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Para economistas, resultado do PIB reflete o passado e futuro já projeta melhora

Medidas para controlar as contas públicas estimulam retomada de investimentos e reversão do quadro recessivo, segundo analistas

Os dados divulgados sobre a economia do primeiro trimestre nesta quarta funcionam, na visão dos economistas, como um retrovisor. "Os indicadores mostram a realidade do passado. O que importa é que há perspectivas de melhora no cenário à frente", destaca Heron do Carmo, professor de economia da Universidade de São Paulo (USP). Para ele, as medidas de ajuste fiscal anunciadas pela nova equipe econômica trazem indícios de estabilização da economia e podem até minimizar a crise que o país vive já a partir do segundo semestre. Se o mercado aguardava uma queda no PIB semelhante a do ano passado, de 3,8%, agora pode esperar um recuo um pouco menor, de 3,3%. "Já atingimos o fundo do poço. Esta crise está muito associada à queda na expectativa do mercado, que congelou investimentos. A partir do momento que o governo começa a mexer com essa expectativa, é possível que ocorra uma retomada um pouco mais rápida. Para 2017, espera-se um crescimento de 2% no PIB", avalia Carmo.

O economista não descarta incertezas que podem atrapalhar essa possível retomada. As medidas de ajuste anunciadas, por exemplo, dependem demais de aprovação de leis no Congresso. Esse é o caso da proposta de congelamento das despesas do Governo, da desvinculação de receitas da União (DRU) e da reforma da previdência. Mais do que isso: o processo de impeachment ainda não terminou, embora o mercado dê como certo a saída definitiva de Dilma Rousseff da presidência. "Ainda assim, mais importante do que concretizar todos os planos anunciados é simplesmente anunciá-los.  Isso sinaliza que o Governo está preocupado com o controle das contas públicas e já dá o sinal verde para o Banco Central voltar a baixar juros. As consequências disso são redução no custo da dívida pública e incentivo à retomada do crédito e dos investimentos", destaca Carmo.

Com a volta dos investimentos, a tendência é que o desemprego caia e o consumo suba, acompanhado do aumento do rendimento do trabalho. Outro ponto que deve contribuir para reduzir custos de investimento e de consumo é a inflação. Carmo projeta que o índice de preços da economia desacelere até dezembro, encerrando o ano em torno de 7%.

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O efeito desse "ciclo virtuoso", na visão do economista, é a recuperação do PIB e a melhora do resultado primário (diferença entre gastos e arrecadação da União), via aumento de receita de tributos. A projeção do Governo é encerrar 2016 com um déficit primário de 170,5 bilhões nas contas públicas. "Sem crescimento econômico, nada se resolve", pondera.

Sinais de retomada do crescimento já despontam nos últimos indicadores econômicos divulgados, conforme ressalta o economista Armando Castelar Pinheiro, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV). "A inflação vem arrefecendo, a confiança do empresário parou de cair, os estoques da indústria estão menores, o comércio exterior vem se beneficiando do câmbio", diz. Para ele, as medidas anunciadas pelo atual Governo estão "no caminho certo" e refletem um claro descolamento ideológico da gestão anterior. "Antes, o Estado se enxergava como o motor dos investimentos da economia, o que resultou na deterioração fiscal do país. Ainda que o Governo [afastado] mantivesse um discurso de reformas, como a da previdência, nada era feito. Fora que não tinha apoio político para governar", destaca. A falta de base no Congresso, contudo, não justifica a imobilidade diante da gestão orçamentária. "O país entrou em recessão ainda em 2014, quando existia apoio no Congresso", pondera.

O Programa de Parceria de Investimentos (PPI), primeira medida provisória assinada pelo presidente interino Michel Temer, aponta para a "necessária redução" do papel do Estado na economia, na visão de Pinheiro. A palavra "desestatização", inclusive, aparece no próprio texto de descrição da lei. "Isso deve alavancar projetos de infraestrutura no país e o nível de investimentos privados da economia, item que mais tem ancorado o PIB para baixo", afirma.

"Claro que em algum momento o Temer terá de sair do discurso e mostrar que é capaz de aprovar as propostas no Congresso, mas os empresários sabem que não é possível resolver todos os problemas em três meses. Mas o importante é sinalizar para onde queremos ir. Isso por si só já serve para puxar as expectativas e, consequentemente, a economia", complementa Pinheiro.

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