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Jornal recomenda voto em democrata pela primeira vez em mais de 70 anos

O ‘Dallas Morning News’ recomendou este ano voto em Hillary Clinton

Pablo Ximénez de Sandoval
Keven Ann Milley, no terraço do 'Dallas Morning News'.
Keven Ann Milley, no terraço do 'Dallas Morning News'.P. X. S.

“Trump está, ou esteve, contra quase todos os ideais republicanos que este jornal estima. Donald Trump não é um republicano e certamente não é um conservador.” Com estas palavras, em 6 de setembro o jornal Dallas Morning News, o diário da elite republicana do norte do Texas, dizia em um editorial a seus leitores que não apoiava o candidato republicano. No dia seguinte, outro editorial recomendava (não apoiava) votar em Hillary Clinton. Outros jornais conservadores, como o Arizona Republic e o Chicago Tribune também renegaram Trump. O jornal de Dallas não pedia o voto em um democrata desde os anos 30. A chefa de Opinião do jornal conservador, Keven Ann Milley, nos recebeu em sua sala para explicar esta decisão que dividiu seus leitores.

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Pergunta. Como se chegou a esta decisão?

Resposta. O Conselho Editorial tinha recomendado John Kasich nas primárias e ficamos decepcionados quando ele não ganhou impulso. Desde o princípio nos sentíamos incômodos com Donald Trump, e foi piorando. Chegamos à decisão relativamente fácil de que Trump não era alguém que pudéssemos recomendar de boa-fé aos eleitores. O mais difícil para nós era responder ‘se não é Trump, então, quem?’. O único nome na cédula com opções realistas de evitar que Trump chegue à presidência é Hillary Clinton. Fizemos isso em dois editoriais porque devíamos uma explicação a nossos leitores, que são em sua maioria conservadores.

P. Que tipo de resposta receberam?

R. Agitamos muito o debate. Chegaram-nos respostas de leitores muito decepcionados com a decisão. Como vocês podem apoiar um democrata? E esta democrata em particular? Muito pouca gente defendeu Trump, na verdade. E tivemos respostas de pessoas que apoiaram nossa recomendação e acharam que era um sopro de ar fresco e uma indicação de abertura de espírito e de transparência. Alguns nos disseram que não concordavam conosco, mas nos agradeciam pela forma com que nos explicamos. As vozes mais altas foram as críticas.

P. Nesta eleição parece haver uma desconexão entre os interesses das elites e os interesses do americano médio. É isso o que se passou neste caso?

R. Acho que há uma desconexão no partido, no Governo e na mídia. Acho que o que está alimentando o fenômeno Trump é esse sentimento muito real por parte de alguns eleitores de que estão soltos, econômica e culturalmente. Acho que é um sentimento real. Acho que os partidos, o Governo e a mídia têm que se esforçar mais para entender esse componente. Nossa posição editorial é que Trump não é a resposta. Não é o seu consolo, é o seu caos.

P. E qual é o consolo? As pessoas parecem preferir o caos. Quando mais são alertadas, mais querem Trump.

R. O problema é real, suas soluções são falsas. Os desencantados necessitam de algo que Trump não quer e não pode lhes dar. Não tem experiência em governo nem no serviço público. Diz que é um homem de negócios bem-sucedido, mas afundou suas empresas. Esperar que resolva e seja o salvador do que quer que seja, não é realista.

P. E é realista no caso de Clinton?

R. É ligeiramente mais realista.

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