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Crítica | 'Lion'
Crítica
Género de opinião que descreve, elogia ou censura, totalmente ou em parte, uma obra cultural ou de entretenimento. Deve sempre ser escrita por um expert na matéria

‘Lion’: Entre inspirar e reivindicar

Em sua metade inicial, o estreante Garth Davis, conhecido diretor de publicidade, mostra que sabe contar uma odisseia não só com palavras

Javier Ocaña
Uma cena de 'Lion'.
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Em um dos momentos mais baixos da história recente do Oscar, a Academia decidiu que a melhor obra do ano de 2008 tinha sido a britânica ambientada na Índia Quem quer ser milionário?. Paradigma da visão turística da pobreza, e cortada por um padrão estrutural que fazia com que, desde o começo, soubéssemos cada passo da história, o filme de Danny Boyle revelava, com sua fotografia de cores contrastantes e seus enquadramentos e montagem de videoclipe moderno, um conceito visual que depois seguiram outros filmes brilhantes, mas vazios: a miséria do design.

A base real da história, a semelhança de ambientes (ali, os subúrbios de Bombaim, aqui, de Khandwa e Calcutá), o caráter inspirador da história, e até o fato de que, sendo uma produção australiana distante de Hollywood, embora impulsionada pela máquina propagandística de Harvey Weinstein, tenha conseguido estar nas principais indicações ao Oscar 2017, fariam pensar que Lion: Uma Jornada para Casa é um novo Quem quer ser Milionário?. Até Dev Patel, é o protagonista das duas. Mas não é assim. Pelo menos durante a primeira hora de filme.

Na metade inicial, o estreante Garth Davis, conhecido como diretor de publicidade, mostra que sabe contar uma odisseia não só com palavras. Da mão da impressionante naturalidade do menino Sunny Pawar, sem carregar as tintas no drama e com um excelente uso da elipse, Davis compõe uma história sincera, poderosa e cativante de um menino de cinco anos que, entre a pobreza e a adversidade, termina perdido em Calcutá, a 1.600 quilômetros de casa e sem conhecer o idioma. Davis evita até mesmo que essa parte da história esteja cheia de música que ajude a marcar as emoções. Não precisa, e prefere os silêncios, os ruídos da rua ou do trem e o barulho das pessoas.

Chegada a parte australiana, 20 anos depois de sua perda e já como filho adotivo de uma família com poder econômico, Lion se transforma em uma obra mais convencional, com muita tendência para as lágrimas e o musical. Como Quem quer ser Milionário?, faz com que cada passo da tortura mental do jovem em busca de sua família indiana esteja condenado pela obviedade e a extenuante vontade de agradar e comover, no lugar da complexidade. E o melhor exemplo é o epílogo com imagens dos personagens reais, o momento justo em que o filme acaba se afastando do seu território natural, o cinema, para se aproximar de um clipe de uma ONG.

LION: UMA JORNADA PARA CASA

Direção: Garth Davis.

Elenco: Sunny Pawar, Dev Patel, Nicole Kidman, Rooney Mara, David Wenham.

Gênero: drama. Austrália, 2016.

Duração: 120 minutos.

Indicações ao Oscar: Melhor filme; melhor ator coadjuvante (Dev Patel); melhor atriz coadjuvante (Nicole kidman); melhor roteiro adaptado; melhor fotografia.

Estreia no Brasil: 16 de Fevereiro.

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