‘Apesar de você, amanhã há de ser outro dia’
Em tempos complicados, nos quais corruptos não mudam e pessoas se entregam ao pessimismo, sempre resta a poesia
Ninguém é capaz de expressar sentimentos como os poetas. Sejam os nossos sentimentos ou os do conjunto de uma sociedade. E a poesia fala várias línguas ao mesmo tempo.
No Brasil, existiram poucos poetas como Chico Buarque, o genial letrista e músico que, nos duros anos da ditadura militar, expressou o sentimento da sociedade naquele momento de trevas e dramático.
A letra de uma de suas músicas mais famosas, Apesar de Você, foi à época, e continua sendo hoje, um exemplo da força da poesia, essa que sempre intrigou e irritou os poderes autoritários.
Esse poema de Chico chamou a atenção dos militares que o interrogaram para saber quem era aquele você.
Hoje o Brasil não vive uma ditadura. É uma democracia das mais firmes do continente, mas que começa a mostrar rachaduras.
Hoje o você da canção pode ser muitas coisas, até nós mesmos, que vivemos no Brasil e mostramos pessimismo diante do futuro incerto desse país.
Podem ser os políticos corruptos, que resistem à mudança, os saudosos da autoridade, os cínicos que resistem a aceitar que o Brasil, sua economia, sua democracia, sua esperança no futuro têm que crescer. Os que continuam mais firmes em defender seus direitos e privilégios do que em pensar com generosidade no futuro da sociedade que representam.
Apesar deles, Chico poderia escrever novamente, “amanhã há de ser outro dia”.
E será, porque a sociedade brasileira irá sair mais madura do drama que está vivendo. Apesar das polêmicas e divisões, é uma sociedade que cresceu democraticamente, mais exigente com os políticos e com a democracia.
Uma sociedade que, por exemplo, já não admitiria uma guerra contra a Lava Jato que, pela primeira vez nesse país, está julgando e prendendo essa parcela do poder político e econômico que sempre se sentiu imune às punições.
Hoje, o Brasil sabe melhor do que ontem o que quer e o que não quer.
"Você vai ter que ver
A manhã renascer
e esbanjar poesia".
Espero que o genial poeta volte hoje a ter razão como teve quando escreveu essa música, que como toda a verdadeira arte, não morre porque é atemporal.
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