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Coluna
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Lula, um final ainda não escrito

O ex-presidente do Brasil sabe que, mesmo ferido, é a única carta possível para o ressurgimento do Partido dos Trabalhadores

Lula discursa na Paulista nesta sexta.
Lula discursa na Paulista nesta sexta.MIGUEL SCHINCARIOL (AFP)
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Aqueles que conhecem Lula, que se definiu como uma “metamorfose ambulante”, sabem muito bem que quanto mais ele repete que não pensa em voltar, mais se prepara para entrar de novo em jogo. Está até impaciente. Talvez até mesmo espantado de que, nessa hora de escuridão, não o chamem aos gritos.

O ex-sindicalista, que foi considerado o maior presidente que o Brasil já teve e o de maior projeção mundial, sabe que, mesmo ferido, continua sendo a única carta possível para que o Partido dos Trabalhadores (PT) possa renascer das cinzas nas quais foi transformado pelos dois grandes casos de corrupção deste país: o mensalão e o petrolão.

O que o impediria de voltar à arena? Até agora se falou muito do que poderia ser um obstáculo para disputar novas eleições, mas pouco sobre o que realmente necessitaria para isso.

É verdade que nos últimos tempos o hábil político, talvez o que melhor conheça a alma das pessoas comuns, tem acumulado derrotas. Às vezes pessoais, às vezes provocadas pelo PT ou pelo Governo de Dilma Rousseff, sua escolhida.

Mas para ser candidato, bastaria que ele não fosse condenado em primeira e segunda instância, o que, na pior das hipóteses, seria muito difícil de acontecer antes de apresentar sua candidatura.

Mesmo na prisão Lula poderia ser candidato e apresentar-se como um “preso político”. E, nesse caso, o julgamento estaria nas mãos dos eleitores.

O que Lula necessita é demonstrar que ainda tem força política no Senado para salvar Dilma Rousseff. Conquistar uns poucos votos já seria suficiente. Perder essa batalha seria pior politicamente para ele do que ser condenado pela Operação Lava Jato.

Lula precisa, ao mesmo tempo, destronar o presidente interino, Michel Temer. É uma batalha que não pode perder. Se a perder, sim, Dilma ficaria definitivamente encurralada, o Governo Temer se tornaria efetivo; se esse Governo iniciar uma retomada econômica, mesmo pequena; se Temer sair ileso da Lava Jato ou do Supremo Tribunal Eleitoral... seria a pior coisa que poderia acontecer a Lula e ao PT.

Vencidas essas batalhas, Lula teria uma vantagem: a sociedade ainda não identificou um possível candidato que entusiasme, que signifique algo novo no renascimento do país. Existe, ao contrário, o temor de que surja uma solução inesperada e perigosa para a democracia, capaz de capitalizar o desencanto das ruas com os políticos tradicionais, que consideram todos igualmente corruptos.

Aqueles que encaram a volta de Lula como uma ameaça ou como uma solução ultrapassada, sem força num Brasil diferente, não devem se esquecer de que ele mantém um capital de consenso oculto. Não só entre os mais pobres (embora menos do que antes), mas também entre os próprios empresários e banqueiros que, por exemplo, o preferem muito mais que Dilma.

Lula não está morto. Lula quer voltar. Lula sempre pode surpreender. Para isso ele pode, a qualquer momento, se necessário, abandonar ou abraçar aqueles que foram seus amigos ou seus inimigos. Sua fé –se costuma dizer– é mais política do que ética. “Não sou de esquerda nem de direita”, disse ele um dia. Basta-lhe ser Lula.

A força de ser uma metamorfose ambulante, de se sentir herói e vítima ao mesmo tempo, indica um final ainda não escrito.

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