“O problema com a matemática não são as crianças, mas a forma como é ensinada”
Matemático John Mighton criou sistema de aprendizagem implantado em seis países
Antes de se doutorar em matemática, John Mighton não se dava muito bem com os números. Aliás, foi reprovado na prova de cálculo quando entrou na universidade. Só alguns anos depois, já próximo dos 30 anos, retomou sua relação com as somas e subtrações. “No começo pensava que eu era o problema, mas me dei conta de que o problema estava na metodologia com a qual a matemática era explicada”, lembra. E estava tão convencido de sua tese que ele mesmo pensou e desenvolveu um novo sistema de aprendizagem de matemática, o Jump Math. Sua metodologia, já implantada em seis países, é utilizada por mais de 175.000 alunos do Canadá e dos Estados Unidos. O método chegou na Espanha em 2013 e já conta com 11.000 estudantes e uma rede de mil docentes.
“A matemática é mais fácil do que as pessoas imaginam”, afirma enquanto pega papel e caneta. E desenha uma divisão em um papel: 72 por 3. Pinta “três amigos” com três sacolas e pede que essas 72 “moedas” sejam divididas em grupos de 10 em 10. “Em todos os meus anos dando aulas não conheci nenhum aluno de ensino fundamental que não saiba fazer isso. Aqui todas as crianças tiram 10, e como foram bem e entendem a matéria, prestam atenção: estão alertas, excitadas e entusiasmadas. De modo que você pode ir aumentando os desafios e levá-las a níveis superiores em que elas mesmas acreditam”, explica.
Mighton, canadense e com uma carreira multifacetada além da matemática – também é roteirista, escritor e fez uma ponta como ator em Gênio Indomável –, começou dando aulas particulares a um grupo de crianças em sua casa. A melhoria nos resultados dos jovens surpreendeu aos seus próprios professores, que chamaram o matemático para que fosse à classe explicar sua maneira de ensinar. Mighton afirma que todas as crianças têm capacidade para aprender e entender a matemática. “Todos gostam de resolver problemas e realizar conexões. O problema com a matemática não são as crianças, mas a metodologia com a qual é ensinada”, acrescenta.
Seu programa é baseado, justamente, na “inutilidade dessa metodologia”. “Em uma classe podem existir diferenças de até três séries entre as crianças. E o problema é que achamos isso normal quando não o é. Essas verdades absolutas são as que nos fazem sermos incapazes como espécie de desenvolver nossas habilidades inatas”, afirma o criador do Jump Math.
O essencial está, afirma Mighton, em ir passo a passo, em não pular etapas na aprendizagem. “É preciso ensinar a dividir conceitos para que os professores possam explicá-los bem. O problema é que às vezes pulamos conceitos e a criança se perde”, diz. Sua metodologia, adaptada a alunos da educação infantil ao Ensino Médio, está dividida em pequenas unidades que os jovens podem se encarregar. “Nosso método se baseia no descobrimento guiado. Ao invés de você explicar todas as operações, é a criança que vai descobrindo as coisas ao solucionar os desafios apresentados. O professor, por sua vez, deve saber colocar as perguntas bem pautadas porque se você pular algum passo, não consegue”, explica.
O sucesso do aluno é uma linha estratégica para não perder sua atenção. “As crianças se comparam entre elas e fazem um juízo de valor: decidem quem é esperto e quem não é. E se não sou esperto e não sou feito para a matemática, meu cérebro deixa de funcionar e deixo de tentar. Por isso, a metodologia de Mighton controla para que a criança compreenda perfeitamente cada passo que dá. A avaliação contínua e o exercício da prática através de jogos e atividades que saiam do papel e caneta para estimulá-los também são elementos capitais para que o sistema funcione. Um estudo, elaborado pelo Centro de Pesquisa para a Educação Científica e Matemática (CRECIM) da Universidade Autônoma de Barcelona, concluiu que os alunos que aplicaram a metodologia Jump Math melhoraram em até dois pontos suas notas e reduziram as reprovações.
Mas o método de Mighton não é a única alternativa ao sistema de ensino tradicional. Outros como o sistema Kumon e o Algoritmo ABN também tiveram grande aceitação entre famílias e professores. A diferença entre seu método e os demais, afirma Mighton, é que o Jump Math quer “romper com esse problema da percepção da capacidade do aluno”. “Muitos programas só estão voltados à matemática e nós nos voltamos à matemática e à psicologia. Fazemos uma avaliação constante e contínua de como vai o aluno, não esperamos uma prova em um dia determinado”, afirma.
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