Bolsa cai, mas analistas veem efeitos positivos do ‘Brexit’ para o Brasil
Decisão da saída do Reino Unido da UE faz Ibovespa cair e dólar disparar Especialistas defendem que a longo prazo decisão pode beneficiar a economia brasileira
A decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia, o chamado Brexit, desencadeou um intenso mau humor nos mercados globais que também respingou no Brasil. O dólar comercial chegou a saltar 3,14% contra o real no início desta sexta-feira, a 3,45 reais. No entanto, no fim da manhã, a moeda recuou um pouco e subia 1,25%, vendida a 3,38 reais.
A bolsa de Valores de São Paulo também começou os negócios em forte queda. Às 10h18, o Ibovespa, principal indicador da bolsa paulista, recuava 3,46%, a 49.776 pontos. Apesar da turbulência de curto prazo, analistas acreditam que o mercado brasileiro não deve ser muito afetado nos próximos dias, já que deve continuar dominado pelas questões domésticas e o cenário político.
Embora a libra seja a moeda mais golpeada pelo Brexit, outras moedas latino-americanas também se desvalorizaram nesta sexta. O peso mexicano caiu 3,5% em relação ao dólar e o peso argentino recuou 2,25%.
O referendo apresentou placar apertado de 51,89% contra 48,11% e fez com que o primeiro-ministro britânico David Cameron, defensor da permanência do Reino Unido na UE, renunciasse ao cargo. Investidores temem que a decisão afete os fluxos de investimento em todo o mundo. Para o mercado brasileiro, no entanto, a saída do Reino Unido pode ser positiva, segundo avaliação de alguns especialistas ouvidos pelo EL PAÍS.
“Obviamente teve esse estresse inicial, por conta desse momento de tensão com as bolsas europeias despencando e da incerteza de se outros países poderiam seguir o mesmo caminho. Mas, com o Brexit, os investidores vão querer diversificar, migrar do risco da Europa e buscar mercados emergentes como o Brasil”, explica Pablo Stipanicic, diretor da Corretora Mirae Asset.
Sergio Valle, economista da MB Associados, ressalta que a decisão da saída do Reino Unido do bloco europeu aponta para uma tendência de antiglobalização mundial, de mercados mais fechados e de desaceleração do crescimento mundial. “É ruim para economia global. Porém, o Brasil pode se beneficiar caso siga a trajetória de reformas que começamos agora. Em um mundo anti tudo que vem de fora, se você se torna um país aberto, você começa a ser mais atrativo”, explica.
Na opinião do professor Yann Duzert, da diretoria de Relações Internacionais da FGV, o brexit também permitirá que as empresas brasileiras ganhem mais competitividade para atuar no Reino Unido, que mais isolado, também terá menor poder de barganha ao negociar acordos com o Mercosul. "Podemos dizer que o acesso ao mercado inglês pode se tornar mais negociável para o Brasil".
Em contrapartida, Duzert ressalta que as negociações do Mercosul com uma União Europeia que não contará mais com o Reino Unido podem se complicar. " O bloco sem a Inglaterra fica mais enfraquecido, com um PIB menor, e há um realinhamento de forças com interesses diferentes. Tudo isso pode dificultar negociações entre os dois blocos. A tendência será firmar acordos bilaterais ou regionais", explica.
Em nota, o Banco Central brasileiro destacou que está monitorando os mercados financeiros após o referendo e que, caso necessário, "adotará as medidas adequadas para manter o funcionamento normal dos mercados financeiro e cambial"
Em entrevista a cinco jornais brasileiros na manhã desta sexta-feira, o presidente interino Michel Temer (PMDB) negou que a saída do Reino Unido da União Europeia traga algum impacto imediato ao Brasil. “Não chamo de retrocesso, mas digo que [a saída] quebra a ideia de uma unidade mais acentuada entre os Estados”, afirmou o peemedebista, segundo o jornal O Globo.
Mercosul
Aproveitando o tema blocos de integração entre países, Temer defendeu mudanças em acordos feitos pelo principal bloco do qual o Brasil participa, o Mercosul. A proposta que já vem sendo defendida pelo ministro das Relações Exteriores, José Serra, prevê aumentar a liberdade tributária aos países membros e permitir que cada um possa fazer acordos bilaterais com outras nações, sem a necessidade de incluir todos os participantes do Mercosul – Venezuela, Paraguai, Uruguai e Argentina).
Temer disse, contudo, que nem cogita a possibilidade de o Brasil deixar o bloco econômico. “Sair do Mercosul, não há nenhuma cogitação. Ao contrário, o Brasil foi talvez o promotor do Mercosul. Nós podemos perfeitamente manter o Mercosul, integrando-o, evidentemente, e ao mesmo tempo fazer uma revisão das regras”, afirmou, ainda de acordo com O Globo.
Com informações de Afonso Benites
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