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Trump comemora a vitória pedindo pela “unidade” dos norte-americanos

Os seguidores: “A América já é grande novamente"

Amanda Mars
Seguidores de Trump celebram em Nova York a vitória do candidato republicano.
Seguidores de Trump celebram em Nova York a vitória do candidato republicano.Evan Vucci (AP)

Estava em jogo para os Estados Unidos na noite de terça-feira seu ser ou não ser, mas para os turistas que abarrotaram Nova York, as eleições eram mais um entretenimento. Pela manhã curiosos se reuniram nos arredores da Torre Trump, na Quinta Avenida, e compravam bonés, broches e camisetas do candidato, como se fossem os típicos souvenires ‘I love New York’. De noite, o lema do republicano exibido nesses artigos, ‘Fazer a América grande novamente’, se transformou em um contrato com o povo norte-americano.

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Eram onze horas da noite (2h da manhã de quarta-feira de Brasília) e os resultados não eram certos, mas o Hotel Hilton de Nova York, onde Donald Trump realizava a noite eleitoral, já cantava pela vitória. A televisão do átrio acabava de anunciar que o candidato republicano havia vencido na Flórida e os gritos e aplausos começaram a decretar a vitória.

Donald J. Trump, um construtor nova-iorquino de 70 anos, um outsider da política, e viciado em câmeras, ganhou as eleições presidenciais contra a maioria das pesquisas. No momento em que ele se mostrava claramente na liderança em estados fundamentais como a Flórida, Carolina do Norte e Ohio, os índices futuros da Bolsa de Nova York começaram a cair. Foram eleições bizarras, Wall Street apoiava a candidatura democrata, a de Hillary Clinton, e entrava em pânico com a republicana, liderada nem mais nem menos por um homem de negócios.

Ele fez um discurso conciliador, atípico em sua trajetória política. “Agora é o momento da unidade entre republicanos e democratas”, disse, e pediu até mesmo “gratidão” para sua rival derrotada, Hillary Clinton, por sua grande campanha, quando chegou a prometer que a prenderia. “Quero dizer à comunidade internacional que colocaremos os interesses da América em primeiro lugar, mas negociaremos com justiça”, destacou, em referência aos tratados comerciais internacionais. Não mencionou os elementos mais polêmicos de sua campanha, o pulso firme contra a imigração ilegal e o famoso muro que prometeu construir na fronteira com o México.

Mas foi isso o que lhe deu os votos. Michael Rodríguez, como muitos seguidores de Trump, afirmou na terça-feira que o voto secreto no empresário distorceu as pesquisas. “Existem muitas pessoas que apoiam Trump e não se atrevem a dizê-lo, hoje a América já é grande novamente”, disse. De origem argentina, de 38 anos, Rodríguez nasceu e cresceu em Nova York e seu voto teve forte sentimento nacionalista: “O idioma está sendo destruído, existem muitos cidadãos norte-americanos que não sabem falar inglês corretamente, o idioma, as fronteiras e a cultura são o que forma um país”, explicou.

As mulheres e os latinos, coletivos que não parou de ofender com comentários machistas e xenofóbicos, eram seus principais obstáculos para a vitória, mas não suficientes. O Partido Republicano, de quem seu candidato acabou divorciado graças às polêmicas, terá que se deitar no divã.

Jonathan Watkins, que também comemorava a vitória no Hilton com sua filha pequena nos braços, não entendia o temor internacional por um governo de Trump. “É provavelmente sua falta de correção política, é um homem direto, que depois se explica, e existem outros interesses, porque ele quer renegociar os tratados de comércio internacional”, comentou o economista de 40 anos.

Foi um ano e meio de incêndio em incêndio. Para relatar as campanhas eleitorais, a imprensa costuma utilizar cientistas políticos e sociólogos, às vezes historiadores. Mas nas eleições presidenciais de 2016, nos Estados Unidos foram entrevistados também satanistas e especialistas em primatas. Serve para compreender como esse processo foi distorcido e desconcertante.

O trumpismo já não é um fenômeno e um sintoma, irá governar o país mais poderoso do mundo. Alguns seguidores do republicano que não conseguiram entrar na festa continuaram concentrados nas proximidades do Hilton, poucos, uma vez que a cidade de Trump é território democrata. Eram mais os turistas passeando entre os arranha-céus de Manhattan. Levavam um casaco leve em uma noite morna. O dia havia amanhecido completamente limpo. Um fabuloso dia de outono em Nova York viu Donald Trump prestes a se transformar em presidente.

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