O último voo de Fabiana Murer
Única brasileira campeã mundial no atletismo chega ao Rio como uma das maiores esperanças de medalha para o país
Fabiana Murer passava férias nas praias da Bahia em 2009 quando soube que o Brasil sediaria a Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro. Foi ali que ela decidiu reavaliar a aposentadoria, marcada para 2014, e atuar até os 35 anos para estar presente nos Jogos Olímpicos em seu país. Hoje, ela tem certeza de que a espera valeu à pena. Aquela que deveria ser sua última temporada serviu apenas para mostrá-la que estava no caminho certo para o Rio. Foi em 2014 que ela conquistou o bicampeonato da Diamond League e terminou o ano como a dona das três melhores marcas do mundo no salto com vara. Pouco depois, em 2015, aos 34 anos, igualou a melhor marca de sua carreira (4,85 metros) e levou a medalha de prata no Mundial de Atletismo de Pequim. Os resultados não deixam dúvida: a única brasileira campeã mundial no atletismo (entre homens e mulheres) chega ao Rio como uma das maiores esperanças de medalha para o país. E tem a chance de encerrar sua carreira do jeito que sempre sonhou. Com uma medalha olímpica, a única que falta em sua coleção.
Na primeira Olimpíada que disputou, a de 2008, em Pequim, Fabiana teve uma das maiores decepções de sua carreira. Embalada pelo ouro nos Jogos Pan-Americanos do Rio, em 2007, chegava aos Jogos pronta para disputar uma medalha. No dia da competição, porém, uma de suas melhores varas sumiu. Ela conta que a organização levou o equipamento por engano de volta para a Vila Olímpica junto com as varas de outras atletas que não tinham se classificado para a final. Chorou, protestou e, no fim, saltou muito abaixo de suas marcas. Quatro anos depois, em Londres, Fabiana disputava o posto de melhor do mundo com a russa Yelena Isinbayeva. A medalha nunca esteve tão próxima, mas ela decepcionou. Acertou apenas um salto e deixou a competição após desistir no meio da corrida em duas tentativas. Terminou em 14º lugar.
Desta vez, na preparação para os Jogos do Rio, a atleta está certa de que não vai repetir os mesmos erros de quatro anos atrás. Ao contrário do que fez nos meses anteriores à Olimpíada de Londres, agora ela disputou todas as provas que pôde, inclusive as competições indoor. Tudo para não perder ritmo e acompanhar de perto o que suas adversárias estão fazendo.
Fabiana gosta de ver como suas rivais estão saltando para saber exatamente o que precisa fazer para superá-las. A força nos braços, adquirida graças aos anos de ginástica artística –que ela pratica até hoje– já não é a mesma. Longe do auge físico, a saltadora chega ao seu último ato tendo a técnica e a experiência como seus maiores trunfos. No Troféu Brasil, disputado no domingo, dia 3 de julho, ela saltou 4,87 metros, quebrou o recorde sul-americano e se tornou líder do ranking mundial. Além disso, estabeleceu a melhor marca de sua carreira.
Longe do auge físico, a saltadora chega ao seu último ato tendo a técnica e a experiência como seus maiores trunfos
Fabiana é formada em fisioterapia, profissão que pode começar a exercer assim que se despedir das pistas. Até lá, ela tem pelo menos mais algumas semanas para sonhar com o que seria o final de carreira perfeito, como contou em entrevista recente, depois de passar os últimos dez anos entre as dez melhores saltadoras do mundo: “quero o estádio cheio, com muita gente torcendo por mim e batendo palma durante o meu salto”. A medalha nem precisa ser de ouro. Fabiana só quer estar no pódio pela última vez.
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