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World Press Photo 2017: Foto de assassinato do embaixador russo na Turquia é eleita a melhor de 2016

Júri do concurso World Press Photo premia o fotógrafo turco Burhan Ozbilici, da Associated Press

Isabel Ferrer
Imagem do fotógrafo turco Burhan Ozbilici, ganhadora do World Press Photo.
Imagem do fotógrafo turco Burhan Ozbilici, ganhadora do World Press Photo.AP

O fotógrafo turco Burhan Ozbilici, da agência de notícias Associated Press, assina a foto do ano de 2016, que mostra os momentos subsequentes ao assassinato de Andrei Karlov, embaixador russo na Turquia. A decisão foi anunciada nesta segunda-feira pelo júri do prêmio World Press Photo. O atentado foi cometido em 20 de dezembro, dentro de uma galeria de Ancara, por um policial turco de 22 anos, que depois dos disparos disse estar vingando atrocidades cometidas em Aleppo (Síria). A foto foi publicada na capa do The New York Times, entre outros veículos. “É uma imagem explosiva que realmente fala sobre o ódio da nossa época. Cada vez que ela aparecia na tela a gente tinha quase que recuar”, disse a jurada Mary Calvert, em nota. Este é o principal prêmio dedicado ao fotojornalismo no mundo.

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Mevlüt Mert Altintas, o atirador que assassinou o diplomata, fez oito disparos e feriu outras duas pessoas, antes de ser morto em confronto com as forças de segurança. “Deus é grande! Deus é grande! Nós morremos em Aleppo, vocês morrem aqui! Matam gente inocente em Aleppo e na Síria!”, gritou ele, empunhando a arma. O fotógrafo premiado contou no ano passado que estava por acaso no local do atentado, uma galeria de arte onde o embaixador participava da inauguração de uma exposição de fotos. Quando o agressor começou a disparar, Ozbilici continuou clicando em vez de se proteger dos tiros. “Pensei: ‘Estou aqui. Mesmo que ele me ferir ou me matar, sou um jornalista e devo fazer meu trabalho’. Eu poderia ter me deslocado para me esconder, mas nesse caso como iria responder quando perguntassem por que eu não fiz fotos?” Ozbilici, que trabalha há 27 anos para a Associated Press e já retratou, entre outros temas, o êxodo dos curdos do Iraque depois da morte de milhares de pessoas por causa dos ataques com gás ordenados por Saddam Hussein, então no poder. Cobriu também conflitos na Arábia Saudita, Egito e Síria.

Esta edição do World Press Photo teve a participação de 5.034 fotógrafos de 125 países. O júri avaliou 80.408 imagens, e o norte-americano Jonathan Bachman ganhou na categoria Temas Contemporâneos, com uma foto da enfermeira negra Iehsia Evans enfrentando pacificamente a tropa de choque policial em Baton Rouge, durante os protestos contra a morte de um homem, também negro. Pouco depois, a mulher e vários outros manifestantes foram detidos.

"Pensei: ‘Estou aqui. Mesmo que ele me ferir ou me matar, sou um jornalista e devo fazer meu trabalho’", disse o fotógrafo da AP

O vírus zika foi contemplado pelos especialistas do World Press Photo com uma série sobre os bebês com microcefalia e suas mães, de autoria do brasileiro Lalo de Almeida. Houve prêmios também para pautas como o enterro do ex-presidente cubano Fidel Castro, a violenta luta contra o tráfico de drogas ordenada pelo presidente filipino, Rodrigo Duterte, a luta das comunidades nativas dos Estados Unidos contra o oleoduto que deverá cruzar suas terras ancestrais em Dakota do Norte e a crise dos refugiados no Mediterrâneo.

A brasileira Markione Gomes da Rocha, 29, e Pérola, 1, em Recife, onde a filha recebe tratamento para a microcefalia, causada pelo vírus da zika.
A brasileira Markione Gomes da Rocha, 29, e Pérola, 1, em Recife, onde a filha recebe tratamento para a microcefalia, causada pelo vírus da zika.Lalo de Almeida

A primeira edição do World Press Photo data de 1955, quando um grupo de jornalistas da Associação Holandesa de Fotojornalismo transformou o prêmio nacional da instituição em uma competição internacional. Naquele ano, 42 colegas de 11 países apresentaram 300 imagens. Em 1956, a cifra de fotos quadruplicou, com participantes de 22 nacionalidades.

Brasileiro também leva prêmio, por série de fotos sobre os bebês com microcefalia no Brasil e suas mães

No ano passado, o prêmio de melhor foto do ano foi dado a uma imagem que mostrava o drama dos refugiados no Mediterrâneo, de autoria do australiano Warren Richardson. Ela retrata o momento em que um homem entregava um bebê a outra pessoa sob uma cerca na fronteira entre a Hungria e a Sérvia.

O enfoque do prêmio também mudou ao longo das décadas. Desde o princípio, o júri evita se concentrar apenas no estilo das fotos. Mas nas primeiras edições havia as categorias Notícias e Esportes, Reportagens e Séries, com uma seção especial para as imagens a cores. Depois, as fotos noticiosas passaram a ser separadas da categoria intitulada Reportagens de Interesse Geral.

Às vezes, uma foto que não se enquadra totalmente no regulamento é mencionada pelo júri por sua relevância. A primeira a receber essa menção foi feita pelo astronauta Edwin Aldrin durante seu passeio de 1969 pela lua. “Sem ela, a narrativa visual do ano teria estado claudicante”, disseram naquela ocasião os jurados, que procedem de países industrializados e em desenvolvimento, professam diversos credos e têm distintas filiações políticas.

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