PF mira fundos de pensão e Justiça ordena depoimentos de magnatas da JBS
Joesley e Wesley Batista, da gigante da carne JBS-Friboi, são alvo de condução coercitiva
Uma operação da Polícia Federal deflagrada na manhã desta segunda-feira em nove Estados mira os quatro maiores fundos de pensão brasileiros, todos ligados a empresas estatais, e afeta os dois irmãos magnatas da carne brasileira, Joesley e Wesley Batista, proprietários da holding J&F. Há contra os irmãos Batista mandados de condução coercitiva (a obrigação de que acompanhem a polícia) para prestarem depoimentos. Os policiais querem que ambos deem explicações sobre o suposto envolvimento em irregularidades em uma das empresas controladas por eles, a Eldorado Brasil Celulose - Wesley já prestou depoimento em São Paulo, enquanto Joesley não cumpriu a ordem por estar no exterior. Os Batista estão entre os empresários mais ricos do país com patrimônio que supera os 4 bilhões de dólares. A JBS-Friboi, administrada pela família deles, é a maior produtora de carne bovina do mundo e virou um grande ator na política brasileira sendo, ao lados das megaempreiteiras, um grande doador a campanhas políticas. A reação do mercado à operação da PF foi imediata. A ação da empresa caiu 10,04% nesta segunda, a maior baixa do dia no Ibovespa.
Batizada de operação Greenfield, a ação mira o fundo de servidores da Caixa (Funcef), o dos funcionários da Petrobras (Petros), o dos trabalhadores dos Correios (Postalis) e o dos bancários do Banco do Brasil (Previ). A Eldorado está entre as investigadas porque recebeu investimento das fundos Funcef e Petros. A suspeita é que alguns dos administradores dos fundos tenham cometido crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, entre eles, gestão temerária ou fraudulenta. A CVM (Comissão de Valores Imobiliários) participa da investigação.
“A ação é ancorada em dez casos revelados a partir do exame das causas dos déficits bilionários apresentados pelos fundos de pensão. Entre os dez casos, oito são relacionados a investimentos realizadas de forma temerária ou fraudulenta pelos fundos de pensão, por meio dos FIPs (Fundos de Investimentos em Participações)”, diz a polícia em uma nota.
A ação ocorre simultaneamente em 13 cidades brasileiras e foi autorizada pela 10ª Vara Federal de Brasília. De acordo com a PF, estão sendo cumpridos 127 mandados judiciais, sendo sete de prisão preventiva. Os nomes dos suspeitos contra quem foram pedidas as prisões não foram divulgados.
Investigadores relataram que alguns dos alvos de busca e apreensão também estão envolvidos na Operação Lava Jato. Dois deles são o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e o ex-presidente da empreiteira OAS, Léo Pinheiro. Até a manhã desta segunda-feira, a Justiça já havia autorizado o bloqueio de aproximadamente 8 bilhões de reais relativos aos bens de 103 investigados nesta operação.
Em nota, a holding J&F informou que seus executivos "colaboram com as investigações e estão à disposição das autoridades". "A empresa esclarece que os investimentos feitos pela Petros e Funcef na Eldorado foram de R$ 550 milhões no ano de 2009. De acordo com o último laudo independente (Deloitte) emitido em dezembro de 2015, a participação dos fundos atualizada é de R$ 3 bilhões, ou seja 6 vezes o valor investido inicialmente”, diz a nota da holding J&F. De acordo com o jornal Valor Econômico, a auditora Delloite está entre as investigadas.
Não é a primeira vez que a ação da polícia alcança a JBS. Em junho deste ano, uma fase da Lava Jato, a Sépsis, já havia cumprido mandado de busca e apreensão na sede do grupo JBS.
Histórico de problemas
Desde a década de 1990 os fundos de pensão brasileiros são alvo de irregularidades. Criados para proporcionar aposentadorias aos seus contribuintes, frequentemente são investigados por má gestão ou desvios de recursos. Ao menos duas CPIs (comissões Parlamentares de Inquérito) já foram criadas para apurar essas ilicitudes, uma em 1992 e outra no ano passado.
Na CPI mais recente, os deputados sugeriram o indiciamento de 353 pessoas, que foram apontadas como responsáveis por desviarem, entre 2003 e 2015, cerca de 6,6 bilhões de reais desses quatro fundos de pensão investigados na operação de hoje.
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