Bauza, o homem que recuperou Messi para a Argentina
O novo treinador da Alviceleste convenceu o 10 a voltar a jogar com sua seleção, apesar das reticências do Barcelona
Edgardo Bauza, ou El Patón (O Patudo, referência a seus pés grandes, número 46), figurava no pódio dos zagueiros mais goleadores da história, segundo a Federação Internacional de História e Estatística do Futebol, com 108 gols em 499 partidas. Até que Hierro e seus 110 tentos lhe surrupiaram a terceira posição na lista, encabeçada por Koeman, 193, e Passarella, 134. “Cruzei com Fernando [Hierro] em Marrocos, quando com o San Lorenzo jogamos a final do Mundial de clubes contra o Madrid”, recorda Bauza. “Disse-lhe que precisou ir jogar no Catar para fazer gols e roubar-me o terceiro lugar. Hierro morria de rir.” Segundo Carlos Bilardo, que o levou ao Mundial da Itália, El Patón era era um zagueiro à moda antiga. “Não há mais defensores centrais com essa personalidade e que façam tantos gols”, afirma Bilardo.
Bauza nasceu em Granadero Baigorria, Santa Fé, há 58 anos e se formou no viveiro de talentos do Rosario Central. Seus nove gols no clássico rosarino o elevaram a um dos maiores ídolos de La Academia. “A torcida do Central cantava: ‘El Patón, El Patón, o papá do Newell’s Old Boys”, explica Bauza, que guarda uma historieta que lhe foi dedicada por outro mítico torcedor do Rosario Central, Roberto Fontanarrosa. E até se animou a gravar uma canção para arrecadar fundos para um orfanato em Rosário. “Essa foi uma ideia do Negro Fontanarrosa, que mentiu para mim. Disse que todos iriam cantar, e ele desapareceu. Nem minha velha comprou o CD”, explica, entre risadas, o novo treinador da seleção argentina. Um canalha (assim são chamados os torcedores do Central) que viajou para Barcelona para ganhar a confiança de um leproso de alma (mote que define os torcedores do Newell’s) como Messi.
O jogador havia anunciado que “a seleção terminou para mim”, quando uma Associação Argentina de Futebol (AFA) em chamas divulgou a contratação de Bauza para comandar a Alviceleste. Bauza tinha bem claro: teria de convencer Leo a voltar a usar a azul-celeste e branca. Primeiro falou com Jorge Messi, o pai, por telefone, e depois seguiu para Barcelona. Na cidade esportiva Joan Gamper era esperado por La Pulga, já com a raiva mastigada, depois da terceira final consecutiva perdida com a Argentina, na Copa América Centenário –antes havia caído na Copa do Mundo do Brasil e na Copa América do Chile. Bauza se apresentou diante de Messi com uma piada debaixo do braço. “Disse-lhe que, como nas férias eu o tinha visto com uma garrafa térmica do Newell’s, tinha chegado com uma garrafa térmica do Central para que agora tomássemos mate com essa. E Leo começou a rir”, contou Bauza ao Diario Ole. Com o sorriso de La Pulga no bolso, El Patón pegou o computador e começou a lhe explicar a seleção que tinha em mente.
Duas Libertadores
“El Patón sempre repetia a mesma frase: ‘Sem ordem não se consegue nada’. E suas equipes têm essa marca. São muito equilibradas e os jogadores de cima têm muita liberdade”, afirma Mauro Cetto, que atuou sob as ordens de Bauza em San Lorenzo de Almagro. O novo técnico da Alviceleste aterrissou no prédio de Ezeiza com duas Copas Libertadores na vitrine: em 2008 surpreendeu a América com a LDU de Quito e repetiu em 2014 à frente do San Lorenzo. “Chega à seleção com muita experiência. Já sabe o que é passar por momentos bons, mas também por maus. Isso é crucial. Sabe tratar os jogadores, sabe tratar o jornalismo e é um homem do futebol”, observa Bilardo, campeão do mundo no México em 1986.
“Sua presença já impõe respeito. É grandão (mede 1m90) e tem cara de mau, mas é muito bom sujeito. Com o jogador tem a relação correta: nem muito distante nem muito próximo. É um sujeito que escuta muito o jogador”, explica Cetto. Bilardo entende que Bauza não terá nenhum problema para tomar as rédeas de uma equipe repleta de estrelas. “Na seleção ter os melhores do mundo nunca é um problema. Você tem mais para escolher, não vai deixar sempre o mesmo jogador no banco. Além disso, este grupo de rapazes é muito bom. Todos chutam para a frente”, explica o ex-treinador do Sevilla.
O canalha Bauza já tem o leproso Messi. Agora, El Patón buscará curar as dores de La Pulga e levá-lo ao topo do mundo na Rússia em 2018.
“O BARÇA LHE RECOMENDOU NÃO VIAJAR E LEO DISSE: ‘NÃO, NÃO, EU VIAJO’”
Depois de todo o alvoroço armado na Argentina quando Messi renunciou à seleção –até o presidente Mauricio Macri telefonou ao jogador para convencê-lo a retornar–, o 10 do Barcelona não queria perder o duelo pelas eliminatórias contra o Uruguai. Nem suas dores nem o músculo adutor esquerdo, que o Barça informou depois da partida contra o Athletic, o impediram de viajar. “o Barça lhe recomendou que ficasse e Leo disse: ‘não, não, eu viajo’”, revelou Bauza.
Messi aspira a jogar com a Alviceleste. Na Argentina estão contentíssimos. Na quinta-feira, foi dele o gol da vitória por 1 a 0 sobre o Uruguai, que colocou a seleção à liderança das eliminatórias com 14 pontos, dois a mais que o Brasil, quinto colocado.
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