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Coluna
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Um parênteses para abraçar a esperança de um 2017 mais doce

A poesia de Pablo Neruda e Martha Medeiros nos dá pistas de como tocar a vida mais leve aferrando-nos à luz num período de trevas

Praia de Ipanema na véspera de ano-novo.
Praia de Ipanema na véspera de ano-novo.Antonio Lacerda (EFE)
Juan Arias

Hoje peço perdão por fazer, nesta coluna, um parêntese para abraçar a esperança. O ano novo está surgindo e prefiro me aferrar à sua luz. Haverá tempo para ter de lutar contra as trevas, desembainhar as espadas contra o poder e beber a taça do desconsolo.

No Natal, escolhi brindar os leitores com alguns versos do genial poeta espanhol García Lorca, assassinado ainda jovem pelo franquismo, em que ele anunciava:

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“Enquanto o Brasil chorava, eles riam de nós”
“Sabe a vergonha que sentimos por nos considerarem ladrões só por sermos brasileiros?”
A misteriosa afinidade entre a mulher e os felinos

“Veremos a ressurreição das borboletas dissecadas”.

Hoje, para me despedir e celebrar 2017, escolhi versos de outro gênio da poesia, seguidor de Lorca, o chileno, Nobel de Literatura Pablo Neruda, e também da poetisa brasileira Martha Medeiros.

Em um de seus poemas, ao terminar o ano, Neruda escreveu:

“Feliz ano novo para minha pátria em trevas.”

Eram as trevas da ditadura de Pinochet.

Também hoje quero desejar feliz ano novo, nesta coluna, para o meu Brasil ainda envolto na escuridão de um futuro incerto.

Neruda pediu, no entanto, que as pessoas tivessem esperança num momento difícil para o seu país.

“Vamos juntos,

está o mundo coroado de trigo,

o alto céu corre deslizando e rompendo

suas altas pedras contra a noite.”

E acrescentava:

“Este tempo, esta taça, esta terra são teus:

Conquista-os e escuta como nasce a aurora.”

Neruda que sofreu, e talvez tenha sido envenenado, por defender a liberdade de seu país, que sentia como seu, incentivava com seus versos a aposta na esperança.

Eu também gostaria que todos os que amamos o Brasil, apesar de nossas visões e pensamentos diferentes sobre como fazê-lo, sentíssemos, por um instante, neste novo ano, que este tempo e esta terra são nossos.

Gostaria que, mesmo em meio às angústias por não saber às vezes como ajudar o país a ressuscitar, ou ao desgosto e à impotência frente aos que nos pisoteiam e o saqueiam como se fosse só deles, não perdêssemos o gosto por escutar, tal como o poeta, “como nasce a aurora”.

A escritora e poetisa brasileira Martha Medeiros pediu que apostássemos na luz em seu poema “A Morte Devagar”.

 “Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz.”

“Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto no branco e os pingos nos is a um turbilhão de emoções indomáveis.”

 “Morre lentamente [...] quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho.”

Sonhar não é pecado. Sonhar hoje e apostar num 2017 melhor, tampouco. E se depois errarmos, teremos vivido um momento de esperança na qual acreditamos.

Teremos saboreado, ainda que errando, a magia de um instante de felicidade.

Um autor desconhecido tem versos que se espalham pelas redes sociais com um recado singelo:

“Viva hoje!

Arrisque hoje!

Faça hoje!

Não se esqueça de ser feliz.”

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