de um crime bárbaro”, afirma Mariana Dupin, uma das organizadoras do movimento em Montes Claros. "Bruno foi condenado e não permitiu que os familiares de Eliza pudessem se despedir dela, mas há gente que não vê problema no fato dele voltar a jogar sem ter cumprido nem metade de sua pena.”

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