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Neymar voa sobre Messi

Brasil castiga uma Argentina desfigurada e desorganizada

Ramon Besa
Neymar comemora seu gol no clássico.
Neymar comemora seu gol no clássico.RICARDO MORAES

Messi parece um jogador qualquer com a Argentina, ao passo que Neymar é um jogador excepcional quando atua pelo Brasil. Ambos defendem papéis opostos no Barça. Acontece que a Albiceleste é hoje uma seleção deprimida e fatalista, sem jogo, sem sorte e sem técnico, uma guloseima para a otimista seleção canarinha. Tite só sabe ganhar – já são cinco vitórias seguidas –, e Bauza vai de derrota em derrota, inclusive jogando com Messi. Nem Deus levanta a Argentina, e sua participação na Copa de 2018 fica mais comprometida do que nunca depois de ser goleada em Belo Horizonte.

BRASIL 3 X 0 ARGENTINA

Brasil: Alisson; Alves, Miranda (Thiago Silva, min. 87), Marquinhos, Marcelo; Renato Augusto, Fernandinho, Paulinho; Coutinho (Douglas Costa, min. 85), Gabriel Jesus (Firmino, min. 81) e Neymar. Não utilizados: Muralha, Weverton; Gil, Rodrigo Caio, Fagner, Filipe Luis, Giuliano, Lucas Lima, Willian e Douglas Costa.

Argentina: Romero; Zabaleta, Otamendi, Funes Mori, Mas; Enzo Pérez (Agüero, min. 46), Mascherano, Biglia, Di María (Correa, min. 71); Messi e Higuaín. Não utilizados: Rulli, Guzmán; Demichelis, Musacchio, Mercado, Roncaglia, Pizarro, Banega, Gaitán, Buffarini, Acuña, Dybala e Pratto.

Gols: 1 x 0, min. 25, Coutinho. 2 x 0, min. 45, Neymar. 3 x 0, min. 58, Paulinho.

Árbitro: Julio Bascuñán (Chile), mostrou cartão amarelo a Fernandinho, Marcelo, Funes Mori, Otamendi e Biglia.

Estádio Mineirão. 60.000 espectadores.

Desde a chegada de Tite, os resultados dão tanta confiança ao Brasil a ponto de aceitar receber a Argentina em pleno Mineirão, o estádio do 7 x 1. O Brasil nem precisou suar para castigar a Argentina. Aproveitou suas ocasiões e deixou que seu rival histórico se condenasse no Clássico das Américas. O contexto da partida permitiu uma exibição de Neymar, um galgo diante de Zabaleta, e deixou Messi fora do jogo.

O duelo acabou sendo fácil para o Brasil, irritante nas faltas táticas, vertiginoso no roubo da bola e no contra-ataque, eficaz no chute a gol, recomposto com seu novo treinador, certamente o mais inovador dos técnicos que atuam no Brasil. Os três atacantes locais desmontaram a zaga argentina, atrasada nos gols, pouco consistente e estéril, inclusive quando quem mirava na meta de Alisson era Messi, pouco refinado nos tiros livres, mal assistido, tão desmoralizado quanto na época em que perdeu a Copa América diante do Chile.

É verdade que falta cintura à Argentina, mas ninguém tem o jogo de pernas de Messi, capaz de dar um chapéu em Fernandinho e ainda cavar um cartão amarelo. Com apenas 15 minutos de jogo, o árbitro já poderia ter expulsado o volante do City por dupla advertência. O chileno Bascuñán, entretanto, foi indulgente com Fernandinho, e o jogo manteve seu curso anódino, suficiente para evidenciar a esterilidade futebolística alviceleste e a capacidade brasileira no contra-ataque.

A Argentina se agarrava a Messi, e o Brasil, a Neymar, caçado de forma reiterada, às vezes por Mascherano e ocasionalmente por Zabaleta. O confronto ficou reduzido a um diálogo Messi-Neymar, só salpicado por alguns chutes de meia distância: um de Biglia, espalmado estupendamente por Alissson, e o segundo de Coutinho. O arremate do atacante do Liverpool foi parar na rede de Romero. Coutinho recebeu de Neymar, e sua rápida condução na diagonal culminou em um chute forte e cruzado no canto direito do goleiro: 1 x 0.

O gol acentuou a penúria argentina, sua falta de passe e de chegada, e avalizou o novo perfil do Brasil, muito à vontade com suas transições, puxadas sobretudo por Neymar, porque os dois laterais mais tampavam do que abriam, por mais ofensivos que sejam Daniel Alves e Marcelo. Com o placar a favor, o Brasil esperou que a Argentina se equivocasse nas duas áreas, o que aconteceu, por exemplo, quando Messi desperdiçou uma cobrança de falta e não conseguiu forçar a expulsão de Fernandinho, enquanto Neymar, ajudado por Gabriel Jesus, ficava no mano-a-mano com Romero e anotava seu 50º. gol pela seleção.

Mais ritmo que drible

A mudança de ritmo de Neymar foi mais decisiva do que as fintas de Messi. O atacante brasileiro se impôs a Zabaleta, obrigado a defender em situações de dois contra um, e também a Mascherano, como se viu num chute que bateu na trave direita da Argentina. Anulada no ataque, a Albiceleste se condenou à defesa, carente de liderança, de um volante que conectasse com Messi, que foi mais meia que atacante, escasso de munição, bem reduzido pelo Brasil. Bauza ainda tirou Enzo Pérez, o que só fez o time piorar.

Zabaleta ficou mais exposto na lateral direita, e Mas falhou na esquerda no gol de Paulinho. O volante fechou o placar minutos depois de superar Romero, auxiliado por Zabaleta, e arrematar fraco e mal. O 3 x 0 liquida e jogo e abre o debate sobre qual seria a solução para a Argentina, atualmente desorientada e descabeçada, seriamente ameaçada em ficar de fora da Copa da Rússia, depois de participar de todas as edições desde 1974.

A Albiceleste vaga sem rumo pela América. Não demonstra ter jogo nem jogadores, e Messi parece ser um qualquer, num time sem alma nem paixão, sem direção em campo, no banco e na AFA. Nada a ver com o Brasil, que retomou o voo depois do seu fracasso na Copa do Mundo em casa. Há detalhes especialmente reveladores que confirmam a mudança de papéis: Neymar marcou pela primeira vez um gol numa partida em que enfrentava Messi, e o saldo deles no confronto direto agora está em 4 x 2, ainda favorável ao camisa 10 argentino.

O jogo acabou sendo tão simples para o Brasil, mais sério do que alegre dentro de campo, que a torcida custou a comemorar os 3 x 0 contra o rival mais histórico. Não que a vitória não tenha tido méritos; simplesmente estava cantada desde que o placar foi aberto e Fernandinho se aguentou em campo, quando Messi ainda achava que poderia conquistar Belo Horizonte. Falsa esperança para um time que não faz nem ideia de como encarar um jogo e que, neste momento, estaria fora da Copa da Rússia.

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