Cristiano Ronaldo, o melhor jogador de 2016
Escolhido também para o time da FIFA o português derrotou Messi e Griezmann Ranieri foi escolhido o melhor treinador do ano
Zurique estava de branco. A neve que caiu nas semanas anteriores cobria as bordas das pistas de aterrissagem, as plataformas dos trens e se amontoava nas calçadas das ruas. Sem sol, com poças d’água, às 13 horas (16 horas em Brasília) já havia luz de entardecer. Um pouco depois, chegou o Real Madrid, num avião fretado pela FIFA. Os jogadores indicados aguardaram o início da cerimônia no Kameha Grand Hotel, a um quilômetro dos estúdios em que a FIFA decidiu realizar a festa deste ano. Longe do centro e muito perto do aeroporto, num parque industrial cercado por guindastes vermelhos.
Era um vaivém de gente no hall do hotel. A conversa principal: a ausência dos jogadores do Barcelona. O centro das atenções se deslocou às 18h30 para os Estúdios TPC. Lá estavam Zinedine Zidane (sentado entre a mulher e Alex Ferguson) e Cristiano Ronaldo (acompanhado da namorada). E também Fernando Santos, Claudio Ranieri e Antoine Griezmann. A maioria dos jogadores chegou com as mulheres e os filhos; o de Marcelo se divertiu um bom tempo chutando bolas antes de ajustar a gravata borboleta.
Estava faltando Messi. Nenhum jogador do Barcelona compareceu à cerimônia (foram convidados o argentino, Iniesta, Piqué e Luis Suárez), segundo o clube para “priorizar a preparação do jogo de quarta-feira com o Atlhletic”. No domingo à noite os comandados de Luis Enrique empataram contra o Villarreal e perderam o segundo lugar na classificação para o Sevilla: das 11 últimas partidas disputadas, venceram apenas cinco. A decisão, tomada por consenso entre todos segundo disse Mestre, o vice-presidente esportivo, não estava relacionada com a possibilidade de Messi ganhar ou não o prêmio.
Outros ares sopram no Real Madrid, acompanhado por Florentino Pérez. “Tenho tanto para dizer que fiquei bloqueado. Estou muito feliz, quero agradecer aos meus companheiros e treinadores [Zidane e Santos], a todos que me apoiam e que estão comigo sempre, nos bons e maus momentos. Foi o melhor ano da minha carreira, tinha dúvidas, mas o troféu demonstra que continuo trabalhando bem. Foi um ano magnífico, nunca me esquecerei dele. Os prêmios falam por si”, disse Cristiano Ronaldo ao receber o prêmio. É o último prêmio de 2016 que o português ganhou. No sábado, no estádio Santiago Bernabéu, ele mostrou à torcida a quarta Bola de Ouro. Poucas semanas antes, no Mundial de Clubes, foi eleito o melhor jogador do torneio (marcou três gols na final contra o Kashima). “As estatísticas não mentem. Às vezes as pessoas falam demais...”, disse.
Um mês antes tinha renovado o contrato com o clube branco até 2021 e assinou um contrato vitalício com uma marca de roupa esportiva. Ele o fez dois meses depois de conseguir a Supercopa da Europa (não a jogou, pois estava se recuperando de uma entorse no ligamento do joelho) e três depois de chorar copiosamente na França. Portugal foi campeão da Europa pela primeira vez em sua história. E o futebol foi algo cruel com seu capitão, que deixou o gramado machucado e sofreu do banco. Quase não teve férias entre a final de San Siro e a Eurocopa.
Em Milão, Cristiano levantou outro troféu, a Liga dos Campeões, sua segunda com a camisa do Real Madrid. Ele bateu o último pênalti. “O futebol não tem memória, o Real Madrid sim”, disse meses depois, quando assinou a renovação com o clube e estava sob os olhares de todos por não estar em seu melhor nível. Havia perdido velocidade, gol, presença. “Você pode ter uma queda, mas Cristiano voltará a assumir suas responsabilidades. Logo verão o Cristiano de sempre”, prometeu. E cumpriu a promessa no Calderón marcando três gols.
“Só joguei com ele durante alguns meses, suficientes para ver seu caráter e personalidade. Além de ter um corpo de atleta que lhe permite fazer qualquer tipo de esporte e se destacar, ele tem uma mentalidade vencedora que soma e que é fundamental para o Real Madrid. Nisso e em pedir a bola nos momentos mais difíceis, me lembra Figo. Ele também tinha uma personalidade avassaladora”, comentou Michel Salgado, com o mesmo cabelo que tinha quando jogava, moreno e de mangas curtas. De manhã, jogou ao lado de outras lendas convidadas pela FIFA (Seedorf, Cafu, Abidal, Roberto Carlos e Desailly, entre outros) e à tarde atendeu a imprensa numa mesa-redonda.
Assim como Roberto Carlos, mostrou-se surpreso com a ausência dos jogadores do Barcelona. “Acho que deveriam estar presentes nesse tipo de cerimônia”, disseram ambos. “Tirar quatro Bolas de Ouro do Messi não é fácil”, dizia Salgado. “Tiro o chapéu pelo que ele faz a cada jogo. Desde que saiu do Manchester para ir ao Real Madrid, Cristiano começou a voar muito alto. Os campeões nunca querem deixar de sê-lo, nem diminuir o nível, e ele é um campeão. Tem vontade de melhorar, de surpreender, primeiro a si mesmo; talvez sem Messi ele não tivesse mantido esse nível de competitividade”, disse Seedorf, ex-meiocampista do Real Madrid, com o qual ganhou uma Liga dos Campeões. “Espero que no futuro possam explodir outros talentos no futebol, como Hazard, Griezmann e Neymar”, acrescentou.
É curioso, o ano mais sofrido — a lesão, a recuperação e o lento retorno — para Cristiano foi o que ele mesmo definiu como “o melhor” e “inesquecível”. “Um ano de sonho, estou feliz e orgulhoso”, reiterou novamente nesta tarde em Zurique. Sua posição no campo está ficando cada vez mais próxima da área e cada vez mais ele procura se tornar um finalizador puro já que com a idade perdeu a velocidade e a passada de outrora. E, no entanto, são 55 os gols que marcou em 2016: 42 com o Real Madrid e 12 com a seleção portuguesa.
“Era muito mais fácil jogar do que treinar. Reunir tantas cabecinhas e colocá-las num campo de jogo era muito difícil. Jogar futebol, no entanto, para mim, era como caminhar e dormir”, disse Maradona, que entregou o prêmio de melhor treinador. Ganhou Claudio Ranieri, que fez um milagre com o Leicester. A equipe inglesa nunca tinha vencido uma Premier. Foi o triunfo do impossível, a vitória do futebol modesto. Uma vitória conquistada, de acordo com o próprio Ranieri, à base de correr, como Forrest Gump.
“É uma tarde fantástica, estou louco por estar aqui rodeado de lendas. Quero agradecer a minha família e os meus jogadores, sem eles é difícil para um treinador ganhar alguma coisa. O que aconteceu no ano passado na Inglaterra foi estranho, é preciso agradecer aos deuses do futebol. Dani Alves disse antes que parece que agora, depois dos 30 anos, um jogador está acabado porque não pode dar mais... Eu tenho 65 anos e acabo de começar nisto”, disse o técnico italiano entre as gargalhadas do público.
Cristiano também foi votado para o time da FIFA. Ao lado dele, outros quatro companheiros de clube. Os votos dos torcedores elegeram o goleiro Neuer; uma linha defensiva formada por Dani Alves, Sergio Ramos, Piqué e Marcelo; um meio de campo formado por Modric, Kroos e Iniesta (que agradeceu aos torcedores e à FIFA por meio de uma mensagem de vídeo) e uma linha de três à frente formada por Messi, Cristiano Ronaldo e Luis Suárez. As fieis torcidas do Borussia Dortmund e do Liverpool dividiram o prêmio da melhor torcida.
A norte-americana Carli Lloyd ganhou o prêmio de melhor jogadora. Foi buscá-lo (da mão de Gabriel Batistuta) com cara de surpresa. Derrotou a brasileira Marta e a alemã Melanie Behringer. Silvia Neid, treinadora da seleção alemã de futebol feminino, bateu Jillian Ellis e Pia Sundhage. A FIFA não esqueceu a tragédia da Chapecoense e homenageou as vítimas com um vídeo cheio de emoção. Os jogadores do clube brasileiro viajavam a Medellín para disputar a primeira partida da final da Copa Sul-Americana contra o Atlético Nacional. Não chegaram a jogar porque o avião caiu antes de aterrissar. Sobreviveram três jogadores, um jornalista, uma aeromoça e um comissário de bordo. O Atlético proclamou a Chapecoense campeã e na cerimônia a FIFA entregou ao clube colombiano o prêmio Fair Play. “Fizemos o que tínhamos de fazer, reconhecer um rival que não teve a oportunidade de fazê-lo”, disse Juan Carlos de la Cuesta, presidente do Atlético Nacional.
Faiz Subri (de 29 anos), da liga da Malásia, não acreditou quando Ronaldo Nazario, o Fenômeno, abriu o envelope e disse seu nome. Os torcedores escolheram seu gol como o mais bonito do ano. Ficou tão mudo que mal conseguiu ler o discurso que havia preparado.
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