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Estudo identifica novos genes envolvidos na esclerose lateral amiotrófica

Conhecida pela sigla ELA, a doença em um componente genético complexo baseado em variantes raras

Stephen Hawking, que sofre da doença há mais de 50 anos.
Stephen Hawking, que sofre da doença há mais de 50 anos.GETTY IMAGES

A esclerose lateral amiotrófica (ELA), uma doença neurodegenerativa fatal que afeta cerca de 200.000 pessoas no mundo, tem um componente de propensão genética complexo e mal compreendido. É vital, portanto, identificar os genes responsáveis tanto para ajudar no diagnóstico quanto para pesquisar possíveis tratamentos. Um consórcio internacional acaba de dar um passo importante para descobrir vários genes novos. Os dados também revelam que as variantes genéticas envolvidas são raras na população e aconselham expandir o estudo para encontrar as outras.

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A descoberta enriquece consideravelmente o censo total de genes associados à ELA. O primeiro (chamado C9orf72) foi descoberto em 2009, e a pesquisa de suas variantes de risco “revolucionou o campo da genética e da biologia da ELA”, disseram os cientistas. A pesquisa, publicada em dois artigos na revista Nature Genetics (1 e 2), foi coordenada por Jan Veldink, do Centro Médico Universitário de Utrecht, e Ammar Al-Chalabi, do King’s College, de Londres. A contribuição espanhola ficou por conta de Jesús Mora, diretor da unidade de ELA do Hospital San Rafael de Madri, e contou com o financiamento da Fundação Espanhola para o Fomento da Pesquisa de ELA (Fundela).

“Tal como acontece com outras doenças degenerativas, a ELA tem uma base genética”, Mora afirmou ao EL PAÍS. “Certas variantes genéticas envolvem uma predisposição, mas, para que a doença se manifeste, também são necessários alguns fatores ambientais que, atualmente, não conhecemos; só temos suspeitas, como a possibilidade de que alguma forma de príon esteja envolvida, mas não há nada claro.”

A descoberta enriquece muito o censo total de genes associados à ELA. O primeiro foi descoberto em 2009, e a pesquisa de variantes de risco revolucionou o campo da genética sobre a doença

A ELA provoca a degeneração dos neurônios motores, que são responsáveis por controlar os movimentos voluntários dos músculos. Isso resulta em uma crescente dificuldade para se mover, falar, engolir e, eventualmente, respirar. A sobrevivência média é de três a quatro anos, embora 10% dos pacientes sobrevivam mais de 10 anos. Um caso excepcional muito famoso é o do físico britânico Stephen Hawking, que enfrenta a doença há mais de meio século. O caso de Hawking também ilustra perfeitamente que a ELA não afeta a capacidade intelectual.

Embora a pesquisa com gêmeos revele uma alta hereditariedade, os casos comprovadamente hereditários — aqueles com familiares afetados — não passam de 10%, e, portanto, 90% dos casos são considerados “esporádicos”, que é o termo médico para confessar que a causa é desconhecida. Isso não significa que os casos esporádicos não tenham um fator de risco genético. Na verdade, o novo estudo identificou variantes genéticas que aumentam o risco da ELA esporádica. Esclarecer todo esse complexo quadro é, de fato, o objetivo dessas pesquisas.

Cerca de 90% dos casos são considerados “esporádicos”, que é o termo médico para confessar que a causa é desconhecida

Os dois trabalhos publicados agora se baseiam no sequenciamento (leitura) do genoma completo de 1.862 europeus. Fazem parte do projeto MinE para coletar dados genéticos de mais de 15.000 pacientes com ELA e 26.000 pessoas saudáveis. O projeto MinE é financiado com as campanhas do Ice Bucket Challenge, que inclui uma série de vídeos onde as pessoas derrubam um balde de água sobre a cabeça, doações de cidadãos e concertos de rock, e que conseguiram chamar a atenção do público para a doença.

“Estas três novas variações genéticas”, Mora explica, “sugerem que, em muitos casos, a doença não parece ser o resultado de múltiplas variações genéticas comuns, e sim que existem vários genes cuja única mutação rara aumenta significativamente o risco da doença; esta é uma descoberta crucial, uma vez que afeta os tipos de estratégias que podem ser desenvolvidas para o tratamento da doença em cada paciente”.

Mora sabe, por sua vasta experiência, que falar de genes com os pacientes e suas famílias não os ajuda muito. “O que querem saber é onde está o comprido?”, diz com humor. E destaca que existem dois ensaios clínicos no mundo. O primeiro, com o Masitinib, um inibidor da tirosina quinase, que foi coordenado por Mora e envolveu 400 pacientes. Foi concluído em fevereiro e demonstrou que a droga diminui, em certa medida, o desenvolvimento de sintomas.

O segundo está em andamento com o Tirasemtiv, um ativador da troponina, uma proteína muscular, com 600 pacientes nos Estados Unidos, Canadá e Europa, e que também é organizado por Mora na parte espanhola, no hospital San Rafael.

O caminho ainda é longo, mas é óbvio que a ajuda dos cidadãos pode ajudar muito a percorrê-lo.

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