Espanha cancela permissão para que navios russos façam escala no país
Autorização, questionada pela OTAN, havia gerado polêmica devido ao possível papel das embarcações na guerra síria
O Governo da Espanha cancelou nesta quarta-feira a permissão concedida a uma flotilha da Rússia, encabeçada pelo porta-aviões Admiral Kuznetsov, que se dirige ao Mediterrâneo Oriental para que faça uma escala em Ceuta, território espanhol localizado no norte da África. Segundo um comunicado, a embaixada russa em Madri retirou a solicitação da escala depois que o ministério de Relações Exteriores espanhol pediu esclarecimentos sobre a possibilidade de que as três embarcações "participassem apoiassem as ações bélicas sobre a cidade síria de Aleppo".
O secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, havia reiterado sua preocupação com a possibilidade de que um grupo de combate participe do assalto final a Aleppo (Síria) pelas tropas do regime de Bashar al Assad. “Cada país deve decidir” se autoriza ou não os navios russos a se abastecerem em seus portos, “mas neste caso eu emiti uma mensagem muito clara: estamos preocupados com o uso potencial que essas embarcações russas podem ter para aumentar a tragédia na Síria”, acrescentou Stoltenberg. Por sua vez, o secretário britânico de Defesa, Michael Fallon, disse que o Reino Unido ficaria “extremamente preocupado se um país da OTAN pensasse em dar assistência à frota russa que pode acabar bombardeando civis na Síria. Pelo contrário, os membros da OTAN devem se manter unidos”.
Já na noite de terça-feira, um porta-voz do ministério de Relações Exteriores espanhol anunciou que a decisão de permitir a escala em Ceuta estava sendo revistas. "As escalas solicitadas estão sendo revistas neste momento por causa da informação que estamos recebendo de nossos aliados e das próprias autoridades russas”, informou um porta-voz do departamento dirigido por José Manuel García-Margallo.
Desde que a flotilha russa zarpou do porto de Severomorsk, no Ártico, em 15 de outubro, a OTAN não a perdeu de vista em sua travessia pelo mar da Noruega e o canal da Mancha. O agrupamento naval aliado SNMG-1, sob comando da fragata espanhola Almirante Juan de Borbón, a seguiu de perto e, ao se aproximar da costa espanhola, as embarcações de patrulha Atalaya e Cazadora se alternaram em seu acompanhamento – a primeira no mar Cantábrico, e a segundo a partir do cabo de San Vicente. A flotilha (integrada pelo porta-aviões Admiral Kuznetsov, o único da Marinha russa, pelo cruzador de propulsão nuclear Pedro, o Grande, pelos navios antissubmarinos Severomorsk e Vitse-Admiral Kulzkov, bem como quatro navios auxiliares e com toda probabilidade algum submarino) deixou na terça-feira as águas de Portugal e deveria atravessar o estreito de Gibraltar na manhã desta quarta.
O paradoxo é que o Governo espanhol havia autorizado três dos navios que escoltam o Kuznetsov a fazerem escala em Ceuta na próxima sexta, a fim de se abastecerem com água, mantimentos e combustível. Ocorre que Ceuta e Melilla, cidades encravadas na costa africana, são as únicas partes do território espanhol que não estão cobertas pelo guarda-chuva defensivo da OTAN.
A frota russa é cliente habitual do porto de Ceuta, onde mais de 60 navios da sua Marinha de Guerra atracaram desde 2011, deixando abundantes benefícios para a economia local. O porta-voz do ministério espanhol das Relações Exteriores salientou que essas escalas são autorizadas caso a caso, atendendo às características do navio e a segurança do ambiente, da população local e do próprio porto, e que são aprovadas com total transparência, informando-as aos aliados.
Desta vez, porém, a autorização causou uma grande polêmica. O líder do bloco liberal no Parlamento europeu, Guy Verhofstadt, tuitou que “a Espanha assinou na semana passada a declaração da UE sobre os crimes de guerra da Rússia em Aleppo, e hoje ajuda a reabastecer a frota a caminho de cometer mais atrocidades. Sério?”.
O ministro espanhol da Defesa, Pedro Morenés, disse na terça-feira em Paris que “haverá consultas com o Governo russo sobre a participação ou não [em operações na Síria] dessas embarcações que solicitaram reabastecimento em Ceuta”. Recordou que essas atracações são uma prática habitual, e que “neste caso particular houve uma autorização prévia, embora os objetivos [da escala] não devessem estar claros”.
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