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Messi: “Temos que sair desta merda”

O capitão da Argentina faz autocrítica coletiva depois do golpe sofrido por sua seleção contra o Brasil de Neymar

Messi após o Brasil x Argentina.Foto: atlas | Vídeo: DOUGLAS MAGNO (AFP) / ATLAS
Carlos E. Cué

A saída repentina de Messi da seleção argentina depois da derrota na final da Copa América teve um efeito positivo: quase ninguém mais se anima a dizer que não defende a camisa. No final das contas os argentinos assumiram que o problema não é seu astro, mas os que jogam com ele, o treinador e, sobretudo, o futebol argentino, que parece disposto a se afundar ainda mais quando parecia que já havia chegado ao fundo.

Messi, sempre comedido, e que durante anos evitou declarações estrondosas –a ponto de se tornar a antítese de Maradona, com quem sempre é comparado por seus compatriotas–, explodiu depois da humilhante derrota para o Brasil (3x0), que complica a classificação da seleção argentina para a Copa. “Chegamos ao fundo, e o pior é que não sabemos o que estamos fazendo. Temos que sair desta merda, a esta altura temos que ganhar de qualquer maneira”, exclamou.

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Em um país onde o futebol é religião, em que qualquer argentino, até o intelectual mais insuspeito, é capaz de repetir a escalação da seleção e a de seu time, e discutir com critérios técnicos cada mudança, cada estratégia, no dia seguinte não há outro assunto na rua. E pela primeira vez uma unanimidade: o problema não é Messi, é a equipe. “Messi sozinho não pode fazer nada. É preciso mudar metade da equipe”, concordam nas televisões, nas rádios, nas redes sociais.

Ninguém consegue entender como é possível que tendo o melhor jogador do mundo, que está em um de seus momentos mais brilhantes, como demonstra toda semana no Barça, e um conjunto de astros internacionais, a classificação esteja em risco. Muitos, sobretudo entre os jornalistas esportivos, culpam o técnico, Edgardo Bauza, que foi uma solução desesperada ante a demissão de Gerardo Martino. Além da escalação, criticam-no com dureza por ter decidido dar um dia de descanso aos jogadores depois da derrota. Ressurge com força a ideia de chamar Jorge Sampaoli. A desolação é total. “Nos humilharam”, era a manchete do Diario Popular. “Chamem o 911 (telefone de emergências)”, dizia a capa do Olé. “Alarme: uma seleção sem futebol nem reação vital”, assinalava La Nación.

Outros culpam o conjunto da seleção, uma geração de jogadores que consideram esgotada. As primeiras análises propõem uma renovação quase completa, com exceção de Messi. Outras, a própria crise do futebol argentino, que tem uma competição cada vez mais desvalorizada, uma AFA quebrada e em plena luta interna pelo poder, clubes com problemas econômicas, violência descontrolada e um domínio absoluto dos ultras, as barras bravas [núcleo mais violento das torcidas organizadas], o que faz com que os astros fujam assim que podem.

Mas o próprio Messi tem outra explicação: “O problema é da cabeça”. “A equipe cai no primeiro golpe e não pode reagir, não pode levantar-se. Vem de muitos golpes e resultados negativos”, insiste. Messi está desesperado porque sabe que sua última oportunidade de se consagrar campeão do mundo, o título que fez de Maradona uma lenda em 1986, é na Rússia 2018. E agora a classificação está em risco.

Na última final foi ele quem falhou no pênalti decisivo diante do Chile, e achou que o problema era seu. Por isso anunciou sua saída. As ruas da Argentina, sempre tão críticas em relação a Messi, se encheram de cartazes de “não se vá, Lio”. Até os avisos luminosos das estradas e do centro de Buenos Aires tinham esse texto. O melhor jogador do mundo decidiu voltar. Mas agora vê que não tem equipe, e reage de modo desesperado, convencido de que o problema é, sobretudo, vital. “Por isso, estamos mais conscientes de que temos de mudar muitas coisas, sobretudo no jogo. É o pior momento da seleção nos últimos anos”, disse, após falar sobre a falta de reação do time.

Messi parece realmente inquieto, teme que a Argentina fique fora da Copa. E, sobretudo, um dos grandes problemas do momento o assusta, dos quais se fala muito pouco: a torcida. Messi, que de Barcelona acompanha tudo o que se passa em seu país e vive em um ambiente totalmente argentino, sofreu duramente as críticas de seus compatriotas. Enquanto o planeta inteiro se rendia à sua genialidade e todas as equipes do mundo estavam dispostas a pagar milhões para que jogasse com elas, os únicos que o tinham de graça, os argentinos, o criticavam com dureza e lhe diziam que nunca seria como Maradona.

Isso passou. Mas os torcedores agora trituram os companheiros de Messi. E o astro teme um ambiente ruim em San Juan, no centro do país, onde jogarão na terça-feira com a Colômbia. Messi viu pela televisão como em Córdoba criticavam seus companheiros pela derrota diante do Paraguai. E como acha que o problema é principalmente mental, pede apoio para que seja superado. “[Em Córdoba] via-se que os torcedores ao menor erro nos insultavam, nos xingavam. E isso não ajuda. É preciso estarmos mais unidos que nunca porque todos queremos estar na Copa. Nós mais que ninguém. Mas quando você entra nessa dinâmica negativa e o entorno não ajuda, é algo que se percebe, se sente.” Pela primeira vez, Messi parece disposto a liderar não só no campo, também fora. É sua última oportunidade de passar à história dos mundiais.

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