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Rebeldes afirmam ter fechado acordo para evacuar Aleppo

ONU denuncia morte de mais de 80 civis por milícias aliadas ao regime. Insurgentes resistem

Homem evacua criança doente no leste de Aleppo
Homem evacua criança doente no leste de AleppoABDALRHMAN ISMAIL (REUTERS)
Juan Carlos Sanz

Um porta-voz dos rebeldes sírios afirmou, nesta terça-feira, que a Rússia e a Turquia selaram acordo para evacuar os insurgentes e civis presos no leste de Aleppo. A saída da população civil, dos doentes e dos feridos será feita em primeiro lugar, de acordo com essa fonte citada pelas agências internacionais de notícias; em seguida, os combatentes poderão abandonar a cidade com suas armas leves. O Exército sírio ainda não confirmou o acordo, embora um representante russo tenha dito que havia sido alcançado. As Nações Unidas alertaram, também nesta terça, sobre um trágico desfecho da batalha final em Aleppo, após as denúncias de crimes de guerra cometidos pelo Exército em seu avanço sobre os insurgentes.

Milícias iraquianas aliadas das forças governamentais executaram 82 civis, entre eles 11 mulheres e 13 crianças, a sangue frio e em suas próprias casas, segundo afirmou em Genebra o porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Rupert Colville, informou a agência Efe. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha apelou ao Direito Internacional Humanitário para salvar a população sitiada. As imagens de morte e destruição que chegam de Aleppo não têm comparação em tempos recentes. “Há um completo colapso da humanidade dos combatentes”, advertiu o porta-voz da ONU.

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Milhares de partidários do presidente Bashar al-Assad saíram às ruas em Aleppo durante a madrugada deste terça para comemorar a vitória sobre os rebeldes, antes mesmo de que tenha sido consumada. Uma força insurgente com apenas 8.000 combatentes resiste, desesperada, ao lado do rio que dá nome à cidade do norte da Síria. Seus integrantes agora só controlam 2% dos distritos que estavam nas mãos da oposição desde 2012, quando a cidade foi fraturada pela guerra. Cerca de 50.000 civis permanecem presos ao seu lado, sob os bombardeios aéreos russos e sírios e o intenso fogo das tropas governamentais e de seus aliados xiitas do Irã, Líbano e Iraque. Os contatos que os negociadores norte-americanos e russos mantinham em Genebra para alcançar uma trégua humanitária não deram resultado. Os representantes de Moscou parecem ter freado o acordo diante do rápido avanço dos seus aliados do regime sírio. A mediação da ONU tampouco surtiu efeito desta vez. Num de seus últimos comunicados antes de deixar o cargo, o secretário-geral da organização, Nam Ki-moon, manifestou preocupação pelos “relatórios não verificados de atrocidades cometidas contra um grande número de civis, incluindo mulheres e crianças, em Aleppo”. Fontes próximas da oposição haviam informado, pouco antes, sobre a execução de mais de 180 pessoas pelas forças do Governo, após a saída dos rebeldes de vários setores do leste da cidade.

O coordenador da ajuda humanitária internacional à Síria, Jan Egeland, foi mais direto no Twitter: “Os Governos da Rússia e da Síria são responsáveis pelas atrocidades que algumas milícias vitoriosas estão comentando agora.” Egeland referia-se ao movimento Al-Nujaba iraquiano, formado por combatentes xiitas nas fileiras do Exército, e a outros grupos afins. “As pessoas estão sendo executadas em suas casas, mas também nas ruas quando tentam fugir”, disse nesta terça o porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. “Exigimos um cessar-fogo imediato dos combatentes para podermos realizar as avaliações médicas”, enfatizou Colville. A ONU ainda não pôde transportar cerca de 500 doentes e feridos graves do leste, que precisam de assistência urgente há quase uma semana.

“A situação é muito crítica... os militares tomaram muitas zonas e agora estamos contra a parede”, reconhecia à Associated Press um porta-voz da defesa civil no último reduto insurgente, em Aleppo oriental. As forças da oposição ainda mantêm alguns distritos em seu poder. Carecem totalmente de suprimentos e munição. Dos 250.000 habitantes contabilizados no início do ataque ao leste da cidade, em julho passado, cerca de 80% foram deslocados pela batalha. Quando se aproxima o sexto ano de guerra, o presidente Assad se dispõe a concluir sua maior vitória expulsando a oposição do último grande bastião urbano que lhe restava.

Em seu empenho por reprimir a rebelião nessa cidade, outrora capital econômica do país, o presidente sírio não poupou esforços militares. Após enviar reforços a Aleppo, a histórica Palmira pode ficar desguarnecida ante uma ofensiva do Estado Islâmico, cujos jihadistas voltaram a ocupar a cidade e suas emblemáticas ruínas greco-romanas. Assad também parece não levar em conta o sofrimento da população ao lançar uma das maiores ofensivas da guerra contra uma zona densamente povoada.

Até mesmo a Cruz Vermelha saiu por um momento de seu tradicional silêncio para exigir que as partes em conflito “façam todo o possível para proteger os civis cujas vidas estão em perigo e que não têm aonde ir”. Numa contundente invocação do Direito Internacional Humanitário ante o perigo de que ocorra uma hecatombe no ataque final à rebelião, o Comitê Internacional se ofereceu, nas últimas horas, para “supervisionar um acordo que proteja os civis”. “Esse acordo deve ser feito já”, adverte a organização humanitária internacional.

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