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Vitória de Trump prenuncia catástrofe econômica e social para o México

Republicano significa o início de uma hostilidade política de consequências imprevisíveis

Jan Martínez Ahrens

Os Estados Unidos acabam de fechar o muro que os separa do México. Muito mais que o cimento e o aço, a eleição de Donald Trump como presidente da nação mais poderosa do planeta significa o fim de uma era de concórdia e o início de uma hostilidade política de consequências imprevisíveis. Não se trata apenas da ameaça de deportações maciças, muros físicos e estrangulamento econômico; é, acima de tudo, o triunfo de uma ideologia xenófoba e vociferante que ganhou votos pisoteando o orgulho de seu vizinho do sul. Com Trump, o pesadelo do México se tornou realidade.

Martin Macias segura cartaz contra Trump em Ciudad Juarez, no México.
Martin Macias segura cartaz contra Trump em Ciudad Juarez, no México.JOSE LUIS GONZALEZ (REUTERS)

As fronteiras costumam unir mais do que afastar. Mas, com o republicano na Casa Branca, a linha divisória se expandiu além de seus 3.142 quilômetros para entrar em um território povoado pelo ódio. Foi Trump quem há mais de um ano rompeu qualquer contenção política ao acusar os mexicanos de trazerem “drogas e estupradores” para o seu país. E foi ele quem propôs construir um muro e revogar o Tratado de Livre Comércio. Desde então, sua retórica não abandonou a beligerância antimexicana. Nem sequer a visita-bomba ao México, no fim de agosto, serviu para frear seus rompantes. O bilionário transformou aquela reunião em Los Pinos em mais um comício e usou a mão estendida pelo presidente Enrique Peña Nieto para esbofetear a sua rival democrata. Horas depois, completou a humilhação ao sentenciar: “Os mexicanos ainda não sabem, mas pagarão pelo muro”.

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Apesar dessa incandescência permanente, há quem espere que o manto presidencial acalme o vencedor. Pode ser que no futuro se modere. Mas, neste momento, todos os alarmes foram disparados no México. O primeiro deles, o econômico.

A vitória de Trump causará uma drástica desvalorização do peso. As agências internacionais calculam uma queda de 20% nestes primeiros dias. Um desastre histórico para uma divisa que, devido ao efeito Trump, já perdeu 25% frente ao dólar em pouco mais de um ano, e que há um mês chegou a ser a moeda mais abatida do mundo. “Trump é um furacão devastador, sobretudo se cumprir o que prometeu em campanha”, sentenciou o presidente do Banco do México, Agustín Carstens. No mesmo sentido se expressou Raúl Feliz, professor do Centro de Pesquisa e Docência Econômicas (CEDE): “Se as palavras de Trump se tornarem fatos, será uma catástrofe. As tarifas e muros desencadearão uma tremenda recessão”.

Estes temores puseram em marcha o maquinário defensivo mexicano. Peña Nieto determinou há algumas semanas que o Governo analise os tratados, submeta os bancos a testes de estresse e escrutine as grandes fortunas. A conclusão, como confidenciou um membro do gabinete presidencial ao EL PAÍS, é que o México superará o vendaval, mas a “incerteza será brutal”.

Apesar dessa incandescência permanente, há quem espere que o manto presidencial acalme o vencedor. Pode ser que no futuro se modere. Mas, neste momento, todos os alarmes foram disparados no México

O golpe virá de várias frentes. Trump, como presidente, terá o poder de romper com o arcano da economia mexicana: o tratado de livre comércio. Mas essa não é a única ameaça. O republicano prometeu reduzir as remessas (15 bilhões de dólares nos sete primeiros meses) e impor tarifas. Todo isso converge num ponto: instabilidade econômica e, portanto, menos investimentos estrangeiros e fuga maciça de capitais. Em poucas palavras, o estrangulamento do México.

A única esperança frente ao cataclismo procede, paradoxalmente, dos Estados Unidos. Por mais que isso irrite Trump, os empresários norte-americanos fazem bons negócios com os mexicanos. O vizinho do norte é o maior investidor (153 bilhões de dólares entre 1999 e 2012) e tem o México como segundo maior sócio comercial e o principal destino de exportações da Califórnia, Arizona e Texas, assim como o segundo mercado para outros 20 Estados. Restringir esse fluxo, ou simplesmente modificá-lo, pode gerar enormes danos ao norte do rio Bravo, onde seis milhões de empregos dependem dos intercâmbios com o México.

Os próximos passos de Trump serão chaves para calibrar esses impactos. Mas a mera expectativa de um Executivo presidido pelo bilionário representará um dano incomensurável para o México. O que até ontem era um pesadelo no México agora já é uma realidade. Uma era triste começa hoje.

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